40 minutos.
40 minutos para acabar aquela aula horrível da Renata.
Maldita aula de ciências!
Sinceramente, não sei como ela consegue ser professora. Caso eu siga essa profissão, eu me mato antes de ser aceita pela direção.
Olhei para trás e estalei os dedos – tipo quando a gente faz para chamar o cachorro – para Mandy me notar. E como sempre, estava conversando com a Rô.
Acho que fiquei mais de 5 minutos chamando-a, até que decidi arrancar um pedaço de papel do caderno e fazer uma bolinha para jogar nela.
*onomatopeia de papel sendo jogado*
—Aí! - ela gritou.
Eu parei de olhar para a mesma e nesse momento a sala se virou para ver o que tinha acontecido.
—Algum problema Srta. Amanda? - a professora perguntou, com a voz esganiçada de sempre.
Ela pegou a bolinha de papel e disse:
—Acho que jogaram uma bolinha de papel em mim...
"Não, é uma pedra" - pensei.
—Amanda! - sussurrei
Ela não escutou. Decidi chamar de novo.
—Amanda! - disse um pouco mais alto.
Ok. Dessa vez ela olhou, e a professora também.
—Jogaram uma bolinha em você também, Srta. Maria Eduarda?
Aí droga. Se eu pudesse, jogaria a Amanda do Grand Canyon.
—Não professora, ainda bem né... -respondi com o tom mais cínico possível.
Ela voltou a escrever na lousa e eu joguei outra bolinha com um bilhete dessa vez.
—AMIGO, JÁ SABEMOS QUE O SEU FORTE NÃO É A PONTARIA, ENTÃO LEVANTA SUA BUNDA DA CADEIRA E ENTREGA ESSA BOLINHA PRA PESSOA CERTA! - a garota esbravejou.
—Amanda, é meu! - falei para ela num tom de voz razoável para que ela possa ouvir.
—Ah, é seu Madu!
—Srta. Maria Eduarda, está jogando bolinhas de papel em sua colega de classe?
Droga, Amanda. Droga.
—É. Tô sim. Queria perguntar uma coisa a ela e...
—Então admite que está jogando? - a professora me cortou.
—Professora, acabei de falar isso. Sem ofensas, mas... A senhora está surda?
Ok, me arrependi de ter falado isso. Então olhei pro caderno aberto sob a mesa sem reação e ela disse:
—Levante-se e me acompanhe.
•••
Pow, que saco! Eu disse sem ofensas! Ela não escutou essa parte? Que mulher mais ingrata. É, Renata Ingrata. Eu não podia ganhar outra advertência, já estou sem celular, agora minha mãe vai tirar minha hora de dormir? Minha comida? A minha alma?
—Entre por favor. - A diretora disse ao abrir a porta e desviando os pensamentos do castigo que eu ia receber ao chegar em casa.
Ela me amava. Sem querer me gabar, já me gabando. A Paula é incrível! Ela é um amor. Não tô brincando. É a melhor diretora do universo todo!
—O que aconteceu agora, Srta. Maria Eduarda? - Paula perguntou se sentando a mesa.
—O que aconteceu? Essa aluna me desrespeitou. - Renata disse rapidamente.
—Oi? Eu disse sem ofensas, professora!
—O que aconteceu! - Paulinha disse num tom mais alto.
E Renata explicou a história toda. De novo. Saco.
—Professora Renata. Não irei dar uma advertência a Srta. Maria Eduarda, pois ouve um equívoco.
—Que tipo de equívoco? - Renata Ingrata perguntou.
Nesse momento. Nesse lindo momento, o sinal da saída tocou. Eu queria sair correndo, mas talvez a diretora não deixasse.
—Srta., Pode se retirar. Irei conversar com a professora sobre seus modos e essa sua atitude. - ela deu uma piscadela e abriu a porta.
Eu saí pulando. Pulando mesmo. Nem fiquei para argumentar nada, embora eu quisesse dizer algumas coisas para a Renata.
Encontrei Amanda na porta da sala me esperando. Ao chegar lá, dei um tapa no braço dela.
—Você quase me fez ganhar outra advertência!
—Sério? Desculpa cara! Meu braço tá vermelho! Olha isso! É a marca da sua mão!
—Não Amanda, é do meu pé. - respondi em tom de ironia. – Hein, você... Sabe o motivo de Gabriel não vir hoje?
—Não. Ele nem falou comigo esse weekend. Ele deve estar dormindo ou algo do tipo...
—Hum, estranho. Ele não costuma fazer isso. Vamos, anda! Quero chegar a tempo para o lanche, lá embaixo deve estar um ninho de magafagafos!
–Ãn?
Peguei Mandy pelo braço e descemos escada abaixo.