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Não sei mais como flertar
Meu charme se foi
Eu ganhei um beijo

"Você está interessado em mim Apolo?" Droga. Perto demais, perto demais para que eu tivesse uma saída longe de desastrosa. Não, pular do barco não era uma opção, mas falar que sim também não.

"Por que acha isso?" Minha voz saiu mais aguda do que eu queria, mas pelo menos eu não tinha dito sim quase que automaticamente como antes.

"Você me olha desse jeito embasbacado, eu não sou lerdo." Ele riu. "E bem, você é lindo, então, se stiver interessado em mim vou ficar muito feliz."

Lindo. Pois é, aparentemente Lester Papadopoulos podia ser considerado lindo ou meu caro Paulo estava cego. Como flertar com uma cara cheia de espinhas e um corpo flácido e sem graça? Minha personalidade também não é das melhores segundo alguns, mas era a única coisa pela qual ele podia estar atraído.

"Acho que você está com problemas de vista." Eu franzi as sobrancelhas. "Ou tem padrões muito baixos."

O que eu menos esperava é que ele fosse me beijar. Era o que eu menos esperava, mas, mesmo assim, ele estava me beijando. Meus olhos arregalaram tanto que achei que fossem sair das órbitas, meu rosto devia estar da cor do meu masserati/carruagem do sol. Paulo foi se afastando devagar, seus olhos abrindo pouco a pouco. Eu continuava ali parado com a boca aberta, completamente embasbacado (acho que meu cérebro fritou).

Não estou brincando. Realmente acho que meu cérebro fritou, porque a próxima coisa que me lembro é me jogar nos braços do brasileiro e beijá-lo. O barco voltou a se mexer devido à mudança de equilíbrio e senti um frio na barriga achando que ele fosse virar (claro que não era por causa do beijo).

Ele beijava bem. Delicado, lento e bom. As mãos dele educadamente em minha cintura, como se eu fosse ficar muito ofendido que ele pegasse na minha bunda. Bem, levando em consideração que não era exatamente a minha bunda e os músculos do meu corpo mortal eram flácidos talvez não fosse uma boa ideia.

"Isso foi bom..." Murmurei quando ele se afastou. Os olhos negros focados em minha boca como se considerasse outro beijo.

"Se não tivessemos que voltar ao pavilhão para comer pode apostar que eu continuaria te beijando durante o resto do dia."

Eu ia adorar se ele fizesse isso, mas tinha que tentar parecer difícil. Então, comportadamente e com as pernas nem um pouco bambas, voltei para meu lado do barco. Não estava acreditando que teria que ir numa missão longa e terrível invés de ficar ali no acampamento paquerando.

Voltamos para a margem. Meus braços estavam em chamas, eu queria um relaxante muscular e uma massagem num dos spas do monte Olimpo. Kayla me olhou de forma com cumplicidade quando sentei à mesa do chalé 7 para o almoço. O almoço era spaghetti com almôndegas, o que resultou em 90% do acampamento com bigodes e cavanhaques de molho de tomate. De alguma forma Nico di Angelo havia conseguido sujar o nariz.

Eu era testemunha que Will e Nico eram um dos casais mais fofos do mundo, a TV Hefesto devia transmitir esses dois junto com os animais fofinhos. Meu filho foi o segundo a notar o molho no nariz de Nico (depois de mim é claro) e, como o galanteador natural que era, limpou a sujeira. Qualquer um teria sorte em namorar meus filhos, engole essa Afrodite!

"Então..." Kayla começou, apoiando os cotovelos na mesa e olhando pra mim de maneira curiosa. "Você e o Paulo."

Se qualquer um disser que eu engasguei com o macarrão é uma mentira. Eu fui extremamente calmo e contido. "Você nos viu?"

"Todo o acampamento viu." Ela sorriu, mexendo as sobrancelhas de forma sugestiva. O pai dela costumava fazer aquilo pra me provocar.

"Que ótimo, se eu soubesse que teria platéia não teria ido." Cruzei os braços, franzi as sobrancelhas e fiz bico. Era muita maldade ficar espiando os momentos íntimos dos outros, principalmente porque eu não sabia se viveria pra ter outro desses.

"Teria sim, você está olhando pra ele desde que chegou, não sei como ainda não abriu um buraco." Traição vinda de meu próprio genro, inacreditável.

"Parem de fazer bullying com ele, como se o William aqui não tivesse tido seus momentos de holofote com você Nico." Austin defendeu. "Dou o maior apoio, ele é um cara legal."

"Valeu." Respondi. Era uma palavra nada eloquente para ser dada por um deus como resposta, mas nada mais vinha na minha cabeça.

Voltei a cabine. Deitei e me revirei durante horas. Considerei ir ao chalé de Hipnos pedir ajuda para dormir, mas sabia que não iria adiantar muito. Gruni e levantei da cama, só tive tempo de dar um gritinho quando Calipso chegou, praticamente arrombando a porta. Leo vinha atrás dela com graxa no rosto e cabelo e roupas chamuscados, fumaça subindo lentamente e espalhanfo um cheiro de queimado horrível.

"Acabei!" O elfo latino falou com o maior sorriso que já vi um mortal dar, parecia que realmente ia até as orelhas.

"Podemos juntar os suprimentos e partir em breve." Calipso parecia feliz com a possibilidade de acabar logo a missão e se livrar de mim. "Ficaremos no máximo até amanhã à tarde se tudo correr bem."

Minha cara deve ter sido algo entre "estou com diarréia" e "fui esfaqueado". Calipso ergueuas sobrancelhas e Leo me olhou curioso, como se considerando um possível "bug" no meu sistema nervoso. Quando finalmente consigo passar um tempo com um cara legal eles vem me dizer que a morte certa está a cerca de vinte e quatro horas de distância.

Passei pelos dois e consequentemente pela porta, ignorando suas perguntas (eu, como qualquer deus, tenho uma incrível capacidade de ignorar os mortais). O último lugar onde me procurariam era o bosque de Dodona, era o último lugar onde eu gostaria de estar, mas era minha melhor chance de esconderijo.

Lamentei não estar com meu ukulele mágico assim que lembrei o que guardava o maldito oráculo.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2017 ⏰

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Affair [Um conto de As Provações de Apolo]Onde histórias criam vida. Descubra agora