Capítulo Seis

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20/04 – Quinta-Feira

Sofia veio à cidade esse final de semana. Sim, veio visitar Anna. Foi surpreendente o quanto elas se divertiram nesse feriado. Havia tanta saudade acumulada de ambas as partes que tornaram esses dois dias um dos melhores. Cada segundo foi reconfortante para Anna ao lado da melhor amiga. Mas o problema era exatamente esse; Sofia veio apenas em visita, ou seja, ela não pretende se mudar de volta tão rápido. Anna a perguntou quando que ela iria voltar a morar aqui, porém ficou sem uma resposta. A mãe de Sofia estava melhorando sua depressão de um jeito inacreditável, recebendo apoio de todos os familiares. Sofia não podia voltar. E Anna entendeu isso, mesmo estando com muita saudade.

São quase cinco da tarde. A campainha toca puxando Anna da concentração direcionada aos estudos. "Quem poderia ser uma hora dessas?" Ela pensa descendo as escadas e se surpreende com a resposta. Gabriel parece estar desesperado.

- Aconteceu alguma coisa? – a preocupação era evidente na voz de Anna.

Obviamente aquela era uma pergunta retórica. Claro que aconteceu alguma coisa.

***

Giovana esteve estranha comigo esses últimos dias. Tão avoada, como se seu pensamento estivesse sempre em outra coisa, algo mais importante talvez. Eu resolvi esperar, pensei que se fosse algum problema pessoal ela iria me contar e com certeza eu me esforçaria para ajuda-la. Mas ela não falava nada, nossos momentos juntos foram ficando cada vez mais tediantes e nossos beijos sem paixão, sem graça. Quando eu perguntava a respeito ela sempre mudava de assunto. Eu realmente estava confuso.

Até que Giovanna me mandou uma mensagem hoje mais cedo dizendo que precisava falar comigo urgente, apenas isso. Tentei ligar, porém só dava caixa de mensagens, então fui a casa dela todo preocupado.  Foi aí que aconteceu.

Quando Giovana abriu a porta pareceu meio pensativa, não triste, nem comovida, ou algo assim, só um pouco distraída e até calma. Eu perguntei o que aconteceu, tentei entender, mas além de me tratar com frieza e grosseria, ela só me disse uma coisa. Talvez uma das frases que mais me machucaram.

"Eu quero terminar com você" Essas palavras saíram de uma maneira tão natural e sem sentimentos que juro que pensei que ela estivesse brincando. Não podia ser real, não assim, sem uma explicação. Sem um motivo.

Ela só disse que não me amava mais, aliás, que nunca tinha me amado, só aceitou namorar comigo porque estava entediada e talvez um pouco carente, mas foi apenas uma fase que já passou. "Acabou." Ela disse praticamente me expulsando da casa. 

Tentei procurar em sua expressão algo que mostrasse que estivesse magoada comigo ou arrependimento, mas foi em vão.

Só fui assimilar tudo que aconteceu quando Giovana bateu a porta na minha cara. Aquilo foi como uma facada para mim. Não sabia o que fazer ou aonde ir. Mas havia uma pessoa que me ajudaria, me confortaria. Uma amiga que sempre esteve ao meu lado.

***

- Ela terminou comigo. – Gabriel diz com a cabeça baixa depois de alguns segundos – Terminou comigo como se eu fosse um nada. Eu não entendo, Anna. Porque ela faria algo assim? 

Anna tenta ao máximo consolar Gabriel depois de tudo que ouviu, mas a verdade é que isso foi imprevisível, ela não esperava algo assim acontecer de repente. O silêncio se acomoda na sala em que Anna e Gabriel estão e isso é agoniante, ela se sente inútil por não saber o que dizer. Anna só pensa em uma coisa que pode fazer e que todos gostam em momentos assim; abraça-lo. Ela retira o copo de água de sua mão e o abraça de surpresa sem dizer nada. Gabriel parece gostar e responde ao seu gesto a abraçando com mais intensidade.

"Há abraços que não são para o corpo, são para a alma."

Anna, ainda com os olhos fechados, ouve a porta abrir e se lembra de não ter a trancado quando Gabriel entrou. Aquilo foi um erro. Augusto não gostou nada da cena que acabou de ver. Anna se afasta de Gabriel meio desajeitada e se levanta.

- Não sabia que viria, me surpreendeu – Ela diz se aproximando – Eu não estava te esperando.

- Percebi. Você estava fazendo coisa melhor. – Augusto diz cinicamente ao olhar Anna, porém logo desvia o olhar para Gabriel – O que você está fazendo aqui? – Anna pode perceber a raiva tomar conta de sua voz, aquilo não era bom.

- Cara, não enche. Não estou com paciência para o teu showzinho de ciúmes. – Gabriel diz com calma revirando os olhos sem se preocupar, isso deixa Augusto ainda mais irritado.

- Augusto, por favor. Não foi nada de mais. – Anna tenta entrar no meio dos dois que agora estão se encarando.

- É, Augusto, não foi nada de mais. – a ironia toma conta da voz de Gabriel – Se eu quisesse fazer alguma coisa com Anna, já teria feito. Não sou lerdo como você.

Gabriel realmente estava sem paciência para aquilo tudo, havia passado por muita coisa hoje, só estava estressado e para piorar Augusto aparece causando confusão. Ele só queria calar a boca desse garotinho mimado e arrogante, mas talvez tenha se arrependido do que disse, pois a resposta que levou não foi nada agradável.

Ao perceber que aquilo não acabaria bem, Anna tenta segurar Augusto com o objetivo de defender o amigo, mas ela foi empurrada contra o sofá, segundos depois Gabriel levanta o rosto com o nariz sangrando. Ele pensa em revidar, pensa em várias maneiras diferentes de acabar com a moral de Augusto e quase avança nele, mas antes olha Anna e a vê assustada. Ela não queria isso. Gabriel pensa melhor antes de fazer alguma besteira e vai embora sem dizer nada.

- Gabriel! Espera... – Anna tenta ir atrás do amigo, mas Augusto segura seu pulso ainda com raiva – Me solta! É tudo culpa sua, eu só estava o ajudando. Por que tem que ser tão idiota? Sai da minha casa.

Augusto aperta ainda mais o pulso dela depois de ouvir isso. Anna se assusta, pois nunca o viu dessa forma, com esse olhar. Não parece o garoto que ela conheceu, está diferente, com essa raiva ele seria capaz de fazer qualquer coisa e isso a deixa com medo.

– Está me machucando, para! Augusto me solta... Está me machucando! – Depois de muito esforço Anna consegue se soltar com o braço um pouco vermelho – Qual é o seu problema? Sai daqui!

- O que pensa que eu sou? Acha que pode me enganar assim? Eu não vou sair até você me dar uma explicação. – Augusto puxa Anna com força. – Se ele acha que pode vir dar em cima de você só porque a namoradinha deu um pé na bunda e acabou com a palhaçada, ele está muito enganado.

- Não te devo explicação nenhuma e... – Anna para um pouco para pensar, "Gabriel acabou de sair da casa de Giovana, não deu tempo de ninguém saber ainda" – Como sabe que Giovana terminou com ele? Você foi falar com ela?

- Claro que não, eu... – ele hesita antes de completar a frase, como se pensasse em alguma desculpa – Eu ouvi Giovana gritar com ele e o expulsar de casa, então imaginei que algo teria acontecido.

- Gabriel só veio me pedir um conselho, eu estava o ajudando e você estragou tudo com sua crise de ciúmes, por favor, sai daqui.

- Anna... Tudo bem, eu sinto muito. – Ele abaixa a cabeça com um olhar de arrependimento. – Eu estava errado, me desculpa.

- Eu te disse para sair da minha casa. Você estava me machucando. – os olhos de Anna se enchem de lágrimas quando percebe o pulso latejando de dor, ela nunca imaginaria que seu namorado seria capaz de machuca-la algum dia.

- Eu sei, me perdoa. Isso não vai acontecer de novo. Olha pra mim – Augusto se aproxima devagar – Eu te amo. Eu te amei antes mesmo de te beijar. Sinto muito por tudo isso. Tudo bem?

Anna sabe que não deveria. Não deveria perdoa-lo, não deveria esquecer e fingir que não aconteceu. Ela sabe que isso seria errado. Mas ignora, pois em seguida confirma com a cabeça, em sinal de que estava tudo bem, mesmo não estando. Anna deu uma segunda chance quando descobriu que ele havia mentido, e resolveu dar uma terceira chance agora. Quando isso iria acabar?

"Na primeira vez que me enganar, a culpa será sua, já na segunda vez, a culpa será minha."

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⏰ Última atualização: Jun 22, 2017 ⏰

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