Os primeiros raios do sol entram pelas janelas de meu quarto, estou diante de um espelho esférico. Tenho dezessete anos, sou de uma nação que não se preocupa com as pessoas, tais pessoas são alvejadas o tempo todo por vândalos que mal sabemos quem são ou o que querem. A única preocupação que tenho é com minha família. Nossa nação é dividida em províncias e um Distrito chamado de Oxford que fora desagregado do mapa. Não sabemos à razão.
Nossas províncias são responsáveis por cada produto que suas terras são capazes de produzir ou explorar. Tendo, por exemplo, a província Três que é capaz de explorar petróleo e seus derivados. Somente a Província Um que diferente das demais, é responsável pela justiça, mas é uma justiça que não vemos. Livros antigos- proibidos- mostram que nossos ancestrais não eram diferentes de nós. Eles não tinham justiça isso é o problema que enfrentamos, mas eles tinham esperança. Nós, que somos do século XXV, a esperança está bem longe de ser obtida.
Penteio meus cabelos castanhos claros. Hoje é um belo dia para passear com John pelo vale da nossa província responsável pela extração de minérios. Certa vez, John disse que vira um pequeno diamante em seu caminho, na verdade... Não acreditei muito nessa conversa e passei o tempo todo dizendo "Hmm, interessante!". Bem, nossa província é muito explorada desde que encontraram diamantes em lugares recônditos e depois disso acreditei no que John dissera, mas não acreditei que ele tenha ficado com a pedrinha brilhante. Visto minha pelerine e ponho minhas botas marrons decrépitas. E desço rapidamente às escadas.
Minha mãe, Susan, está arrumando à mesa. Colocando três pratos e talheres. Creio que são para John e para nós. – Bom dia, mãe! – minha voz sai em um som inaudível.
Um largo sorriso aparece em seu rosto lívido. – Bom dia, querida! Dormiu bem? – antes de responder, presto bem em suas feições, na verdade não me pareço em nada com minha mãe. Seus olhos redondos combinam com seu nariz fino e seus cabelos loiros contrastam com a cor de seus olhos. A única coisa que herdei da minha mãe foram os olhos castanhos claros. Muitos amigos de minha mãe, dizem que tenho mais características do meu pai.
Por um segundo esqueço-me da pergunta de minha mãe – Querida, dormiu bem? – ela pergunta novamente, logo trato de responder. – Sim, dormi muito bem! – sorrio e olho o relógio de parede – John ainda não chegou? Estou morrendo de fome. Temos mesmo que esperar ele? – Estou sem paciência e quando vejo aqueles pães, café e entre outras iguarias enchem minha boca d'água.
A campainha toca.
- Eu vou! – saio da mesa e logo sou pega de surpresa pelo abraço de urso de John. Quando o abraço acaba, ele fala com tom brincalhão. – Senhora Miller. Estava com saudades da senhora! – minha mãe dá um sorriso sardônico e fala. – Já sei, já sei! Sua fome está com saudade de mim, John, porque você me viu ontem. – Ela dá uma palmadinha em um dos seus ombros - Entretanto, também estava com saudades de você, seu bobo!
Sua roupa de mineiro não é nada interessante. Preta e larga. Seu rosto possui uns resquícios de fuligem, dou um sorrisinho, que não é de me surpreender. Ele senta-se a mesa, enquanto conversamos sobre o trabalho e às noticias que circulavam na província.
Terminamos o café, minha mãe ajeita a mesa, John e eu seguimos até a sacada do prédio amarelado desgastado pelo tempo. Sento-me em uma cadeira bem velha, ele senta-se na beirada da sacada.
Ele me olha mais do que permitido. Então, como um vento sopra momentaneamente, ele solta. – Quando vamos ao vale?
Pondero a situação. - Quando os guardas estiverem bem longe daqui! Só assim, poderemos ir. Se eles nos pegar entrando naquele vale... – um pensamento adquire formas anormais sobre o que poderia nos acontecer, mas tenho que afastar o mais rápido. – não sei o que acontecerá com nós.
Ele balança a cabeça em concordância.
Somente funcionários responsáveis podem entrar no vale para extrair minerais. Mas, ultimamente pessoas que não estão associadas ao trabalho árduo dos mineiros, entram lá para ver se encontram alimentos frescos nos rios e alguns frutos. Nossa província pode ser rica em minérios, mas o retorno a população é inexistente. Algumas famílias possuem lojinhas que podem sustentar seus familiares – porém, nem todas obtêm lucros pela falta de dinheiro – e aqueles que não possuem nada, vão até o vale conseguir algo para trocar. Minha mãe possui uma lojinha, isso a faz levar algumas coisas necessárias para sobrevivência. John é irmão mais velho de dois. Ele sendo o mais velho, dezenove anos, trabalha na mina. Gostamos de ir ao vale para pegar alguns frutos, ter a liberdade que a natureza nos proporciona porque lá ninguém nos ouve e podemos falar tudo, tudo que não pode chegar aos ouvidos da província Um. Somente os pássaros que nos ouvem. Quando vejo alguns frutos os coloco na bolsa de pano para levar para casa. John caça, então fico lá para aprender suas habilidades. Ele é um rapaz sagaz, por sinal é muito bonito, possui olhos verdes, cabelos no tom de loiro escuro e alto o bastante para eu ser baixinha ao lado dele.
- Então, porque não virmos domingo? Nesse inverno é até melhor. As macieiras estão no ponto para ser colhidas. – ela pausa – Sei... Sei que você ama maças. – ele dá um sorrisinho que logo desaparece.
Penso. Domingo não tenho nada a fazer, somente ir às reuniões que terminam cedo. Nos dias de semana e finais de semana tem o toque de recolher que geralmente é o término da jornada de trabalho de todos, mas eu gosto de vir ao vale para ver a lua nascendo por trás daquelas montanhas que ficam ao longe. Então, algumas vezes quebro as regras. – Claro. Quero ver como andam as coisas por lá. Já que você me ensinou aquele truque da armadilha. Espero que pegue algo que preste. – falo rígida. Ficamos em silêncio por alguns minutos. – Temos que voltar antes do toque, certo?!
John concorda e se vira para ver a pequena cidade que está fantasmagórica com sua neblina, devido ao inverno. – Tenho que ir, Kaya. – ele me abraça e isso é reconfortante.
John despede-se de minha mãe que está em sua cadeira lendo um livro e o café quente ao seu lado. Quando ele sai para trabalhar me sinto triste.
Bocejo - Mãe? – ela tira seus olhos do livro – Vou tirar uma rápida soneca. – Pauso– Se for a loja hoje pode me chamar, eu queria ir com a senhora!
Ela concorda e volta à leitura. Subo as escadas que vão ao meu quarto e me jogo na cama.
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Infinity
Hayran KurguKaya Miller é uma adolescente que não se conforma com as regras de seu país que trata as pessoas com grande desigualdade, isso ocorre porque seu país Island é divido em províncias onde cada província é responsável por tarefas que geram algum tipo d...