Cinco

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Subi as escadinhas da varanda da minha casa, carregando a mochila nas costas.

Com o rosto quente, provavelmente vermelho, por ter corrido do parquinho, do ponto aonde mos encontramos quando chegamos da montanha. Eu atrasei dez minutos ao habitual ao chegar em casa.
Dez mínimos minutos, quase insignificante.

Quase.

-Aonde você estavá?- meu pai perguntou.

Ele já tinha chegado em casa, ele parecia meio irritado por causa do cansaço e do trabalho. Procurei por mamãe com os olhos.

-Estava no parquinho, balançando naquele balanço...Não fica longe, eu vim correndo- expliquei rapidamente, sem nunca encarar seu rosto. Fingindo procurar uma maçã pra comer.

Agarrei uma. E fui direto para o meu quarto.

Fiquei feliz pelo fato de não me perguntarem com quem.

Meu celular estava encima da cômoda criado-mudo, tinha uma mensagem do Daniel.

Ele me mandou oi.

Um oi.

Como se tivesse calado demais, ou tímido demais, ou como se fossemos dois desconhecidos.

Então eu respondi, oi.

E eu podia jurar que ele iria sorrir, e merda, isso acabaria me matando de verdade, já que eu não o vi na escola desde quarta feira, e hoje já era sexta, e eu...Vi Miles, e era como, e é como capítulos diferentes com personagens diferentes um romance, isso me fazia sentir culpada.
Além de me deixar culpada, não por ele, mas por mim mesma.

Mas, quando eu estava com Miles, mesmo que eu não fale muito disso...Eu meio que gostava dele. Não do tipo, eu gosto dele porque ele é um cara legal, mas do tipo, "Droga, o que eu estou fazendo?"

Não esperei uma resposta de Daniel, minha mãe entrou no quarto, parecia exausta, então ela perguntou se eu estava bem. Não parecia feliz, sua voz falhou.

Então, essa foi provavelmente a pior mentira, mais dolorosa tanto pra ela quanto pra mim, e suas palavras foram, exatamente essas

-Eu me preocupo com você.

"Não mãe, você não se preocupa comigo e, eu entendo isso, porque a sua vida é muito complicada além de mim? E eu sou tipo, um peso morto, ninguém precisa se preocupar realmente com um peso morto."

Não, eu não disse isso. Tudo o que fiz foi olhar pra parede atrás dela, porque olhar pra ela diretamente era demais, era como levar vários socos, vários chutes, e no final, era como se ela tivesse me sufocando.

Então eu percebi finalmente que eu não conseguia sentir mais nada.

E que eu precisava fugir. E que um dos meus sonhos mais guardados, desde, três de fevereiro de 2014, esse foi meu único sonho.

Ninguém mais conseguiria tirar isso de mim.

Nem eu conseguiria.

Eu precisava de Miles, ou falar com Daniel.
Mas, eu poderia falar com Lolla também, mesmo que seu novo namorado fosse o centro de suas atenções. É, acho que esqueci de mencionar o fato de que, ela tava finalmente namorando, mas não era com Craig.

O que foi, tipo, como se ela nunca tivesse visto com os mesmos olhos que os meus viam ela e Craig.

Em culpa foi, a Tessa(loira falsa), e sua outra amiga inteligente, porém falsa.

E tudo o que eu quis dizer era"Você desiste fácil, Lolla"

Mesmo que eu soubesse que ela estivesse a tanto tempo sentindo a porra da merda toda(perdoe os palavrões, Otário), a tanto tempo que parecia estar fazendo parte dela, como faz parte de todo mundo, que era provável que isso machucasse as vezes, mesmo que Lolla fosse uma espécie de máquina, e eu fosse a mais dramática sentimental.



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