Diário De Uma Estranha

Seis

Ele me respondeu as meia noite e duas.

Meia noite e duas.

E Lolla estava falando comigo, meus pais estavam dormindo a essa hora, enquanto a tela do meu celular era a única luz que eu via além da luz fraca da sala que chegava pela escada e alcançava um pouco da porta aberta do meu quarto.

Pensamentos em brancos, era a única forma de descrever o que eu pensava. Branco. Como uma tela em branco que eu pintei, uma caixa em branco dentro da tela em branco, dentro da caixa tinha outra tela, com mais outra caixa.
Representava o vazio. O vazio não infinito. Mas o vazio.

Em algum momento eu dormi e não respondi mais ninguém.

Sonhei que estava caindo, caindo, caindo.

E com as ruas, que me lembravam de Paris.

Eu sonhei com as ruas de Paris, e com alguém caindo, mas eu não podia...Eu não sabia quem fosse tal essa pessoa, mas ela parecia tão feliz.

No meu sonho.

Então de alguma forma ela tinha sumido.

Agora são quase que exatamente 19h46, e eu não faço nada agora a não ser escrever pra mim mesma ler, coisas insignificantes, que ninguém leria.

Nem mesmo se você pudesse.

Meu tio mandou dinheiro para minha mãe, hoje foi o aniversário dela, ela sorriu hoje, e ele me mandou uma nota de vinte reais.

Mas minha mãe disse que compraria calça jeans, daquela marca que eu gosto que eu não lembro o nome agora.

Eu pedi um jeans rasgado preta. Provavelmente ela pegaria na promoção.

Chegar na escola continua cada vez mais difícil.

Pensar em como chegar na escola era difícil, talvez tornasse as coisas mais fáceis, mas era só teorias, e não práticas, e não tornava nada tão fácil, e olhar pra todos aqueles rostos, é como se você aceitasse o fato de que"inconscientemente você está mandando todos aqueles se fuderem".

Teríamos prova, e mesmo que a matéria de história e o tema sobre o nazismo na Segunda grande Guerra fosse um dos meus temas preferidos, eu não faria a prova.

Tenho consulta médica marcada, porque eu não quero mais comer, porque eu mencionei o fato de que meus pulmões pesam, e que minha mãe desconfia e me fez confessar que eu choro, muitas noites. Mas eu não choro mais. Desde a semana passada. E é como tentar...lutar contra si mesmo?

Então me disseram que eu precisava de ajuda médica. Mas isso porque não era o que eles pensassem que fosse.

Hoje eu não falei muito, além, de ter parecido na escola, falado o normal, encontrado com Lolla, Daniel faltou.

Então, eu subi a subida que ficava na rua da minha casa, e dei um jeito de passar pelo parquinho, aonde tinha o balanço.

Preciso dizer algo sobre essa subida deprimente feita de lajotas aonde as casas dos vizinhos são de cores bonitas, menos a minha que parece um laranja desbotado, a subida...Era só uma subida.