Elena estava deitada no chão do seu quarto, o braço pousando levemente sobre a própria testa. As lágrimas não paravam de sair, aquele quarto era tão grande quanto a sala em que ela ficara aprisionada até dois dias atrás. Seu corpo inteiro doía, ela não conseguia deixar os olhos abertos por muito tempo sem sentir uma enorme vontade de vomitar.
Ela pegou o cobertor que estava perfeitamente arrumado em cima da cama, se enrolou nele e rastejou para baixo dela. Tirando a cama, tudo era igual àquela sala: havia apenas um pequeno armário em um dos cantos e a única fonte de luz vinha das velas presas nas paredes. Havia apenas uma porta, reforçada com aço por dentro e por fora. Toda a vida dela ela ficava sob o controle dos outros, mais específicamente daquela família.
Os Fieldbelth eram uma família nobre que se estabeleceu na Inglaterra por volta do ano de 1485, logo antes de Henrique Tudor subir ao trono. Aparentemente, no começo, eles eram pequenos comerciantes que enriqueceram graças à Revolução, mas na verdade eles estavam, desde a sua chegada à Inglaterra, completamente envolvidos com magia, tanto que era dito que um dos seus maiores representantes havia feito um pacto com um demônio para conseguir o conhecimento sobre magia necessário para poder subir rapidamente no meio social dos magos.
Atualmente esta família era uma das mais influentes tanto na sociedade normal quanto na dos magos, sendo uma das melhores produtoras de homúnculos de toda a Europa. O método de criação de homúnculos deles era muito eficiente na formação de seres com um enorme reservatório de mana; eles eram produzidos já com uma estrutura corporal de uma mulher adulta; com dois anos de vida elas, já com uma consciência totalmente formada, eram colocados em casas de prostituição. Para se entender como esse método funciona é necessário ter em mente que o ato sexual é um dos meios mais bem sucedidos para a troca de mana, porém essa troca ocorre em baixíssimas quantidades. O organismo desses homúnculos era em grande parte baseado no funcionamento dos organismos dos succubi, assim eles, ou elas, eram capazes de extrair altas quantias de mana dos seus "parceiros" sem a necessidade de dar nada em troca.
Elena era uma dessas homúnculos.
Ela na verdade tinha apenas 4 anos de idade, mas seu corpo era o de uma mulhar de mais de 20. Tinha longos cabelos loiros, lisos como seda. Os seus olhos eram de um azul claro como o mar à noite, de uma beleza inestimável, porém, sofria de uma total cegueira em seu olho direito e por isso sempre usava um tapa-olho.
Com apenas dois anos ela fora colocada no sistema de reserva de mana através de absorção e, duas semanas atrás, quando ela mais uma vez realizava o costume corporal ao qual as homúnculos eram obrigadas a fazer todo mês, ela fora retirada de sua função e enviada para uma das mansões dos Fieldbelth. Aquelas três estigmas vermelhas nas costas da sua mão direita eram a razão disso. Durante o tempo em que ela passara ali, a iniciaram no processo de preparação para que seu corpo baseado num succubus pudesse fornecer mana para o seu servo e para, posteriormente, servir também como o recipiente para a materialização do Santo Graal. Esse processo envolvia a abertura de praticamente todas as partes do corpo dela para a implantação de 20 vezes a sua quantidade de Circuitos Mágicos.
Ela ouviu passos indo até o seu quarto e rapidamente saiu de baixo da cama, soltando o cobertor sobre ela a tempo de se virar para a porta quando Mary Fieldbelth a abriu. Ela podia ter sido uma mulher esplendorosa algum dia, se com algum dia você quer dizer há cerca de 200 anos atrás. Agora ela era uma velha bem decrépita, os cabelos que já foram iguais aos de Elena agora se projetavam como um emaranhado de teias de aranha o mais arrumado possível.
O olhar dela se carregava de desprezo. Elena era apenas um homúnculo qualquer e a senhora odiava ter de contar com ela para poder participar da Sexta Guerra do Santo Graal.
"Me siga", ela disse brevemente, como se não quisesse desperdiçar tempo ou saliva com a menina. Ela se virou e comecou à andar sem esperar pela garota. Por alguma razão a velha tinha feito o seu melhor para se arrumar. Usava um vestido vermelho e um sobretudo de pele de leão albino com uma encharpe branca; dois pequenos lampejos prateados estavam pendurados um em cada orelha dela.
Elena também estava arrumada. Usava um vestido azul-marinho igual a cor dos seus olhos. Ele descia pelas curvas do seu corpo moldado com cuidado. Agora, ele estava marcado com inúmeras linha avermelhadas de dor e sofrimento.
Elas viraram em direção à um corredor que levava para o subterrâneo da mansão. Elena podia sentir a energia daquele lugar quase como conseguiria sentir o cheiro de um peixe podre. Os seus novos Circuitos Mágicos vibravam em alerta, algo horrível havia ocorrido ali embaixo. "Vamos, está na hora", a idosa, apesar de saber o que se passava com Elena, não queria perder tempo.
Elas começaram a descer. Os únicos sons ali eram os dos sapatos das mulheres e os ratos que corriam juntos às paredes totalmente preenchidas com símbolos feitos com sangue. Agora era realmente possível sentir o cheiro de algo. Era o odor de corpos mortos, vários deles.
Quando elas finalmente chegaram à sala no fim do túnel ela pode ver de onde aquilo vinha: dezenas de corpos de outras homúnculos estavam abertos e espalhados pelo grande quarto. Ela sabia por que elas estavam assim, e sabia o por que de os seus Circuitos Mágicos estarem tão agitados, ali estavam as donas originais deles.
No centro da sala um círculo mágico estava desenhado com sangue, assim como os símbolos nas paredes. Elena não conseguia suportar o cheiro, os ratos se alimentavam das entranhas de suas irmãs. Como elas ainda estavam vivas, os roedores estavam compondo uma orquestra de dor, agústia e desespero que se juntava com alguns acórdes de maldições aqui e ali.
No meio do círculo mágico havia um pedaço de pedra esculpida com símbolos gregos. Era um pedaço do altar do Templo de Delfos, esse seria o catalisador a ser usado para a invocação do servo de Elena.
Ela se dirigiu até a rocha, seu estômago ainda se contorcendo. Tomou em sua mão esquerda a pequena adaga de prata que carregava presa à sua coxa e talhou uma fenda na palma da outra mão, derramando o líquido avermelhado que alimentava o seu corpo em cima da rocha. Ela comecou a invocação e todo o círculo brilhou em vermelho.
Quando ela terminou o ritual, uma enorme cortina de fumaça inundou a sala e, quando essa se dissipou, uma figura alta se posicionava dois passos à sua frente.
A armadura dele era dourada, porém o brilho estava opaco, como se estivesse se apagando. Usava um brinco também dourado na orelha direita.
Ele olhava para cima e, lentamente enquanto dava um suspiro profundo, ele fixou a sua atenção na menina.
Seus olhos queimavam em chamas da cor azul safira.
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Fate/Judas
FanfictionEssa é um história que contas os fatos ocorridos na Sexta Guerra no Santo Graal, tendo como obra anterior a Visual Novel e o anime Fate/Stay Night: Unlimited Blade Works, contendo várias referências para que a obra possa ser o mais fiel possível à o...