Mãe e filha...?

13 0 0
                                    

As crianças iam em fila para os seus quartos no orfanato.
Katalina estava novamente sozinha no sótão da construção antiga. Ele ficava acima do quinto andar, o que permitia à garota observar todas as outras meninas enquanto elas brincavam no quintal à tarde através de uma pequena janela circular. Como sempre, ela havia sido excluída.
Aparentemente a família dela era uma família de pessoas completamente loucas que diziam serem capazes de praticar magia. Numa de suas tentativas desesperadas de provar isso eles acabaram por incendiar a sua própria casa, assim vindo a falecer e deixando Katalina sozinha e abandonada.
Era por isso que as outras crianças e até mesmo as freiras do orfanato a ignoravam e mantinham-se longe dela.
Ela sempre se escondia no sótão. Não que alguém fosse procurá-la. Ela se escondia dos olhares, dos sussurros que a todo momento eram direcionados à ela.
A única coisa que ela desejava era ter um amigo, alguém que ela pudesse amar, alguém que a amasse, e era pensando nisso que ela achara aquele caderno ali mesmo, numa caixa do sótão, dois dias atrás. Ele falava sobre uma "Guerra do Santo Graal" que ocorria em uma cidade japonesa de tempos em tempos e sobre como sete magos lutavam entre si para obter um item que realizava qualquer desejo: o Santo Graal.
Juntos ao livro estavam todos os materias necessários para se invocar um servo e assim poder participar da guerra.
Obviamente ela não entedia o fato de que se aquela fosse uma Guerra do Santo Graal normal ela precisaria ir até a cidade de Fuyuki no Japão para poder lutar e receber o Graal, mas o universo estava à favor dela. A Sexta Guerra do Santo Graal ocorreria numa cidade inglesa que ficava à dois quilometros de distância do orfanato.
A verdade é que, se ela tivesse encontrado aquele caderno um ano atrás ou talvez três semanas depois, ela nunca iria participar de Guerra do Santo Graal nenhuma, esse um fato que faria algumas pessoas desacreditadas passarem a crer na influência absoluta do Santo Graal no nosso mundo.
E agora ali estava ela. O terceiro Toque de Recolher do orfanato acabara de tocar, mas Katalina sabia que ninguém se importaria com a ausência dela. O círculo que ela havia desenhado brilhava e a sua mão direita ardia, três marcas vermelhas sendo cravadas em sua pele infantil.
Fumaça encheu a sala. Katalina começou a tossir freneticamente, seus olhos doíam, mas ela se recusava a deixar as lágrimas saírem. Ela estava determinada a aguentar a dor que enchia toda a sua mão.
Quando a fumaça se dissipou o suficiente para que ela conseguisse enxergar algo ela secou os seus olhos embaçados.
Uma mulher estava em pé no centro do círculo. A única lâmpada do cômodo que balançava pendurada no teto parecia ter queimado, o que tornava a luz da lua a única fonte de iluminação no sótão. Katalina começou a tremer.
A mulher vestia um longo vestido branco repleto de detalhes em dourado que parecia um vestido de casamento. Seus braços estavam cobertos por braceletes prateados e em seus dedos haviam vários anéis de todos os tipos, mas o que mais chamava atenção era o anel do terceiro dedo da mão esquerda dela, um anel inteiramente negro com uma joia que brilhava em cinza e branco, como se as nuvens estivessem confinadas naquela pedra. Usava uma coroa prateada que mais parecia uma tiara. Sua pele era pálida e seu rosto carregava uma expressão firme, com seu cabelo castanho cortado rente aos seus ombros. Na escuridão formada no lugar os olhos cor de âmbar pareciam brilhar.
Não, eles brilhavam.
A expressão rígida dela logo se desfez em uma expressão de puro instinto materno quando ela viu a pequena garota sentada no chão com um medo enorme estampado em seu rosto.
"Você...você me incocou?!", a mulher não sabia o que fazer. Katalina acenou com a cabeça, afirmando.
Lágrimas começaram à escorrer pelas bochechas da menina, mas ela não produzia som algum. A mulher se abaixou e abraçou a garota que tremia freneticamente tentando acalmá-la. "Ei, ei. Está tudo bem, está tudo bem. Você pode me chamar de Caster, qual é o seu nome?"
A jovenzinha secou as suas lágrimas e disse com a voz trêmula: "O meu nome é...Katalina...quem é você?"
Caster se afastou um pouco dela sorrindo gentilmente.
"Bom, eu sou uma...deusa, estou aqui por que você me chamou e...eu sei que pode parecer estranho mas...", ela levantou o braço direito da menina. Nas costas da mão dela haviam três estigmas vermelhas. "Agora nós teremos que nos juntar para participar de uma enorme batalha chamada...", antes que Caster terminasse de falar Katalina completou a sua frase, "A Guerra do Santo Graal, eu sei".
Caster se espantou com a expressão de determinação que a garora mantia agora. A deusa ali invocada não era uma guerreira, e nem mesmo pretendia ser uma. Ela era uma mãe até o seu âmago, ela não tinha o papek de tomar algo, mas sim de proteger o que tinha de todas as maneiras que pudesse. Ela observou por um tempo o rosto da menina. Sua face era bem arredondada, tinha um nariz pequeno e grandes olhos castanhos. Ela deu dois passos para a frente, se aproximando de Katalina, que por instinto se afastou, hesitante. Caster continuou indo até a menina, que não teve mais escapatória quando se viu contra a parede do sótão.
Caster estendeu a mão e começou a acariciar os cabelos também castanhos da garota. Ela sorriu delicadamente, acalmando Katalina novamente. "Eu sou sua serva, farei de tudo que puder para te proteger".
A garota se calou, seu queixo caiu de surpresa. Desde os seus cinco anos de idade ela não recebia nenhum único sinal de afeto. A menininha tinha apenas 9 anos e nenhum resquício de amor, era totalmente compreensível que ela se rompesse em choro assim que tivesse uma simples amostra de carinho. Ela chorou, berrou e então abraçou Caster.
A serva só levou um instante para entender o que acontecia ali. Apertou Katalina enquanto ela chorava.
Depois de cerca de cinco minutos a menina se afastou da deusa enxugando as suas lágrimas. Caster se levantou e caminhou em direção à pequena porta do sótão fazendo com que a jovem a seguisse. Quando ela pôs a mão na maçaneta do alçapão Katalina puxou levemente a barra do vestido dela, chamando sua atenção.
Caster olhou para trás. Katalina estava com o rosto virado para o lado, mas ainda mantinha os olhos penetrantes no rosto da mulher à sua frente, agarrando com força o seu macacão por causa do nervosismo. Ela tinha olheiras embaixo dos ohos por causa das lágrimas derramadas e as suas bochechas estavam coradas.
"Ah, eu estava pensando se você não iria querer sair desse orfanato...", Caster disse gentilmente. "Você poderia morar comigo".
Ao ouvir a última frase Katalina se encheu de animação. Abriu um enorme sorriso e afirmou três vezes com a cabeça, dando uma risadinha timida.
"Ei...", a garota disse mais uma vez quando Caster se virou novamente para o alçapão, fazendo com que a serva voltasse a sua atenção para ela novamente.
Ela agora olhava para o chão sorrindo, estava envorgonhada com algo.
"Eu posso...te chamar de mamãe?"

Fate/JudasOnde histórias criam vida. Descubra agora