1 | Acorda bela adormecida!

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Pov. Cait

- Acorda Cait! - alguém disse a uns centímetros perto de mim. Soltei um resmungo e agarrei meu travesseiro, me recusando a abrir os olhos.

- Não mãe, só mais 5 minutos - grunhi com o rosto escondido no travesseiro.

- Acorda Balfe! - A voz soou mais alta e insistente, mas nada me tiraria do conforto dos meus travesseiros e das cobertas quentinhas.

- Vamos Cait, levanta! - mesmo grogue de sono logo reconheci aquela voz e seu sotaque escocês que se nota a quilômetros. Mas o que diabos...? - Balfe, já são 05:15, você está me atrasando. - Sam tirou as cobertas de cima de mim, me deixando exposta ao frio e me puxou pelo braço.

- Hmm, o que é Sam? Me deixe dormir! - Tentei puxar meu braço de volta, sem sucesso, então desisti, voltando a dormir.

- Vamos lá, daqui a pouco o Sol vai aparecer. - Pulou em minha cama e começou a me sacolejar de um lado para o outro. - Anda, você prometeu!

Virei-me para olhá-lo, ou melhor, para fuzilá-lo com os olhos por ter interrompido meu sono e então me levantei, bastante emburrada, e meio trôpega, e segui para o banheiro. Havia apenas uma semana que estávamos na Cidade do Cabo, onde gravaríamos a segunda parte da terceira temporada de Outlander e tudo estava correndo com as mil maravilhas. Todo dia tínhamos uma rotina: Acordar às 8, esperar o carro às 9, para às 9:30 estar no set e gravar. Isso quando não temos que passar a madrugada toda ensaiando e gravando alguma cena noturna. De práxis isso não me incomoda. Eu amo o que faço! Mas acordar às 5 da manhã com um escocês falando no seu ouvido ai já é sacanagem! Ainda mais quando só iríamos gravar depois das 17 horas, ou seja, teria quase metade do dia para descansar e dormir. Mas quando Sam mete algo na cabeça, que Deus nos ajude, ninguém consegue mudar.

Depois de 10 minutos dentro do banheiro, sai e vi o Sr. Fitness sentado encostado na cabeceira da cama com a cara impaciente, porém satisfeito em me acordar em pleno domingo para correr. Eu não sei onde eu estava com a cabeça para aceitar isso.

- Sério Sam? Você não poderia ter levado minha promessa, que foi feita sob auxílio do álcool, na brincadeira? Ou considerado começar amanhã? - Me sentei na beirada da cama para calçar meus tênis. Minha cabeça ainda girava um pouco por conta do álcool ingerido na noite anterior, mas já estava bem acostumada com isso.

­- Vamos lá Balfe, você fica linda pela manhã e eu não poderia perder a mistura de você irritadinha por acordar tão cedo no domingo, poderia? -Ignorando esse comentário continuei bufando, irritada.

- Arrgghhh, eu não quero ir! - Me joguei de costas na cama e cobri meu rosto com as mãos. Sam se levantou e foi até a ponta da cama onde eu estava e puxou meus pés, depois minhas mãos em seguida, me colocando sentada, porém nada disposta, e já segurava meu casaco em frente ao meu rosto.

- Te ajudo com isso. - com sua delicadeza natural, ou seja, nenhuma, ele começou a tentar passar a manga do casaco pelos meus braços enganchando no processo. Por mim ficaríamos assim a vida toda só para não ter que sair, mas isso poderia resultar em um acidente.

- Não, não, deixa que eu me visto. - levantei e passei meus braços por dentro no moletom e fechei o zíper, logo prendendo meu cabelo com uma liga. - Podemos, pelo menos, comer alguma coisa antes de ir? - Agora que eu estava quase 100% acordada, meu corpo estava dando sinais de que também estava acordando e meu estômago já iria reclamar de fome.

- Nada disso. - ele veio em minha direção, segurou meu braço esquerdo e começou a produzir movimentos para alonga-lo, depois fez o mesmo processo com o braço direito, nossos corpos estavam quase colados e caramba, eu realmente estou ficando sem ar? "Para com isso Caitriona", briguei comigo mesma em pensamento. Com seu rosto bem próximo ao meu, Sam deu aquele sorrisinho de lado, que ele sabia que eu odiava.

- Já está tarde, vamos. Café depois, Balfe. - Então me pegou pelo braço e foi me guiando para fora do quarto. Empurrando, literalmente, dando tapinhas em meus ombros para me incentivar.

********

Recuperados daquele pequeno momento, lá fomos nós para uma caminhada. Não sou uma pessoa de exercícios e ainda por cima tão cedo e no frio. Sam parecia no seu habitat natural concentrado em manter os batimentos cardíacos, intercalar passos lentos e depois corridinhas, minhas coxas já estavam queimando e nem fazia 20 minutos que tínhamos começado.

- Podemos conversar enquanto fazemos isso?

- Exercício Balfe! E eu já sei o que você vai dizer e a resposta é não, isso diminui a eficiência do treino. - Sua blusa já estava ensopada de suor e atesta brilhando. Estava frio demais, como ele estava conseguindo suar desse jeito? Voltei a olhar para frente, tropeçando algumas vezes.

- Está bem! Nossa você fica sério fazendo isso.. Mas quanto tempo vamos correr?

- Apenas 2 km. Vou pegar leve já que é seu primeiro dia.

- Leve? Quanto tempo isso vai levar?

­- Se continuarmos conversando, mas do que deveria, agora vamos, arranque.

- Espera! - Ele saiu correndo, me deixando na obrigação de segui-lo, mas minhas pernas não aguentavam mais, só faziam o quê, 30 minutos dessa tortura? Ele é atleta não pode estar falando sério que isso é pegar leve. Depois de gritar mais uma vez para ele me esperar e não ter resultado positivo me obriguei a correr para acabar logo.

Finalmente concluímos a caminhada/corrida e chegamos ao parque, onde tinha um food truck servindo coisas que esfumaçavam. Fui parando aos poucos e respirei fundo, expirando todo o ar pesado, controlando minhas batidas cardíacas.

- Me diga que ali tem café e prometo fazer isso todos os dias. - coloquei as mãos na cintura, sentindo uma dor de veado horrível ali.

- Cuidado com o que promete Cait e sim tem vamos lá. - Passando os braços pelo meu ombro, apertou de leve os mesmos, o que fez doer um pouco, e então nos conduziu até o caminhão.

Já com nossos devidos cafés e uns pãezinhos integrais com gergelim em mãos, sentamos em um banco próximo a um lago. Café é sempre o melhor remédio para curar ressaca, já dizia meu tio. Mas nada como um whisky pra esquentar o corpo num dia frio. O lugar era simplesmente lindo. Como havíamos chegado há apenas uma semana na Cidade do Cabo, não tínhamos tido tempo de conhecer a cidade e como hoje só iremos gravar pela parte da noite, vamos poder desfrutar um pouco do local que será nossa casa por mais 3 meses. O lago à nossa frente era lindo. Havias montanhas por trás dela e o sol já estava começando a aparecer por trás dos picos altos. Era uma vista maravilhosa e por poucos minutos não me arrependi de ter acordado cedo.

- E então o que achou do seu primeiro dia? - ele se virou para jogar seu copo descartável de café no lixo e se virou para mim, roubando minhas torradas. Sam se tornou meu melhor amigo desde que nos conhecemos. Nunca tivemos nenhum problema, mas sei que há algo entre nós, apesar de nunca falarmos realmente sobre o assunto.

- Foi ótimo, amei a parte que a gente senta e toma café. - tentei fazer uma graça por ter demorado tanto a respondê-lo e ele deu uma risadinha, tirando uma mecha do seu cabelo espesso que tinha caído nos olhos.

- Amanhã vai ser melhor prometo. - eu não acreditava nele.

Ontem enquanto desfrutávamos de uma noite de boa conversa, boa comida e boa bebida, Sam queria ir embora e eu queria continuar, pois estava meio alta por conta do álcool. O dia de gravação fora intenso, e eu só queria relaxar um pouco, me divertir, então prometi que se ficássemos um pouco mais eu correria a semana toda com ele pela manhã. E então... bebida vai, bebida vem, muitas risadas, piadas, música alta, voltamos cambaleando para nossos quartos no hotel. Como Sam, mesmo bêbado, sempre foi um cavalheiro, me levou até meu quarto, que ficava a cinco quartos de distância do dele. Na despedida, como de costume, ele sempre me abraça e beija o topo da minha cabeça, uma mania que ele tinha. Seu jeito protetor para comigo. Mas ontem a noite tinha sido diferente. Por reflexo, ele me beijou quase na boca. E não continuamos porque seu celular tinha interrompido. Ele apenas se despediu rapidamente e saiu correndo para seu quarto, no final do corredor.

Mas Ainda bem que ele nem tocou no assunto desse nosso quase beijo. Deve ter pensado como eu, foi só um hábito, o dia foi cheio de cenas com beijos e quando houve o momento da despedida, entramos no automático, não foi nada demais e nos demos conta antes que o ato fosse consumado. Foi nada demais, como eu disse a mim mesma a noite toda. Mais porque eu não paro de pensar nisso?

It's TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora