Primeiro Capítulo

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É uma tarde do verão europeu de 2017. Sentado escrevendo, observo, através da janela, meus irmãos menores, ao  longe, em meio aos arbustos dos jardins e rodeados de babás, brincarem alegremente com três cães. Diferente deles, preferi ficar dentro de casa hoje. Isso porque estou ansioso por causa da viagem que faremos amanhã a Santiago de Compostela, onde ficaremos por uma semana para as comemorações do Dia da Pátria.

Como é sexta-feira, recebi o Primeiro-Ministro para nossa audiência semanal, desta vez acompanhado pelo Ministro das Relações Exteriores para discutirmos a possibilidade de recebermos mais refugiados sírios. Na verdade, esse encontro foi um tanto quanto incomum, pois o Parlamento está em recesso. Tamanha é a urgência do assunto e a pressa do Primeiro-Ministro!

Pois bem, devo falar um pouco sobre mim.

Sou o Rei D. Jorge VII da Galícia. Para mim ainda soa estranho. Eu pensava que meu reinado estivesse muitos anos à frente, porém um trágico acontecimento o fez chegar antes do esperado.

Herdei a coroa de meu pai, o Rei D. Jorge VI, de quem sou primogênito, tendo nascido em 23 de abril de 1998.

Meu nascimento foi um acontecimento sem igual para o Reino. Por dois motivos: por eu ser o primeiro Príncipe Real nascido na Galícia desde 1913 - a Monarquia havia sido deposta em 1937, no reinado de minha trisavó Rainha Da. Ana I, e restaurada em 1994, com meu pai - e pela demora de vir após quase cinco anos do casamento dos meus pais. Comigo estava assegurada a continuidade da dinastia. Graças a São Jorge, padroeiro da Família Real, cujo túmulo minha mãe, a Rainha Da. Maria Carolina, visitou para implorar por um filho. Tanto foi que nasci no dia de São Jorge. A festa foi geral! Três tiros de canhão, disparados do Real Paço do Porto, na baía de Olímpia, capital do Reino, anunciavam que era um menino. O tão esperado menino! Foram dias e dias de celebrações, tanto no palácio quanto entre o povo, culminando no meu batismo, na Capela Real, pelo Bispo D. Caio, apadrinhado por minha avó paterna, a Rainha-Mãe, e por meu avô materno, o Arquiduque Francisco José da Áustria.

Cresci no Real Paço de S. Jorge, uma grandiosa residência multissecular localizada na região central da capital, junto dos meus pais, 5 irmãos menores e cercado por criados e palacianos.

Quando finalmente cheguei à idade de aprender a ler e escrever, a questão foi longamente ponderada e discutida pelos meus pais e pelo Governo. Até que decidiram-se por matricularem-me em uma escola pequena, próxima ao palácio. A diretora, Profa. Inácia, é pedagoga mui renomada, tendo sido dignificada com a Real Ordem de S. Tiago Maior no mesmo ano da minha matrícula. Só poderiam ser alunos quem fosse nobre, filho de político ou de burguês rico. Foi onde conheci dois dos meus amigos mais próximos: Antônio (Tunico), filho e herdeiro do Marquês de Tui, oficial general do Exército galiciano, e Vítor (Vitório), filho do Visconde de Silvosa, comandante da Guarda Real. Ainda Mamãe fez questão de contratar o idoso Prof. Boaventura, respeitadíssimo medievalista e então recém aposentado lente da Real Universidade de Olímpia, também pertencente à Real Ordem de S. Tiago Maior, para complementar a minha educação e dos dois mais velhos dos meus irmãos: os gêmeos João e Paulo. Nada era mais empolgante que suas narrativas sobre os heróis medievais, alguns deles nossos ancestrais. Para o ensino da Religião, escolheram o sereno jesuíta Pe. Roberto, que tolerava pacientemente todas as molecagens dos gêmeos.

Enfim, aos 11 anos, entrei para o Colégio S. José, internato católico tricentenário exclusivo para rapazes. A Casa Real exigiu que meu colega de quarto fosse de boa origem e de minha confiança; por isso colocaram comigo meu amigo Antônio. Apesar do rigor dos frades e de estudar à exaustão, sem dúvida os anos como interno foram os melhores da minha vida. No S. José, aprendi muito, não só conhecimento intelectual e científico, mas principalmente valores morais e cristãos; pude conviver com rapazes extraordinários da Galícia, de Portugal e da Espanha que, pelo próprio caráter e pela formação que tiveram, certamente serão os homens do futuro de seus países.

Logo que me formei, em julho do ano passado, prestei 6 meses de serviço militar no Exército galiciano, no qual era acompanhado de perto pelo Marquês de Tui. Faz parte da preparação de um príncipe ser treinado para combater, pois, na guerra, é ele quem deve estar na linha de frente, para liderar e incentivar suas tropas, disposto a dar a própria vida e sangue por seu povo.

Voltei para Olímpia pouco antes do Natal. Papai me queria junto dele para, depois de ter recebido a devida educação e treinamento militar, ensinar-me a ser rei. Mal sabíamos que meu reinado estava tão próximo.





Um jovem príncipeWhere stories live. Discover now