Página IV

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Seja como o vidro,se quebre,se arrebente,se parta e depois se refaça,vire um mosaico,vire algo muito mais belo e perfeito.
Este dia,como quaisquer outros que tenham passado ultimamente,Frederich veio me visitar,mais tarde do que o comum por causa do número de consultas que teria hoje...Parecia cada dia melhor,talvez por causa se meus conselhos,ou pelo o fato de eu ter cogitado um psiquiatra para ele,não sei dizer,ele lembra só parecia mais vivo,mais presente durante esse tempo,não sou um psicólogo tão bom,mas o que eu mais amo na minha profissão é exatamente isso. Ver a felicidade no rosto de alguém e saber que fui eu que fiz isso,que eu fiz a vida de alguém. Um sorriso de felicidade é algo que eu não posso comprar,e honestamente,fico feliz que não consigo.
Ele me chamou de Ro,nunca recebi este apelido,acho que foi um jeito dele dizer que estava aqui para ficar,quer ser meu amigo provavelmente se for,acho que serei o único amigo dele.
Ele disse assim que chegou no consultório:
  - Bom dia,Ro,está frio hoje,não está?
  - Está sim!Quer um casaco ou algo?
  - Ah,não quero incomodar. Ele disse com uma voz baixinha e quieta.
  - Incomodo seria saber que você está passando frio eu não fiz nada,não se preocupe Frederich.
  - Por que se importa tanto?
  - Porque se eu não fizesse isso,quem faria?Se eu não vivo para agir com bondade,então eu não vivo.
  - ...
  - Existem certas coisas na vida que não podem ser deixadas de lado ou esquecidas. Certas coisas,Frederich,que apenas tem que acontecer.
  - E se não acontecerem?
  - E se acontecerem?
  - ...
  - Isso te faz aprender a viver.
  - Estou morto então,Ro
  - Então renasça.
Dei um casaco que ficava pendurado numa estante no canto do meu consultório,era Marron claro e tinha pelagem na parte perto da gola e manga,era feito de veludo e era bem grande em mim,mas serviu perfeitamente no Frederich,quase nem acreditei.
Ele gostou,colocou o casaco quentinho d macio e deu uma avermelhada.
No final da seção,ele pediu para que pudesse esperar no Hall de entrada,disse que sim,não sabia o porquê,mas concordei.
Após diversas outras pessoas entrando e saindo do meu consultório eu decici ver Frederich no Hall,já era o fim do dia e a minha jornada de trabalho havia acabado,ele devia estar esperando por isso,tanto que ele se levantou e foi falar comigo
Ele disse:
  - Poderia...Poderia me acompanhar até  em casa?
  - Certamente,mas porquê?
  - Porque estão com medo de mim. E eu estou com medo deles...Ele me chamam de esquisito,eu sei que sou,só não quero que tenham medo de mim.
  Dei um suspiro fundo
  - Eu irei,Frederich,não precisa ter medo.
Ele me deu um abraço apertado.
Acompanhei-o até a casa dele,era uma casa praticamente abandonada,por fora tinha a coloração branca gelo,e um pequeno quintal de folhagens secas.
O sobrado era bem mal cuidado,mas para alguém que possui tantos problemas como Frederich,seria quase muito bom.
  - Entre,se quiser
Para não ficar sozinho eu entrei,era bem estranha. Por dentro,a casa tinha um chão de madeira rústica e escura,na frente havia duas escadas e algumas luminárias,a sala era praticamente vazia,apenas um sofá vermelho como uma Televisão antiga e na frente da entrada tinha uma escada que levava aos quarto
Algo me chamava a atenção,subi as escadas,Frederich não me acompanhou.
Fui até alguns dos quartos,um quarto feminino,porque ele teria um quarto de mulher em sua casa?Ele era casado?O que era?
Entrei no quarto de cor rosa claro e florido. Só quis vasculhar,mas acabei pisando em um piso em falso,provavelmente Frederich não entrava nesse quarto,nem pisava lá.
Tirei a madeira do chão,tinha um diário com um nome escrito em branco
Mary Amussen
Ajoelhei no chão de madeira,peguei o diário e soprei para tirar o pó e abri o livro de capa preta e de couro
6 de Abril
Mary.
Desde que sei,este é meu nome,mas não sei quem sou,uso esse papel,pois sou como ele,sou vazia,fraca e sem motivo para existir,ao não ser que alguém me use
John,este nome é o nome que me usou
Que se sentiu minha pele
Me rasgou,como um simples papel
Meu filho...Frederich,não sei o que posso fazer a ele,por ele. Por alguém que não amo,por alguém que odeio
Escrevei minha vida se é que isso pode ser considerado uma vida

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