Capítulo 1

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Inverno.
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  Eu estava parada em frente ao lago, a brisa congelada batia no meu rosto. Eu não tinha mais expressão nenhuma. Você mentiu, você prometeu que seríamos felizes e que nunca teríamos brigas, acho que você deveria aprender o verdadeiro significado de "nunca".
  Não é só um "por enquanto", porque nada daquilo passou.

Não passou.

Eu comecei a caminhar, aquela parte da floresta ainda não estava submersa à neve. Eu caminhava e as imagens de todas as nossas brigas passavam como um filme na minha cabeça. Uma lágrima desceu delicadamente pelo meu rosto, eu deixei ela rolar, aquilo era como por meus sentimentos para fora, mesmo que ainda eles estivessem dentro de mim.

Eles nunca iriam sair.

  Eu cheguei na parte um pouco mais elevada da floresta, uma parte que não tinham muitas árvores, porém o lugar já estava completamente submerso a neve. Aquilo era como eu estava se sentindo - durante toda essa trajetória  - no começo era tudo limpo, verde, e crescia flores por todos os lugares, era tudo vivo; depois era só neve, tudo estava sufocado na neve branca e fria, estava tudo morto.

Acho que aquilo nunca viveu.

  Eu continuei caminhando, minhas botas já estavam cheias de neve. Eu subia, e descia algumas ladeiras. Talvez isso seja os altos e baixos do nosso relacionamento, da vida, nossas brigas e momentos bons. Era necessário tudo aquilo, mas nós já estávamos passando dos limites.

E passamos.

Nós tínhamos um relacionamento bom, era tudo perfeito. Até nós começarmos a brigar muito, estávamos loucos, mas você enlouqueceu antes de mim.

Foi aí que eu cheguei a nossa casa, e então tudo aquilo acabou. Eu não te encontrei lá. Por que? Por que você foi embora. Eu não queria, talvez tenha sido a coisa certa. Mas eu nunca iria te esquecer. Eu estava magoada, mas se você colocasse uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, e levantasse meu rosto para que eu pudesse ver seus olhos, tudo aquilo acabaria. Aquela mágoa iria embora naquele momento. Eu poderia esquecer, mesmo que seria apenas por aquele momento, talvez daquele jeito nós poderíamos encontrar o nosso sempre. Então por que?

Por que você foi embora?

Eu te procurei por toda a casa, todos os cômodos; o jardim onde eu conservava as flores em uma estufa. Procurei na biblioteca, onde você sentava na poltrona e ficava ali por horas em seu mundo mágico dos livros. Eu te procurei! Em todos os lugares, eu te procurei em mim! E descobri que ainda tinha muito de você ali dentro. Então por que?

Estava passando desesperadamente pela sala, onde eu vi a sua carta. Ela tinha sido escrita com delicadeza, com calma. Eu comecei a ler.

"Olá Mary, você deve estar me odiando agora...eu sei. Quero que saiba que eu fui embora porque eu estava louco, não conseguia mais controlar...eu estava vazio.  Não pense que eu esqueci de você, e que agora você vai estar sozinha, não, não pense isso Mary, você é linda e vai ser feliz sem mim. E quando sentir minha falta, feche os olhos, posso estar longe, mas nunca fui embora, quando você cair no sono à noite só lembre que nós deitamos sob as mesmas estrelas. Então Mary você nunca vai esta sozinha. Eu sempre vou estar aí para te abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, que você está viva, e não precisa se preocupar. Vou estar aí para colocar seu cabelo atrás de sua orelha, e levantar seu rosto, para que possa olhar nos meus olhos e sentir tudo. Então Mary pegue um pedaço do meu coração e faça dele todo seu, dessa forma quando estivermos separados você nunca estará só. Você nunca estará sozinha."

  As lágrimas caiam descontroladamente pelo meu rosto, naquele momento eu pude ver todos nossos momentos felizes, pude sentir o seu olhar no meu, pude sentir seu toque, seu abraço. E naquele momento eu não me sentir mais sozinha. Aquela carta foi reconfortante para mim, e para você.

Então eu percebi que você descobriu o verdadeiro significado do "nunca", o problema era eu, eu não tinha aprendido o seu significado, eu não tinha aprendido o seu "nunca".
  Todas as perguntas foram respondidas, o grande problema era eu achar que seu "nunca" era o "sempre".

Mas eu continuei a achar isso.

Não me conformava que você tinha ido embora, não me conformava quando dizia que eu nunca estaria sozinha. Eu me sentia sozinha! E nada podia mudar.

Então eu voltei, voltei para o lago. Cada passo foi refeito, os sentimentos voltaram, a cada pegada, uma lágrima.
Assim eu cheguei, no lago, onde a poucas horas atrás era tudo verde, com flores, e vivo. Mas agora, a neve tinha tomado conta de tudo, estava tudo morto.

Então eu parei de frente para o lago, a brisa congelada batia no meu rosto. Eu não tinha mais expressão nenhuma. Você falou a verdade, mas eu não aceitei.

Eu pulei.

Pulei, e deixei o meu corpo afundar naquele lago com a água tão fria. Eu me sentia só, e a única forma de te encontrar de novo, era me matando. Assim nós iríamos ficar juntos para sempre. E aí, eu nunca estaria sozinha. Eu já tinha pensado em fazer isso muitas vezes, mas nunca tive coragem...acho que eu só queria manter nossa promessa.

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Entre Invernos e PromessasOnde histórias criam vida. Descubra agora