Capítulo 5

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Eu entrei poucas vezes no salão do clã, não gostava muito do lugar era tudo tão branco e imaculado parecia até uma enfermeira. Mas hoje estava diferente o pequeno palco em formato de semi círculo, que ficava na parede ao fundo, que geralmente era usado pelos membros do clã para fazer seus discursos em dias de reunião, agora estava com algumas cadeiras onde músicos que trajavam ternos e vestidos bonitos tocavam uma melodia suave. Tinham duas mesas grandes e outras menores espalhadas pelo salão, as cadeiras eram de madeira escura e estofado vinho, na mesa perto da janela estavam meu pai, três pessoas que eu não reconheci e Akemi, a líder do conselho, ela era uma mulher bem jovem, mas não foi nenhuma surpresa quando assumiu a liderança já que sempre foi a melhor kunoichi do clã. Ela estava com o cabelo firmemente preso em um coque que parecia apertado demais e o vestido que usava era discreto, estava séria como o de costume, acho que nunca vi aquela mulher sorrir. Na outra mesa estavam sete pessoas, obviamente meus pretendentes, todos se levantaram quando me viram, pareciam estar tão nervosos e perdidos quanto eu, passei tanto tempo pensando em como essa experiência seria para mim que em momento algum pensei em como essa noite os afetaria.

Neji segurou minha mão e a apertou bem forte, por mais estranho que pareça estar ao seu lado era muito reconfortante, ele me levou ate a cadeira e depois foi até a outra mesa. Eu me sentei à cabeceira, todos olhavam para mim menos um garoto que estava sentado no outro lado da mesa, ele olhava fixamente para os talheres e pratos perfeitamente alinhados, seu olhar estava perdido, seu cabelo era curto e de um loiro bem claro, quase branco, o nariz era pequeno e estava rosado assim como suas bochechas, eu reconhecia aquilo, ele estava com vergonha. Uma moça de vestido vermelho foi para o centro do palco e começou a cantar uma música que eu não conhecia mas a letra era bem bonita, a sua voz suave preencheu o lugar.

Ninguém falava nada e isso já estava me deixando muito inquieta, acho que se não tivesse nenhuma música tocando o único som que ouviria seriam tamborilares nervosos de dedos e corações batendo a mil.

- Olha eu sei que essa noite vai ser estranha e desconfortável para todos, então acho que deveríamos fazer o possível para tornar tudo mais fácil, porque não começamos com as apresentações? Bom, meu nome é Yasuhiko Fujiwara, eu sou do país da água e tenho vinte e dois anos.

O primeiro a falar alguma coisa foi o garoto sentado a minha esquerda ele tinha uma voz engraçada meio esganiçada, me segurei um pouco para não rir, e a forma como ele disse o sobrenome me deu vontade de socar a cara dele, os Fujiwara eram a nobreza do país da água e tinham a fama de serem egoístas e arrogantes e acho que Yasuhiko não seria a excessão.

- Apresentações são tão desagradáveis, odeio falar de mim mesmo. Mas não podemos fugir disso hoje. Meu nome é Takafumi sou da aldeia da areia.

As apresentações foram interrompidas quando o jantar começou a ser servido e logo voltamos para aquele silêncio desconfortável.

Yasuhiko disse:

- Eu adoro ver como a comida muda com o lugar. A culinária é um traço forte da cultura local. Esta maravilhoso, não acham?

- Sério mesmo que você vai falar sobre a comida? Deus Fujiwara. Você é péssimo puxando assunto.

Quem falou isso foi um menino de cabeça raspada, ele estava com o terno meio amarrotado, dei um risada baixa.

- Pelo menos estou tentando. Quem é você mesmo?

- Meu nome é Kotaro.

Resolvi falar algo.

- Então Kotaro que outros assuntos acha mais adequado?

- Ele poderia ter falado o quanto você esta bonita Hinata.

- Não seja tão clichê.

O menino loiro finalmente saiu do seu mundo e disse algo, ele falou bem baixo e logo em seguida colocou uma quantidade bem generosa de comida na boca. Ouve algumas risadas e as apresentações continuaram. Dois eram da mesma aldeia Akira e Hideki. Hideki era negro e tinha os olhos mais bonitos que já vi, eram cor de mel e muito expressivos, Akira era ruivo e tinha sardas salpicadas por todo o rosto. O menino loiro foi o último a se apresentar. Seu nome era Fuyuki, era do país do trovão, obviamente ninguém queria estar ali, mas ele parecia o mais deslocado de todos. Vi Hanabi e Ayumi chegarem, Hanabi se sentou na mesma mesa que meu pai, mas um lugar permaneceu vazio.

Todos na minha mesa já tinham acabado de comer, mas a festa só estava começando, Yasuhiko me chamou para dançar e como não podia dizer não, fui com ele.

A mulher de vestido vermelho ainda cantava no palco. Assim que Yasuhiko me tocou fiquei nervosa, eu não dançava muito bem e toda aquela proximidade me incomodava, ele falou muitas coisas mas eu não estava prestado atenção, toda oportunidade que tinha olhava para porta, vi de relance alguns dos meninos falando com meu pai e Akemi, assim que a música acabou Kotaro também me chamou para dançar. Fujiwara pareceu não gostar muito.

Kotaro disse:

- Já pode me agradecer.

- Pelo que?

- Por te salvar do idiota do Yasuhiko.

- E se eu disser que estava adorando a companhia dele?

- Eu diria que é uma péssima mentirosa.

Kotaro era engraçado e a conversa parecia não morrer nunca, dançamos duas músicas, adoraria tê-lo conhecido de outra forma, a terceira música já estava começando, mas eu estava um pouco cansada e precisava de ar fresco, estão o dispensei e fui até um dos garçons e peguei uma taça champagne e fui para a sacada. A noite estava linda, a lua cheia e o céu estrelado, nenhuma nuvem para esconder aquela obra de arte, as coisas estavam indo melhores que eu esperava, nenhum dos pretendentes era um velho barrigudo e até que dava para manter uma conversa com eles, mas algo ainda parecia faltar, eu esperei a noite toda por ele mas nenhum sinal. É óbvio que ele não iria aparecer, porque apareceria? Como eu ainda pensava nele? Era tanta burrice.

- Fugindo?

Meu coração bateu mais forte, me virei e fiquei um pouco decepcionada quando percebi que não era quem eu esperava.

- Olá Fuyuki. Só estou tomando um pouco de ar. E você?

- Eu estou fugindo.

Toda aquela sinceridade me chocou um pouco. Ele encostou na parede e olhou para o céu. Estava com um copo na mão o líquido era escuro, talvez whisky. O silêncio entre nós não era do tipo desconfortável e sim acolhedor. Ele não queria falar e nem eu, ele parecia não querer estar ali assim como eu não queria estar. Ficamos alguns minutos assim.

- Quantos desses já tomou?

Perguntei apontando para o copo.

- Não sei direito. Quatro, talvez cinco. Fica mais fácil encarar o mundo depois de umas doses.

- Sabe que parece um alcoólatra falando assim né?

Ele sorriu e covinhas se formaram eu seu rosto.

- Acho que hoje tudo bem a gente beber um pouco, o dia esta sendo bem louco principalmente pra você.

- Você também não parece muito feliz em estar aqui, não falou quase nada durante o jantar.

- Não sou muito de falar quando tem muitas pessoas por perto.

- Eu também não.

A música continuava no salão e agora tocava uma que eu conhecia, era tão linda e quem estava cantando passava todo o sentimento da letra. Coloquei a taça no beiral da sacada, fechei os olhos e senti a música. Podia sentir que Fuyuki me olhava.

- Quer dançar?

Não queria entrar agora, só queria ouvir a música. Me virei e fui em direção do salão, ele segurou meu braço e me puxou para perto.

- Não, vamos ficar aqui mesmo.

Estávamos bem perto, perto demais, sua mão deslizou por minhas costas e eu sentia o meu rosto queimar. Não estávamos nos movendo, eu não conseguia.

- Interrompo?


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