Capítulo 4

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Quatro segundos talvez cinco esse é o tempo que dura a ignorância, aquela total falta de conhecimento de si mesmo e do que está acontecendo no restante do mundo coisa que só acontece quando você acaba de acordar a melhor sensação de todas, durante esses preciosos segundos eu não sou ninguém, não tenho nenhum problema, nenhuma desilusão amorosa eu simplesmente existo, mas como tudo que é bom essa sensação logo passa e uma enxurrada de informações vem a minha mente, principalmente o que tenho que fazer, hoje é o dia que conhecerei meu futuro marido, não vai ser romântico, não vai ser nem um pouco confortável mas tem que ser feito. Me levantei e fui direto para o banho ainda estava com as roupas do dia anterior e o dia seria corrido. Quando sai do banheiro fui até meu armário para ver o tal vestido era fácil reconhecê-lo em meio às minhas roupas, o tirei do cabide, o tecido era leve e macio parecia escorrer por meus dedos, o tom azul turquesa contrastava com minha pele a deixando mais clara, era bonito tinha que reconhecer. Alguém bateu na porta.

Pode entrar.

Era Ayumi com uma bandeja com o café da manhã, ela era o mais próximo que eu tinha de uma mãe, sempre esteve ao meu lado, é a única pessoa que sempre me tratou como igual. Eu amava isso nela e a forma como mesmo sendo dura nas palavras me fazia sentir aceita.

—Primeiro o marido agora a comida, acho que não posso escolher mais nada mesmo.

—Pelo visto acordou de bom humor, está até fazendo piadas.

—Não estou com fome.

Ela colocou a bandeja no criado mudo e se sentou ao meu lado.

—Só quero que esse dia horrível seja menos horrível.

—Sinto muito que tenha que passar por isso Hina.

—Pelo menos o vestido é bonito.

—Sabe azul era a cor preferida da sua mãe. Achei que seria uma forma de fazer você sentir como se ela estivesse aqui.

Ninguém nunca falava da minha mãe, parecia ser um assunto proibido, Ayumi às vezes falava dela, mas apenas pequenas migalhas de informações. Eu me lembro tão pouco dela. Fico imaginando se me deixaria passar por isso, se brigaria por mim, se faria o Conselho mudar de ideia, gosto de pensar que ela estaria sempre do meu lado, me apoiando, amo Ayumi mas ter minha mãe ao meu lado seria incrível, mesmo se ela não pudesse mudar nada sobre a decisão do conselho queria ao menos que estivesse aqui. Eu choraria no seu colo, ela me abraçaria forte e o mundo seria menos assustador. Mas ela se foi e eu tenho que encarar isso sozinha.

—Acha que ela deixaria isso acontecer?

—Sua mãe era uma mulher muito forte, acho que lutaria por você.

Ayumi não me abraça, não me beija, sequer segura minha mão, ela não faz essas coisas, mas ela me olha e não vejo nenhum sinal de pena ali, e isso basta é suficiente para que eu saiba que ela me respeita.

—Você também é forte hinata, só não sabe disso ainda, na verdade você me lembra muito sua mãe, busque essa força e não espere ninguém lutar por você apenas lute por si mesma, o casamento vai acontecer você querendo ou não, é muito injusto, mas tente fazer isso funcionar.

—Eu sei disso, sei que às vezes temos que fazer alguns sacrifícios, o clã é mais importante, mas isso não torna as coisas mais fáceis.

—Tenho que ir, teremos um dia corrido hoje, come alguma coisa. Você ainda tem cabelo, maquiagem e várias outras coisas pra fazer. Eu volto mais tarde.

Fiquei ali sozinha no quarto, olhando para porta e pensando como seria o meu casamento obviamente não haveria amor, mas esperava que no mínimo houvesse respeito, talvez com o tempo nos tornassemos amigos. Será que o meu marido me trairia? Acho que sim e talvez eu nem vá me importar. Ele vai querer ter filhos, crianças que vão saber o tempo todo que não foram geradas do amor, não queria ter filhos dessa forma, um casamento desse tipo tem muitas funções, uma nova aliança com outras aldeias para estreitar os laços políticos, acabar com antigas rivalidades entre clãs, porém o principal é fazer com que o clã perpetue. Gerar novos herdeiros. Isso tudo é ridículo. Enfim lamentar não mudaria nada, comi as coisas que Ayumi trouxe mas tudo parecia sem sabor. Coloquei o vestido de volta no armário e deitei na cama, então ele veio a minha mente, aqueles lindos olhos azuis, como posso amar alguém tanto assim? O amor pode se manifestar de várias formas, e é sempre lindo, geralmente é descrito como fogo às vezes ele é uma pequena centelha, outras um incêndio, nem sempre ele é avassalador como nos livros e filmes mas sempre vai deixar uma marca, eu sempre achei o amor mais parecido com o mar, imenso, poderoso, lindo e assustador para se jogar é preciso coragem e quando finalmente consegue você quer ficar o dia inteiro nadando. Parece que todo dia esse sentimento cresce mais dentro de mim e uma hora acho que vou me afogar nesse amor.

Fui até o jardim, dar uma olhada nas flores, as tulipas floresceram faz pouco tempo então o lugar estava lindo e colorido, um pedacinho do paraíso, o dia estava muito bonito ainda tinha orvalho cobrindo as pétalas e folhas, parecia uma pintura.

— Hinata - A voz séria me despertou dos meus pensamentos.

—Sim pai.

—Ayume já te deixou a par dos horários de hoje? temos que fazer tudo dentro do cronograma, não quero nenhum atraso.

—Não vou me atrasar.

—Então pare de olhar as flores e vá fazer algo de útil.

Como sempre um doce de pessoa, ele se virou e foi andando. Queria saber o que fiz de tão errado para ele me odiar tanto assim, sei que ele me acha fraca mas não acho que seja apenas isso, meu pai é uma incógnita para mim. Mas não vou me preocupar com isso hoje. Até porque não faz mais diferença.

17:45

Ayumi estava concentrada no meu rosto, analisando sua obra, talvez procurando alguma imperfeição, hoje não poderia haver nenhuma e isso estava me deixando mais nervosa do que eu deveria estar. Então ela deu um de seu raros sorrisos.

— Você está tão bonita Hinata.

Ela finalmente me deixou olhar no espelho. Fiquei surpresa com o que vi, parecia outra pessoa. Meus olhos estavam bem destacados, os cílios grandes e volumosos e a linha firme do delineador fizeram o perolado dos meus olhos ficarem mais evidentes, a boca estava com um tom nude. O cabelo com uma longa trança lateral com alguns fios bagunçados e o vestido era a melhor parte, ele era mais bonito do que eu pensava ajustado ao corpo até a altura do joelho e alargava a partir daí marcando as curvas do meu corpo mas sem revelar muito e o decote canoa dava um ar de elegância ao vestido, Ayumi estava certa eu estava linda. Faltavam 15 minutos para o momento que decidiria minha vida, eu estava mais que nervosa, mas tomei a decisão de não deixar mais o mundo me assustar, eu seria forte pelo menos uma vez na vida, eu passaria por isso com graça e elegância mesmo que estivesse morrendo de medo por dentro.

— Vamos Ayumi.

Ela só fez um aceno com a cabeça e se dirigiu até a porta a segui, o jantar seria no salão principal do clã onde as nomeações eram feitas, assim que abri a porta vi Neji ali parado nos esperando. Ele olhou em nossa direção e pareceu um pouco surpreso com o que viu, acho que cheguei a ver suas bochechas corarem, mas com certeza foi só impressão minha. Ele estava muito elegante, com os longos cabelos soltos e usando um terno todo preto de corte clássico, estava sério como sempre, sempre achei Neji muito parecido com meu pai, tivemos alguns desentendimentos na infância mas agora conseguimos nos suportar. Ele estava em missão essa semana e só chegou hoje a tarde como o dia foi tão corrido não tive tempo falar com ele.

—Boa noite Hinata. Vou acompanhar você até o salão.

—Ayumi irá comigo. E não acho que há necessidade de um segurança, sei me cuidar muito bem sozinha.

—Não, sei pai falou que ela irá acompanhar Hanabi essa noite.

Ayumi concordou com a cabeça e voltou para casa, o salão não ficava muito longe da casa, ficava até no mesmo terreno, meu pai sempre achando que sou inútil, não é possível que nem andar eu saiba. Neji andou ao meu lado em silêncio, mas eu podia sentir seu olhar sobre mim. Assim que chegamos ao salão eu parei, meu coração batia tão rápido e tão alto que parecia que iria saltar do meu peito.

—Tudo bem Hinata?

Não, não estou bem, vou casar com um completo estranho porque meu pai é um idiota que acha que sou incapaz, uma inútil, vou viver uma vida vazia e sem amor, a pessoa que amo não sente o mesmo, estou sozinha e com medo. É claro que não estou bem. Pensei, mas tive que engolir cada pensamento, cada palavra fechei os olhos, respirei fundo e simplesmente disse.

—Estou ótima, vamos entrar.

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