Eu ainda não acreditava que estava ali. Não acreditava em como tudo tinha mudado tão bruscamente e tão de repente. Em um momento eu estava prestes a me casar e no outro estava sozinha em um avião viajando para o outro lado do mundo. Olhei pela janela, fiquei por alguns minutos apenas observando as nuvens feito algodão. Eu sabia que pelas horas de voo já devíamos estar chegando. Respirei fundo, sentindo meu coração acelerar com aquele pensamento, pois a partir de agora minha vida seria completamente diferente. Eu não estava deixando apenas o meu país e minha família, mas também a esperança de uma vida que não existiria mais.
Não sei por quanto tempo eu cochilei, mas acordei com o aviso de que iríamos pousar. Apertei meu cinto, acertei minha poltrona e respirei fundo mais uma vez. Sentia um misto de ansiedade com excitação por finalmente ter chegado e o frio na barriga apertou. Olhei pela janela novamente, apesar das nuvens, consegui ver a cidade de Melbourne através delas.
Austrália... Nunca foi minha primeira opção, aliás nas muitas vezes que desejei sair do meu país, a Austrália nem sequer estava na lista. Mas agora, por pelo menos uma ano, aqui seria meu lar. Aqui eu teria uma chance de recomeço. Pelo menos, eu desejava profundamente que isso fosse possível.
Depois que sai do avião, demorei cerca de uma hora entre a retirada da bagagem e a passagem pela migração, e por volta das seis da tarde eu estava entrando em um taxi rumo ao meu novo lar. O trajeto até Lonsdale St, segundo o taxista, durava cerca de trinta minutos, mas como era domingo chegamos até meu endereço em apenas vinte. Quando o táxi parou, demorei algum tempo observando o prédio a minha frente. Eu não estava acostumada a ver construções tão altas. E dali de baixo, observei a sacada do décimo andar e sorri. Se foi um sorriso de alegria ou nervosismo, ou os dois, eu não saberia dizer.
O taxista, muito simpático, se ofereceu para me ajudar a subir as malas. Depois de ter colocado todas elas no quarto, dei a ele uma gorjeta pela ajuda, o que pareceu deixa-lo bastante contente. Agora, sozinha naquele apartamento, caminhei até a sacada. O ar fresco da noite soprou nos meus cabelos, e dali pude observar as luzes da cidade. Uma cidade inteira pra eu desbravar. Bem diferente daquela pequena cidade no interior do Rio de Janeiro onde eu fora criada. Tudo tão novo e assustador. O que eu poderia esperar da minha vida daquele momento em diante eu não fazia ideia. Eu só sabia que estava muito curiosa para descobrir.
Acordei no dia seguinte depois das três da tarde. O cansaço físico da viagem, o cansaço emocional da mudança e o fuso horário estavam empurrando meu corpo contra a cama, me impedindo de acordar. Só decidi me levantar porque minha barriga estava em um protesto violento contra mim por tê-la deixado tanto tempo sem comida. Obviamente minha geladeira estava absolutamente vazia, então assim que dei um jeito no meu cabelo e troquei a roupa, fui ligar meu notebook para procurar o mercado mais próximo. Achei o Cole Supermarket a apenas dez minutos de casa, então logo peguei meu celular para chamar o taxi.
Pouco tempo depois eu estava pegando o elevador. As portas já estavam se fechando quando ouvi alguém gritando e correndo em minha direção, então coloquei a mão entre elas, para que não se fechassem. Uma garota entrou no elevador, ainda ofegante pela pequena corrida e me agradeceu sorrindo.
- Obrigada! – ela disse agora ajeitando melhor os cabelos e a roupa – Eu tenho sérios problemas com o relógio. – ela falou agora desviando os olhos de mim para se virar contra o espelho.
- Pode acreditar, te entendo perfeitamente. – falei sorrindo também. Assim que ouviu minha voz, a garota se virou para mim com um ar desconfiado.
- Você não é daqui é? Quero dizer, não é australiana. – ela falou parecendo curiosa e eu sorri timidamente antes de responder.
- Não... brasileira! – ao ouvir minha resposta ela sorriu satisfeita por ter percebido.
- Eu sabia que reconhecia esse sotaque. Já visitei o Brasil uma vez, e não me esqueço daquele sotaque no meu ouvido durante aquelas noites loucas! – ela falou agora rindo e eu a acompanhei. Podia imaginar do que ela estava falando.
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De Repente Austrália
RomanceAna foi traída. O que era pra ser um futuro feliz se desfez. Agora ela busca um novo rumo e embarca em uma jornada que a leva a paradisíaca Austrália. O que Ana não poderia imaginar era que a vida lhe reservara algo tão intenso e arrebatador que qu...