Capítulo 3

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Passava um pouco das dez da manhã. Ruby estava sentada na minha cama mexendo os dedos freneticamente no celular. Encarei rapidamente a mochila aberta a minha frente para verificar se tinha colocado todos os itens que eu iria precisar para um dia na praia.

- Ana, falei para o pessoal que nos encontraríamos as 10:40 em frente ao Luna Park, tudo bem? – Ruby falou levantando brevemente o olhar da tela do celular para verificar minha resposta.

- Claro que sim, já estou quase acabando. – falei caminhando em direção ao banheiro – Vou só pegar meu protetor e um creme para o cabelo. – gritei de longe.

O dia estava ensolarado, e no céu havia poucas nuvens. Ruby dirigia tranquilamente por entre as ruas da cidade. No som tocava Rockabye e nós cantarolávamos loucamente dentro do carro. A praia de St. Kilda, a mais famosa de Melbourne, ficava a cerca de vinte minutos do apartamento, então não demoramos muito a chegar, mas perdemos algum tempo procurando um local para estacionar. Quase 10 minutos depois nos aproximamos do local marcado. Logo que nos viu uma garota alta de traços orientais veio sorrindo em nossa direção, acompanhada de mais dois rapazes. Ruby nos apresentou, a garota era Misuki, uma japonesa que morava há dez anos na Austrália. Com ela estavam Mike e Peter. O primeiro era estiloso e extravagante, e o segundo tinha a pele morena e lindos cabelos cacheados. Era um grupo incomum. Segundo Ruby, todos estavam no último ano.

Demoramos pouco tempo ali com as apresentações e logo fomos caminhando em direção à praia. Assim que chegamos na areia, coloquei meus pés sobre ela e senti que havia me desligado de todos ao meu redor. O clima quente, o barulho das ondas quebrando, o sol no meu rosto e o azul infinito do mar a minha frente me fizeram lembrar de casa. Do meu país. E fez eu me recordar de alguém que eu não deveria. Fechei os olhos e tentei esvaziar a minha mente. Eu não queria pensar, queria apenas sentir. Queria apenas aproveitar aquele momento. A brisa do mar soprava meu rosto e meus cabelos balançavam livres ao vento. Nada mais importava a não ser o que eu estava vivendo naquele exato instante.

- Ana! – abri meus olhos quando Ruby me chamou. Ela sorria divertida – Vamos arrumar um lugar pra ficar certo? – sacudi a cabeça positivamente e nós caminhamos pela areia.

Esticamos nossas toalhas na metade do caminho entre o calçadão e o mar. Todos nós começamos a nos despir e, depois de passarmos protetor solar, nos esticamos juntos ao sol. Depois de alguns minutos ali, Peter resolveu entrar na água e Ruby resolveu o acompanhar.

- Você vem Ana? – ela perguntou enquanto ficava de pé – Talvez você estranhe um pouco a temperatura da água. Não é tão agradável como no seu país. – ela falou sorrindo, mas eu já estava me levantando para acompanhá-los.

- Eu vou morrer congelada? – falei divertida.

-Acho que não. Talvez uma leve hipotermia, mas você sobreviverá. – ela falou debochada.

- Além disso, se o frio não a matar as águas-vivas podem fazer isso. – Mike falou me encarando com seus chamativos óculos escuros e riu.

- Isso é sério? – agora sim eu arregalei meus olhos e pensei seriamente em mudar de ideia. Ruby revirou os olhos rindo.

- Nem é tão frequente assim. Ou pelo menos a gente nunca morreu disso. Vamos lá! – ela disse me puxando pelo braço em direção ao mar.

O dia estava maravilhoso. Tempo bom, mar tranquilo, companhias divertidas. Eu não me lembrava a última vez que tinha me sentindo tão livre, tão despreocupada com a vida.

Depois daquele primeiro banho de mar, decidimos ir comer algo em um quiosque próximo ao local onde estávamos. Ficamos um bom tempo ali, comendo, bebendo, conversando e, quando eram quase duas da tarde voltamos para praia. Mais uma vez as horas pareceram voar, em meio a conversas, risadas e banhos de mar.

De Repente AustráliaOnde histórias criam vida. Descubra agora