Sofie

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"Menina linda eu quero morar na sua rua"

- Só os loucos sabem

 A mulher ao meu lado estava me deixando maluco. Essa era a maior verdade da minha vida. Eu sempre fui aquele que quis fugir no primeiro sinal de que a coisa estava ficando séria. Sempre fui o responsável por sair de fininho depois de uma noite agradável. Mas com Sofie, as coisas nunca tinham sido apenas agradáveis.

Desde o primeiro dia essa mulher havia me desafiado. Ela nunca havia me deixado acomodar. As novidades vinham com uma frequência que às vezes era impossível de acompanhar.

Fazia seis meses que estávamos nos escondendo do mundo. Revezando entre a minha cama em Leverkusen e a dela em Dortmund. Nossos amigos a conheciam, claro. Ela havia ido no chá de bebê da Elena e aparecido sem ser convidada na despedida de solteiro do Kevin. Ah, como aquela noite havia sido um divisor de águas.

Sofie era uma das mulheres mais decidida que eu já conhecera. Quando ela tinha um foco, nada mudaria este. Nada conseguiria fazê-la mudar de ideia. A garota também tinha uma habilidade de argumentação que me deixava intrigado. Ninguém nunca havia me vencido antes, mas, ela, com sua covinha na bochecha esquerda e seu sorriso de menina levada, havia conseguido.

Seis meses. Para meu histórico de não relacionamentos isso era uma eternidade. Seis meses que a única boca que eu havia beijado era a dela. E, cada vez que a beijava, parecia ser o primeiro beijo. E também o melhor que já havia experimentado.

Me sentia idiota pensar todas essas coisas da mulher que dormia serenamente ao meu lado. Mas ela fazia isso comigo. De alguma forma, a praga de Sven havia pegado e agora Sofie havia tomado conta de cada pedacinho do meu corpo.

Me levantei da cama evitando me mexer muito. Vesti uma calça de moletom e fui para a cozinha, não sem antes observar a garota nua na minha cama. Estava na hora de mandar a porra do medo pra puta que pariu.

A cafeteira fazia algum barulho e o cheiro de café começava a preencher a cozinha. Pães e pretzels do dia anterior estavam requentados em cima da mesa, ao lado de uma vasilha com morangos e chantilly. Sabia que era a fruta favorita de Sofie. Não vou mentir que perceber que eu sabia esses detalhes sobre ela me assustava.

Saber detalhes sobre qualquer pessoa era algo estranho para mim. Parecia meio egoísta dizer isso, mas o caso era que nunca havia prestado atenção. Mas nela, cada detalhezinho parecia importante. E eu realmente estava virando um idiota igualzinho meu irmão. Já conseguia até escutar as risadas dele quando contasse.

- Porque você está dançando enquanto frita bacons? Não que eu esteja reclamando da minha visão privilegiada da sua bunda...

Eu ri enquanto desligava o fogo e me virava para colocar a frigideira na mesa. Mas tive que parar no meio da cozinha para observar a mulher que estava encostada na minha parede.

Sofie vestia a calcinha da noite anterior e uma blusa social minha que estava aberta mostrando a curva dos seus seios. Ela estava com os braços cruzados e seu cabelo claro caía em cascata pelo seu ombro esquerdo. Seus olhos azuis me olhavam como se estivessem me desafiando e o sorriso nos seus lábios guardavam as próximas palavras destinadas a me atiçar.

Mas não dei tempo para que ela as pronunciasse.

Deixei a frigideira na mesa e seguei seu rosto em minhas mãos, juntando nossos lábios em um beijo terno, carinhoso e demorado.

- Bom dia. - Mordi meu lábio inferior em um meio sorriso sem me afastar demais.

- Bom dia. O que deu em você hoje?

- Nada. Ou tudo. - Desci uma de minhas mãos para sua cintura e com a outra comecei a brincar com os seus cabelos grudados na nuca.

- Você está estranho Lars. Mas estranho de um jeito bom.

- Existe uma forma boa de ser estranho?

- Existe. E eu acho que você preenche todos os quesitos dela.

Sofie passou os braços pelo meu pescoço e fui sua vez de me beijar. Dessa vez, ela fez com que o ritmo aumentasse me animando um pouco mais do que estava esperando para aquela manhã. Não que eu iria reclamar.

- O bacon vai esfriar.

- Você está preocupado com o bacon? - Ela riu contra meus lábios.

- Deixe que ele esfrie.

Puxei suas pernas contra minha cintura e a carreguei até a bancada da cozinha. Não nos importamos que a janela da sala estava aberta e os vizinhos poderiam apreciar esse show gratuito. Naquele momento, tudo que eu queria era Sofie Strauss. E tudo que ela queria era eu.

- O café da manhã foi melhor do que imaginava.

O sorriso de quem havia aprontado não saia do seu rosto. Já que minha ideia de café da manhã havia sido interrompida por outras coisas mais interessantes do que bacon, resolvi que fazia sentido leva-la para almoçar.

Era um domingo de Junho e tínhamos o dia inteiro apenas para nós dois. A ideia original era passarmos o dia em casa, mas o calor pedia uma volta no parque pós almoço. O Neuland-Park estava lotado como imaginei que estaria. Coloquei um boné e um óculos escuro para diminuir as chances de ser reconhecido, mas, se fosse, isso não atrapalharia meus planos.

- Eu sempre gostei desse parque. - Sofie me tirou dos meus pensamentos.

- Sério? Não sabia que tinha algo que você gostava em Leverkusen.

- Além de você?

Parei me virando de frene para ela.

- Então quer dizer que você gosta de mim?

Ela deu de ombros e o olhar desafiador voltou ao seu rosto.

- Talvez eu goste um pouquinho do sexo.

- É? O que mais?

- Talvez eu goste um pouquinho de você, Lars Bender.

- É? O suficiente para aceitar ser minha namorada?

Sofie congelou no momento que eu disse aquelas palavras. O tradicional sorriso travesso havia sido substituído por uma expressão séria. Nunca tinha visto esta versão dela.

- O que?

A puxei para mais perto de mim e sussurrei aquelas palavras que estavam presas na minha garganta desde o momento que havia acordado.

- Sofie Strauss, você aceita ser minha namorada?

Ela juntou nossos lábios e interpretei aquilo como um "sim" silencioso. Sofie nem sempre admitia as coisas verbalmente, ela era mais do tipo de tomar atitudes cheias de significados. E aquele beijo era uma dessas.

Sofie era a mulher mais diferente que eu já havia conhecido na vida. Ela era decidida, emprenhada e teimosa. E agora ela era minha namorada.

Tão estranho dizer que Lars Bender tinha uma namorada. Mas eu tinha. E não pretendia deixar ela ir embora.

Mein Kapitän | Lars BenderOnde histórias criam vida. Descubra agora