Rio de janeiro
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23 de maio de 2015.
07:42 a.m
----------Bem-vindos ao ônibus lotado do subúrbio do Rio de Janeiro, onde você se encontra dentro de uma lata de sardinha e sente a bela fragrância de suor a base de perfume Malbeck. Mas deixando isso de lado, ganhei uma bolsa de estudos para o curso de Áudio Visual em Atlanta e não iria perder essa oportunidade.
Fiquei a noite toda acordada por estar nervosa e muito ansiosa para a entrevista do visto. Era uma das últimas coisas que faltavam antes de embarcar num avião daqui há 4 meses.
Talvez eu esteja nervosa por estar revisando meus documentos a cada cinco minutos dentro da minha mochila? Provavelmente, pois eu não duvidava da minha capacidade de esquecer as coisas.
Em alguns momentos sentada no banco eu ensaiava uma conversa em inglês na cabeça, para não me esquecer de regras básicas e simples da língua.
Não é possível que em 10 meses de aulas e tentativas vergonhosas de falar com algum gringo nas idas ao calçadão de Copacabana iriam falhar miseravelmente. Ok, acho que sim, mas não tanto quanto seria se eu não tivesse estudado.
Minhas mãos se encontram suando e enquanto olho da janela do ônibus a vista da avenida lotada de carros, paro pra pensar que eu não tive tanto apoio pra chegar onde cheguei agora. Pode parecer pouco pelo o que ainda vem pela frente, mas pela primeira vez em meses a sensação de estar sozinha nunca me bateu tão forte, como está batendo agora.
Isso é porque ainda não estou dentro de um avião e tento imaginar como vai ser a sensação quando eu estiver.
Lembro de olhar atentamente para os aviões em cima da laje de casa quando criança, imaginado quantas coisas eu poderia viver quando crescesse se eu tivesse dinheiro pra rodar o mundo. Em quantas pessoas, lugares e culturas incríveis espalhadas por aí iria conhecer. E que eu só seria capaz de ver se estivesse em avião que sobrevoava o céu da minha casa.
O universo não colaborou com isso quando meu pai sofreu um severo acidente de carro, o mesmo ficou paraplégico por alguns anos e como ele era o único trabalhava na casa, minha família quase passou fome quando pequena. A sorte foi meu avô quando veio ao rio. Quando ele chegou, o que estava sendo um inferno nas nossas vidas logo se tornou algo leve e fácil de suportar. Sua ajuda não foi completamente financeira, mas o suporte dele foi o suficiente pra nos ajudar enquanto meu pai estava aprendendo a andar novamente.
Eu queria poder agradecê-lo de alguma forma, mas não é mais possível. Ele se foi há 5 meses e foi o único que realmente pulou comigo quando a carta de aceitação e a aprovação da bolsa da faculdade chegaram. Ele sempre repetia a mesma frase pra mim quando eu começava a me perguntar se devia desistir: "O mundo é grande demais pra você se acomodar e sonhar tão pequeno."
Grande demais... Ele nunca esteve tão certo.
Estou cansada demais de olhar para a janela do quarto e ficar indignada com tão pouca coisa que a cidade onde moro tem para oferecer. Quão pouco é ter que lutar durante 4 anos fazendo uma faculdade por aqui e não ter a certeza de que vai conseguir trabalhar na profissão que você se formou. Eu realmente tenho orgulho de onde vim, mas tenho plena consciência de que não vou conseguir nada aqui, de que isso é tudo muito pouco pra mim.
Eu tenho total certeza que um dia quero estar no tapete vermelho do Oscar, com um filme meu concorrendo a várias indicações e eu mesma ganhando a categoria de melhor diretora. Agradecendo a mim mesma por ter chegado tão longe.
Pensar assim me faz pensar que isso é loucura quando se está no ônibus lotado, mas não me importava mais. Já escutei demais dos meus parentes que fiquei louca e talvez eu esteja mais que confortável com a idéia de que realmente sou assim.
E também já pensei demais pois percebo que já quase passei do meu ponto.
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Apenas Muito Diferentes
Teen FictionPara grandes sonhos são feitos grandes sacrifícios e para grandes mentes se exigem enormes loucuras. Se coloque no lugar da jovem brasileira Agatha Izabel, uma garota nascida na baixada do Rio de Janeiro, que viveu com enormes dificuldades em tod...