Ao Autor

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Neste livro é contada a história de Lilith, a primeira companheira bíblica de Adão,
cujos traços a consciência coletiva apagou, distraidamente, no tempo incomensurável em que
se representa a história do homem.
É a história de um incubo, de um sonho, ou então é a história da mais inquietante
imagem derivada do arquétipo da Grande Mãe. Em todas as épocas o homem interroga a Lua;
chegou mesmo a tocá-la com as mãos. Não obstante, não desvendou, para si mesmo, o
mistério inconsciente, incluído em figurações e mitos que em certas épocas fazem-lhe apelo
— do interior — com seu fascínio e com uma mensagem obscura que, seguramente, fala da
alma e da carne, do amor e da morte. Isto porque fala da mulher.
Lilith, a Lua Negra, é o céu vazio e tenebroso no qual se projetam indagações e
possíveis respostas de um diálogo que não tem nada a ver com o racional e, muito menos,
com o sistemático-clínico: é o diálogo que o homem entretém com a própria alma, vivida em
sua totalidade, ou numa cisão-dolorosa.
É uma fantasia, um trabalho de imaginação ardente, que o autor lhes apresenta sem, de
nenhum modo, propor regras de leitura. Pode-se perceber que uma longa análise junguiana
ensina, com surpreendente simplicidade, a transformar uma neurose, inteiramente vivida na
dimensão sulfúrea da classificação nosográfica, numa enfermidade "criativa" onde a
imaginação recupera seu próprio espaço e instaura sua festa.
Assim, uma reflexão sobre o "feminino", sobre o instintivo, sobre as remoções e as
cisões do arquétipo da anima, pode ser empreendida por um caminho que, embora não
previsível, está bem distante da ars medica que quer encerrar novamente o imaginal
naquela dimensão positivista-racional, apertada, da qual tanto nos custou poder sair.
O texto só pretende narrar, restituir imagens, solicitar emoções. Deseja testemunhar
uma viagem pelo inconsciente pessoal e coletivo através de várias épocas. Não há nenhuma
resposta e nenhuma necessidade de verificação.
Evocada, Lilith está aqui, em sua realidade de Sombra. E interroga cada um de nós.
R.S.

Lilith - A Lua Negra Onde histórias criam vida. Descubra agora