LILITH NA TRADIÇÃO SUMÉRIO-ACADIANA

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São escassas as fontes que mencionam o nome Liiith. É certa a raiz suméria LIL que
aparece na formação do nome de várias divindades assírio-babilônicas e de espíritos maus,
por exemplo Enlil, Ninhil, Mulil, Anlil.
Na tradição sumério-acadiana se conhece um deus Lillu que literalmente significa
"parvo", irmão de Egime, a "princesa dos me", do qual se tem poucas notícias.38 Na liturgia
acadiana e mesopotâmica se apresentam — como citaremos adiante — preces e esconjuros
apresentando os nomes de Lilitu, Lilu, como figuras malignas de demónios e potências
malignas. Em 2000 a.C. parece que o nome se transformou em Lillake; a propósito, Graves
cita uma tabuleta sumérica de Ur que conta a história de "Gilgamesh e o salgueiro".

Aqui, Lillake seria, também ela, uma figura feminina demoníaca que habita dentro do
tronco de um salgueiro, que era religiosamente guardado pela deusa Inanna, a Senhora do
Céu, equivalente à nossa Vénus, deusa do amor e da guerra, análoga a Ishtar. Há uma
etimologia hebraica difundida que fazia derivar o nome da bíblica Liiith de "Layl" ou ainda
"Laylah", ou seja, "noite" no significado de espírito da noite.
Mas os autores modernos tendem a ligá-lo à sumérica "Lulu", que significa
"libertinagem". Liiith seria, pois, um verdadeiro demónio noturno que excita a volúpia.3'
Como veremos, o nome sofre profundas transformações, mas passa conceitualmente
para o mundo grego mediado pelas Lâmias,
38. Testi Sumerici e Accadia, org. de G. Castellino, U.T.E.T., Torino, p. 325.
39. Cohen, A., II Talmud, Ed. Forni, 1935.
41as Erínies, Hécate ou Empusa, ou seja, sempre como nome de demónios femininos
ou entidades maléficas.
Já no panteão assírio-babilônico das inumeráveis divindades inferiores, como
anteriormente na época sumério-acadiana, Lilith era vista como demónio feminino, um génio
do mal.
Lilith-Lilitu-Lulu é a variável do demoníaco na área hebraica do Oriente Médio,
expressão da paixão turva da sexualidade desenfreada que pode insidiar e submeter o homem.
Aquilo que se afastava da Torah era quase sempre expressão do demónio.
Lilith aparece já na época sumérica representada em um baixo-relevo (ver ilustração
na capa) que achamos reproduzido no texto de E. Neumann.40 Trata-se de uma figura híbrida
disposta em pé, frontalmente, que mantém os braços abertos, os cotovelos dobrados em
direção aos flancos, em ato de oração, as mãos abertas, dedos unidos.
O vulto tem uma evidente conformação rotunda, olhos grandes bem delineados e nariz
regular. A boca está disposta em um grande sorriso, com um frémito imperativo, de
provocação sensual; toda a expressão faz pressagiar a modalidade plástica grega arcaica:
impenetrável, severa, potente e inefável.
O penteado dos cabelos é impressionante, segundo o esquema mesopotâmico ou proto-
assírio: da nuca partem quatro serpentes sobrepostas formando um cone, cujas cabeças,
erguidas em evidente posição fálica, convergem à maneira de um repartido.
A sitnbologia recorda a Kundalini emergente na realização total, como também as
figuras gorgônidas. Das costas de Lilith descem, abertas em ângulo reto, duas asas esculpidas
com exatidão. A energia humana parece concentrada precisamente nas costas e no peito, onde
os seios se protendem amplos e muito redondos com evidente, sombria função sedutora.
Junto ao vulto, são estes traços que conferem à figura uma notável qualidade lunar.
O corpo é robusto, muito feminino até a ampla bacia e o púbis.
As pernas, que pouco a pouco se adelgaçam em direção aos joelhos, perdem a
plasticidade feminina e se fazem animalescas, potentes; antes que pés, são horrendas e
poderosas garras de abutre que despontam dos assustadores dedos rugosos.
40. Neumann, Erich, The Great Mother, Routledge, London, 1976. 42
Os maléolos toscos e lenhosos fazem pensar nas extremidades rugosas da epiderme de
elefantes e rinocerontes! A disposição das garras é simétrica, vertente, com um acento de
domínio; toda a energia poderosa parece afluir e se descarregar sobre as bestiais patas que
pousam sobre o corpo de uma fera bicéfala, que parece uma leoa, agachada. Nas mãos, Lilith
segura dois amuletos que recordam vagamente os dois sinais hieroglíficos da Balança, cetros
de potência, iniciação e justiça. Nos lados, embaixo, um pouco ameaçando a fera de duas
cabeças, estão dispostas duas aves, esculpidas à maneira proto-assíria, cujas cabeças lembram
a águia ou a coruja ou os felinos egípcios; estão em posição frontal, imóveis, as patas unidas,
rígidas, em tudo semelhantes àquelas de Lilith.
São animais vigilantes que rematam a representação.

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2017 ⏰

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