1 | wild child

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14 de março de 2016


Adrian

Todo mundo sempre me disse que eu não seria nada na vida, que meu temperamento explosivo não me levaria a lugar nenhum. Eu perdi as contas de quantas vezes eu tinha ido na diretoria por conta de brigas com os valentões do colégio ou chegado em casa com o nariz sangrando e o lábios cortado. Eu sempre fui um cara que não levava desaforo pra casa e como não era muito bom com as palavras, eu deixava meus punhos cuidarem dos serviços.
Até que um dia eu descobri que eu poderia usar esse defeito para ganhar dinheiro e de quebra ajudar a minha mãe que me criou sozinha. Quando eu conheci Mick, eu tinha acabado de completar 18 anos e estava saindo da delegacia por se meter em uma briga por uma garota em uma festa, Mick estava pegando um dos seus lutadores que tinha ficado bêbado e irritado todos os seus patrocinadores, fazendo com que a maioria deles desistissem de investir no cara. Foi aí que eu tive a grande ideia de me oferecer para ser sua nova estrela. Claro que Mick riu na minha cara, dizendo que eu não tinha o que era preciso e eu até concordava com ele. Porra, não é que eu fosse magro a ponto de ser quase esquelético, era só que eu me metia com cara duas vezes maior que eu.
Só que eu não levei na brincadeira e insisti até que ele me desse uma chance. Não vou dizer que foi fácil, na verdade, foi difícil pra caralho. Mas logo que eu ganhei minha primeira luta, Mick se dedicou cem por cento em me fazer o melhor lutador que já existiu.
E por isso estamos aqui, numa festa de gente engomadinha, apreciando a bebida de graça e a comida enquanto esperávamos o senhor Bellucci nos chamar pra dentro. Ele era um dos patrocinadores que eu precisava para dar um empurrão na minha carreira, com o patrocínio dele eu poderia melhorar muito a minha vida. Segundo Mick, Bellucci tinha um prédio onde ele colocava os seus lutadores e lá eu poderia usufruir dos benefícios que viriam com esse contrato. Tchau equipamento de quinta e apartamento no Brooklyn, olá equipamento de primeira e apartamento em Manhattan.
- Pensando em que, Daniels? – Mick perguntou. - Na minha vida depois que assinarmos esse contrato. – Me desencostei do bar. – Eu vou poder comprar a casa que minha mãe vive pra ela não precisar mais viver de aluguel.
- Por que você simplesmente não a traz pra morar contigo?
- Já te disse, Mick, ela não gosta da cidade grande. Ela tem seu restaurante por lá em Wimberley e está feliz com isso. Além do mais, você sabe que ela não gosta de me ver lutando.
- Eu sei, bem capaz dela entrar no ringue e acabar com a luta. – Mick falou e logo depois engasgou com a bebida.
- O quê? – Perguntei e Mick apontou com a cabeça pra garota que acabara de entrar na festa. Eu sabia que não tinha sido o único que tinha notado a garota que acabara de entrar no salão, aparentemente, todos os presentes tinha parado o que estavam fazendo apenas para vê-la passar. Não era de menos, eu acho que eu nunca vi uma garota tão linda, tão alegre, que parecia mais que não tinha nenhuma preocupação. Se todas as patricinhas ricas e mimadas tivessem uma rainha, eu já sabia exatamente como ela seria.
- Que mulher linda! – Mick falou, colocando a bebida no balcão.
- Você não é casado, Mick?! - Perguntei, apoiando meus antebraços no balcão.
- E muito bem casado por sinal, só porque eu disse que ela é linda não quer dizer que eu quero dormir com ela, além do mais, ela tem idade pra ser minha filha.
- Não sei você, mas tenho a mera impressão de que eu já a vi em algum lugar.
- Só nos seus sonhos, Daniels, porque só neles pra uma mulher dessa te dar bola.
- Você sabe, patricinha não faz muito meu estilo. – Como se ela soubesse que estávamos falando dela, ela virou o rosto em nossa direção e nossos olhares se encontraram. Nós ficamos nos encaramos até que ela desapareceu pela multidão.
- Mick, Adrian. – Um dos seguranças do senhor Bellucci nos chamou, fazendo com que eu voltasse minha atenção para ele. – Senhor Bellucci está chamando vocês.
- Vamos lá, Daniels! É agora. – Mick segurou em meus ombros enquanto andávamos até o escritório do senhor Bellucci. O mesmo estava rodeado de seguranças enquanto assinava alguns documentos.
- Ah,Adrian, meu rapaz! – Ele falou assim que levantou o olhar. Pra quem não conhecia Bellucci achava que ele era um cara extremamente rude por conta de ser um empresário tão renomado e conhecido por quase nunca perder dinheiro, arrogância as vezes é uma característica pra caras como ele, mas Bellucci não, ele era um cara gente boa. – Mick, meu fabricante de estrelas!
- Senhor Bellucci! – Falei, parando em frente à sua mesa.
- Já te disse que pode me chamar de Paul. Venham, sentem-se. – ele se apoiou na mesa. – E aí, gostando da festa? – Nós dois assentimos. – Excelente. Espero que se acostumem, daqui pra frente vocês vão ser meus convidados de honra para a maioria dos meus eventos. - Ele se aproximou da mesa e disse: - Mas sem mais delongas não é? Aqui está o contrato de vocês, se quiserem podem ler outra vez. – Bellucci apontou para os papéis a nossa frente. Olhei pra Mick que já pegou a caneta e estava assinando o contrato, Bellucci me entregou a caneta e eu assinei meu nome.
- Fico feliz em fazer negócios com vocês, tenho muita fé em você, Daniels.
- Muito obrigada, eu que... – Minha fala foi interrompida por uma garota entrando com tudo no escritório. Olhei para trás, vendo a garota que tinha entrando no salão há poucos minutos atrás.
- Pai, será que o senhor pode tirar esse brutamonte da minha cola? – Ela cruzou os braços, parando entre eu e Mick, em frente ao seu pai. – Não sei se o senhor percebeu, mas eu já sou bastante grandinha pra ter uma babá, especialmente uma desse tamanho.
- Mas é claro que não, minha querida filha. - Ele se encostou na cadeira, entrelaçando suas mãos em cima da sua barriga.
- E por que não?
- Porque eu não quero que você se meta em confusão.
- Confusão? - Ela perguntou, incrédula. - Mas eu nunca me meto em confusão.
- Eu realmente espero que você esteja usando sarcasmo, Julieta.
- Mas é claro que não, o senhor fala como se eu fosse barraqueira. Eu sou uma pessoa calma, Ghandi concordaria.
- Mas não parece pelo barraco que você fez semana passada com aquela outra desmiolada que eu esqueci o nome.
- O nome dela é Stacey, para sua informação, e ela estragou meus sapatos. De propósito! Eu não ia deixar barato. Eles custam uma fortuna.
- E por isso você quase partiu a cara da menina no meio?
- Ah, mas isso é culpa sua.
- Minha culpa? Como isso é minha culpa, Julieta?
- É, se eu não tivesse crescido em um ambiente tão violento, rodeada de lutadores, eu não...
- Teria batido nela? Me poupe do seu showzinho, Julieta! Gary vai te seguir a noite toda e se você tentar, de alguma maneira, escapar dele, eu juro que eu faço isso tudo ficar pior.
- Não sei como pode ficar pior. – Ela cruzou os braços.
- Eu te coloco em uma das minhas coberturas e você só vai poder sair quando estiver comigo. – A expressão da garota mudou e pela primeira vez ela percebeu que tinham mais pessoas no recinto. Ela olhou para mim e Mick e depois para seu pai.
- Tudo bem, você venceu. – Ela levantou os braços. – Desculpe atrapalhar.
- Desculpas aceitas, agora se você nos dá licença.
- Claro. Vamos, Bruto. – Ela saiu rebolando em direção à porta.
- É Gary. – O segurança falou.
- É um apelido, meu caro, eu pelo menos tenho que tirar algum proveito da minha noite, não acha? – Os dois desapareceram pela porta.
- Desculpem por isso, minha filha não está familiarizada com a palavra limites. – Ele colocou as mãos em cima da mesa, se levantando. – Espero que você goste do apartamento que eu separei pra você, é em um dos meus prédios novos. O equipamento deve chegar na segunda na sua academia, Mick, é de primeira e eu espero que você use o máximo que puder e quem sabe até treinar algum outro jovem talentoso como o Adrian aqui.
- Com certeza, senhor.
- Sua próxima luta é daqui a dois meses, na sua cidade natal.
- Na minha cidade natal?
- É uma tradição. Quando um lutador assina comigo, a sua primeira luta sempre acontece na sua cidade natal, é como um ritual de passagem. Tem algum problema pra você?
- Claro que não.
- É sua mãe, certo?
- O quê?
- Ela não gosta que você lute.
- Capaz dela entrar no ringue e quebrar a cara do meu adversário no meio.
- Que tal quando formos lá, nós façamos uma visita para ela?
- O senhor quer conhecer minha mãe?
- Claro, talvez eu possa convencê-la que um talento como o seu não vem pra todo mundo. – Ele se levantou e nós também. – Prazer fazer negócios com você, Adrian.
- O senhor não vai se arrepender. – Apertei sua mão logo depois de Mick.
- Ah e tem mais uma coisa. – Ele falou antes de sairmos. – Nada de lutas fora do ringue, eu não tolero isso de forma alguma. Caso isso aconteça, eu sinto muito, mas nossa parceria acaba.
- Entendido, senhor Bellucci. – O segurança fechou a porta e Mick começou a pular no meio do corredor – Parece que você gostou da proposta.
- Um apartamento novinho em um dos prédios de um dos maiores empresário? Foi tudo que eu pedi a Deus e muito mais. – ele segurou em meus ombros enquanto andávamos pelo corredor de volta pra festa. – Eu vou poder dar uma repaginada na academia, jogar umas coisas velhas, conseguir mais uma clientela.
- Senhor Bellucci é um homem baita generoso.
- E bota generoso nisso.
- Mick, eu vou tomar um ar.
- Mas eu pensei que a gente ia comemorar.
- Vou ligar pra minha mãe, contar as novidades.
- Pode ir lá filhinho da mamãe.
- Vai se foder! – peguei o celular e fui em direção ao jardim. Disquei o número da minha mãe e depois do segundo toque ela atendeu – Mãe?
- Adrian, estava falando sobre você nesse instante, sabia que aquele seu amigo, Duke, acabou de ter um filho? Ah, imagina quando for você, meu querido. – eu apenas ri.
- Eu tenho uma novidade pra te contar. – ela não disse nada, esperando que eu continuasse. – Eu assinei com um patrocinador que vai me ajudar muito na minha carreira, mãe. Eu vou ganhar uma grana, vou poder te ajudar com suas contas, vou pagar a faculdade da Anna também.
- Ah,Adrian, meu querido, você não precisa se preocupar conosco.
- Claro que preciso, mãe. Eu deixei vocês duas sozinhas por muito tempo, já está mais do que na hora de eu retribuir tudo que vocês fizeram por mim.
- Você não precisa, nós fizemos para que você seguisse seu sonho.
- E agora que estou aqui está na hora de retribuir. – escutei-a soluçando do outro lado do telefone. – A minha primeira luta vai ser daqui a dois meses, aí na minha cidade natal. Quero vocês duas me assistindo lutando.
- Nós estaremos lá, pode ter certeza.
- Obrigada, mãe. – falei, percebendo um movimento detrás de uns arbustos. – Mãe, depois eu te ligo.
- Tudo bem. Tchau, meu amor, nós estamos com saudades.
- Eu também. Tchau, mãe. – desliguei o celular e andei em direção aos abutres, encontrando nada menos que a filha do seu Bellucci, Julieta. – Seu pai não te proibiu de sair?
- Ai que susto! – Ela se virou pra mim, colocando a mão em seu peito. – Ficou louco?
- E então...
- Sim, ele disse, eu só estou tomando um ar.
- Você deveria ter arrumado uma desculpa melhor.
- Você me pegou desprevenida, poxa! – ela disse com um sorriso no rosto. – Você não vai contar pra ele, certo lutador?
- Quem te disse que eu sou um lutador?
- Ah, eu sei quem é você. – ela começou a andar ao meu redor, me analisando. – Adrian Daniels! Vencedor do Razor dois anos consecutivos sem patrocinador algum, sem falar nas lutas por fora e mini campeonatos. Um campeão praticamente invicto. Meu pai é um grande fã, ficou muito feliz quando você finalmente decidiu assinar com ele. – ela parou na minha frente.
- Parece que você andou me observando.
- E pode ter certeza que foi uma vista e tanto. – ela me olhou de cima a baixo. – As tatuagens que quase cobrem seu corpo inteiro, com certeza merecem analises especificas e cuidadosas, mas você sabe fotos não fazem jus a realidade.
- Qualquer dia desses eu posso te mostrar elas de perto.
- Eu adoraria.
- Ei, Julieta, vamos! – vi uma garota aparecer no meio do jardim, tão arrumada quanto ela.
- Essa é minha deixa, lutador. – ela olhou pra trás e depois pra mim. Acho que ela estava arrumando uma maneira de como me convencer a não contar para o seu pai.
- Pode ir, eu não vou falar nada.
- Sério?
- Sério, pode ir. Viro até de costas. – virei de costas pra ela esperando que ela fosse. Mas antes que ela pudesse, se aproximou sussurrando em meu ouvido:
- Obrigada, lutador. Fico te devendo essa. – E com isso ela desapareceu entre as árvores e eu tinha certeza que não só ela estava encrencada, eu também. 

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