Epílogo

11 1 0
                                    


     A noite chegara e com ela a chuva. Começou como uma simples garôa até que foi se agravando trazendo consigo trovões que faziam as crianças dormirem agarradas com suas mães. Mas finalmente ela diminuiu. Apesar dos trovões não terem ido embora, Henry estava decidido a seguir com o seu plano. Levantou-se da cama lentamente, temendo que acordasse os pais e o irmão mais novo que dormiam no mesmo quarto que ele. Era uma casa simples com teto baixo de palha, uma casa que se espera que uma família de camponeses, como eles, tenha. Ele pegou seu surrado capuz de um azul desbotado que tinha guardado embaixo da cama junto com o seu arco e flecha e uma bolsa de pano, e se preparava pra sair na calada da tempestuosa noite. Estava preocupado com a alimentação de sua casa. Eles cuidavam do campo onde tirava seus alimentos e sua fonte de renda, já que vendia boa parte deles na feira em Alvorada, mais conhecida como a Cidade Mãe. Porém, as coisas não iam nada bem. Estavam passando por uma época muito chuvosa a qual nunca foi vista, e por causa disso muitas das plantas morriam com o excesso de água, muitos animais estavam escondidos em suas tocas dificultando ainda mais o trabalho dos caçadores. Resultado, a feira da Cidade Mãe estava cada vez mais escarça e cara.

Não comiam carne vermelha a dias, e só comer vegetais e legumes não eram suficiente para manter a sua família viva, assim pensava o garoto Henry. A porta velha de madeira da casa colaborou não chiando quando foi aberta, facilitando a saída de Henry com maestria. E ali estava um garoto magro, alto, com cabelos loiros curtos e olhos castanhos em frente a porta de sua casa dando uma olhada para a chuva que caia e para a floresta escura e molhada que lhe esperava ao pé de montanhas a alguns metros de distância. Tomou coragem, respirou fundo e pediu aos céus que se naquela noite algo acontecesse com ele, que a deusa Sol fosse bondosa para no amanhecer resgata-lo do que poderá ter lhe ocorrido. Certificou-se de que o capuz cobria seu rosto, não queria que a lua o visse, já que todos sabiam que era proibido caçar anoite. Acreditava-se na tirania da deusa Lua, a qual proibira qualquer ser humano de caçar animais a noite, caso contrario o povo do olho verde os perseguiriam sobre a floresta escura, e as árvores se fechariam ao seu redor, e nesse momento de desespero enquanto tentava correr seria possível ver as almas famintas dançando sobre as carcaças dos animais no meio da floresta e os gritos do vento. E por fim teria seus olhos arrancados e seria deixado no meio da escuridão para que alguma besta viesse dar um fim no seu sofrimento.

Balançou a cabeça certificando-se de que a mente se livrasse dessas informações, tocou na marca do sol que havia em sua nuca e se sentiu mais forte com isso. Assim, com suas botas já pesadas de lama, o garoto adentrou a floresta. Era tudo muito úmido, frio e escuro. Podia-se ouvir de longe barulhos de pássaros e de alguns animais silvestres. Ou seriam sussurros?Balançou a cabeça de novo para que aquilo saísse da mente, "claro que são pássaros", pensou. Seu corpo tremia e ele não sabia necessariamente se era de frio ou de terror e as histórias dos adoradores da Lua voltavam a sua mente fortemente. Dizia-se que quando fosse caminhar dentro da floresta e perceber que os troncos das árvores estão afinando, você está no caminho certo para encontra-los. E quando os troncos forem finos e alvos você finalmente os achou.

Henry se pegou não observando mais as sombras em busca de silhuetas de animais, e sim, a grossura das árvores. Até que um cervo, não muito grande, é visto por ele. Ele prepara a flecha no arco mas o animal se afasta sem o ter percebido. Henry continua se locomovendo com cautela e se escondendo atrás de arbustos para dá a flechada fatal no animal. Porém, ele o percebe e bate em retirada. Temendo não achar outro animal nem tão cedo Henry corre atrás do Cervo com o arco na mão, disparando flechas por toda parte torcendo para que uma delas acerte. Mas por o chão esta molhado, ele escorrega. o capuz sai do seu rosto e ele se prepara para o impacto contra a parede de pedras que deve formar uma das três montanhas a qual a floresta cerca, onde plantas trepadeiras cresciam. Porém ele passa pelas plantas como se passa-se por uma cortina e rolando uma ribanceira ele bate com a cabeça em uma pedra ao chegar no chão.

Meio tonto com o impacto ele se levanta se apoiando em uma árvore na qual caiu perto. Devagar e com força ele se levantava. Talvez fosse sua tontura, ou a água da chuva que tinha voltado a ficar mais feroz, mas podia jurar que a árvore tinha o caule branco. Ele tirou a mão da árvore como se tivesse colocado a mão sobre uma aranha venenosa. Olhou ao seu redor atordoado e se deparou com milhares de árvores finas e alvas. O barulho ensurdecedor e opaco da chuva que descia a encosta da montanha lhe dava a sensação de esta dentro de uma redoma, tateou o chão em busca do seu arco, porem ele tinha caído por cima da arma a danificado-a fatalmente. Um calafrio subiu a sua espinha e sua respiração se tornou ofegante quando percebeu que um pouco mais a sua frente havia uma pessoa de costas colhendo algo do chão. A luz da lua o iluminava no chão molhado e então percebeu a falta do seu capuz, seus olhos se arregalaram com grande pânico quando a pessoa a sua frente o vira e seus olhos, ah! seus olhos...eram verdes.

Henry levantou depressa e correu, correu o mais rápido que pode, e atrás de si um som similar a de um apito corria os seus ouvidos e competia com o rajar dos trovões furiosos no céu. E com os seus olhos coberto de lagrimas e água da chuva e com a cabeça a girar, via os espectros fantasmagóricos a dançar encima do cervo em que caçava,que naquele momento jazia morto com uma flecha aos pés de uma árvore alva. Ele parecia encurralado, e se sentia espremido pelas próprias árvores como se em um ato maligno toda a floresta ganhasse vida e conspirasse contra ele. Passos apressados se aproximavam, ele tento subir a encosta mas estava escorregadia pois havia um vivido tapete de lodo que a cobria. E certo de que aquele era o ultimo momento que lhe restava ele olhou para lua, a grande lua cheia, o olho da deusa da noite e pediu para que o poupasse. Assim dito, tudo virou escuridão.  

AscensãoWhere stories live. Discover now