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Hampshire, maio de 1836 - 26 anos depois.

Após a morte de seu pai, o Lorde George Thomas Green, devido a uma doença nos pulmões que há anos o afligia, as terras de Hampshire nunca mais lhe seriam as mesmas. Joanna Evans era muito grata ao homem que tinha como um pai, que sempre lhe cuidou com carinho após o falecimento de sua mãe ao dar-lhe à luz. Assim como os demais filhos do Lorde Green, Joanna aprendeu a ler, escrever, somar e falar mais de cinco idiomas. Ela viveria na total ignorância sobre sua verdadeira origem se não fosse a morte de seu pai e o ódio que Lady Augusta nutria por ela. A jovem Maria acabou por dar à luz uma criança prematura, uma linda menina que acabou sobrevivendo por um milagre, pois, para continuar trabalhando na casa de George, ela mentira sobre a sua gravidez, confessando a ele apenas em seu leito de morte.

Joanna vivia e dormia com os outros empregados, afinal, ela era filha de uma escrava liberta, e George não poderia assumir uma filha fora do casamento perante a sociedade, ainda mais sendo negra. Além disso, Lady Augusta jamais permitiria tal coisa. Uma filha fora do casamento seria a confirmação da traição de seu marido com uma negra forra, como se não lhe bastasse ter uma bastarda convivendo com seus filhos.

— Essa negrinha nunca será reconhecida como um membro desta família, e vocês, meus filhos, jamais permitirão isso! — Joanna mal tinha entrado no local onde era velado o corpo de seu pai e logo foi bombardeada por palavras depreciativas e humilhantes de Lady Augusta. Era uma questão de honra para a mulher e para três dos quatro filhos. A única que pensava como seu pai era a doce Anne Louise, mas, como sempre, ela era voto vencido. Joanna apenas queria dar o último adeus àquele a quem considerava como um pai, sem saber que de fato o era. Para ela, aquela manhã estava mais triste que o normal.

Há muitos anos, Joanna tinha aprendido o seu lugar naquela casa. Por mais que recebesse a mesma educação que os filhos do senhor Green, ela arrumava junto com os outros empregados e cuidava dos irmãos menores. Ainda assim, nunca deixou o seu sorriso morrer em seus lábios, mesmo quando Lady Augusta a acusava injustamente de algo. E, naqueles momentos, era amparada e recebia colo de Matilda, quem muitas vezes fazia o papel de sua falecida mãe, e o fazia de todo o coração. Ela amava Joanna como se fosse sua, mesmo que não tivessem o mesmo tom de pele, já que Matilda era de origem escocesa e possuía os olhos da cor do oceano, mas o amor entre elas nunca viu cor ou raça.

Após o falecimento do pai, essa união e esse amor entre as duas estavam com os dias contados, pois a família Green se preparava para expulsar Joanna da pior maneira possível, sem qualquer tipo de consideração ou piedade. Anne Louise nada podia fazer, pois era quase uma criança e sequer havia estreado sua primeira temporada em Londres. Ela não tinha força para ir contra a mãe e os irmãos.

O céu parecia saber o que viria a acontecer com Joanna, o dia virou noite de tão cinzentas e carregadas que estavam as nuvens. Aquela manhã chuvosa seria uma das piores que aquela jovem já tivera em sua vida, pois Lady Augusta a colocou para fora de casa somente com a roupa do corpo. Não pôde nem chegar perto de onde estava sendo velado o corpo de seu recém-descoberto pai, tampouco ficaria para a leitura do testamento, que seria lido naquele mesmo dia após o sepultamento. A viúva não permitiu sequer um último adeus. Decerto tinha medo de que seu falecido marido tivesse deixado algo para sua filha bastarda.

— Nunca mais pise em Hampshire novamente, sua bastarda maldita! Fui obrigada a suportá-la durante anos, e nada podia fazer, por causa desse amor maldito que ele nutria por sua mãe, mas agora chega! Esqueça que um dia você fez parte desta família. — Lady Augusta arrastou Joanna pela casa, para longe do corpo sendo velado na sala de estar da família Green, diante dos olhos de todos os conhecidos da família.

— Mas, senhora, eu não tenho culpa, nunca lhe fiz nada para que tenha tanta raiva de mim. — Joanna a encarou, as lágrimas pesavam em suas pálpebras, e ela lutava para não as deixar cair enquanto era arrastada porta afora, quase tropeçando no próprio vestido. A angústia em seu peito deixava sua voz rouca, quase inaudível.

O segredo de Joanna (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora