{capítulo dois}

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....Aulas de teatro...

Todos os dias é a mesma coisa, acordo as seis da manhã, me arrumo, tomo o café e vou pra escola. O problema é que sou da sala daquela mimada da Camila, ela não se cansa de vir com aquele sorrisinho sínico todos os dias e me dar "bom dia".
Preferi ficar quieta e não responder nada, como sempre.
- Tá com medo de responder e eu te humilhar, esqueci, você mesma se humilha - ela riu.
- Minha cara de quem se importa com a sua opinião - retruquei o sorriso sínico.
- Se sentiu humilhada foi - ela riu da minha cara.
- Até quando você vai continuar com esses joguinhos? - perguntei.
- Queridinha eu estou no todo e não preciso de joguinhos.
- Sério? - sorri entusiasmada - aproveita que você tá lá e vai a merda.
Me retirei e fui pra sala, até que a minha resposta havia sido bem agradável, ironismo era tudo.
Todos já estavam na sala quando o sinal bateu, a professora demorou a chegar, e como sempre estava aquela barulheira, então aproveitei e fui escutar o novo EP da minha banda favorita.
Estava tão desligada daquele mundo, que nem percebi que a diretora
havia chegado, ou melhor, que estava na minha frente.
- Júlia - ela foi rígida.
Desliguei a música e tirei o fone.
- Júlia, eu já te chamei cinco vezes - ela me reprovou com o olhar
- Desculpa, não estava prestando atenção - mostrei o fone
- Não quero saber, vamos até minha sala.
Nem me manifestei em perguntar o que era, ia pra lá quase todos os dias, por fazer coisas bobas, ou simplesmente nada. A caminhada foi curta, atravessamos o corretor e já estávamos na sua sala.
- Eu não entendo Júlia, você não se cansa de tomar várias advertências e suspenções - ela sentou naquela cadeira vela giratória.
- Você quer mina opinião sincera? - sorri.
Ela me observou por alguns segundos e deu um longo suspiro.
- Nós não toleramos nenhum tipo de palavrão, principalmente quando direcionado aos colegas de classe.
- Merda não é nem palavrão - mudei de assunto ¬- e além do mais, ela que me provocou, você quer que eu faça o que?
- A Camila é uma garota muito comportada, ela não ia começar uma pequena briga.
- Sempre a Camila é a boa moça e eu sou o mostro né, eu já estou acostumada, pode me dar advertência, suspenção ou sei lá o que. - Claro que ela é a boa moça, sempre tira boas notas e tem um comportamento excelente, já você eu não posso dizer o mesmo - ela me observou.
- É feio comparar um aluno com o outro, e eu não sou igual a ela e nem quero ser, e alias eu não sei se a senhora esqueceu eu tenho dislexia, por isso eu não tiro boas notas.
-E não é nem um pouco esforçada - ela retrucou.
- É, mas acontece que você não sabe nem um pouquinho da minha vida - fui ignorante.
- Você tá pensado que esta falando com quem Júlia?
- Com você - continuei com a ignorância.
- Não dá mais para falar com você sem uma resposta sínica, vou chamar sua mãe - ela pegou o telefone.
- Tá, posso voltar pra sala? - apontei pra porta?
- Claro que não, você vai esperar aqui.
Em quanto minha mãe não chegava fiquei na sala da diretora, mexendo em uns lápis que estavam cima da mesa pra me distrair.
Ela demorou uns vinte minutos pra chegar até a escola e eu fiquei esperando no pátio, "a conversa era em particular" acabar.
- Eu conversei com a sua mãe e chegamos a uma conclusão - ela se aproximou.
- Quantas advertências vou levar? - perguntei.
-Nenhuma - ela sorriu ¬- porém a partir de hoje você começa a fazer as aulas de teatro, que é aqui mesmo na escola.
- O que? Eu não vou fazer essas aulas de teatro e pra piorar a Camila vai tá presente - me exaltei.
- Você tem duas opções faz as aulas ou será convidada a se retirar da escola, qual você prefere?
Dessa vez eu não tinha opção e ainda tive que enfrentar o olha de decepção da minha mãe. Era difícil pra mim, eu não fazia parte daquele lugar, mas tudo era minha culpa.
A diretora disse que aquelas aulas iam "melhorar meu comportamento", fala sério, Júlia e teatro, pior combinação do mundo.
Voltei pra a sala e todos me observavam, fiquei no fundo "prestando atenção" na aula e esperando o sinal bater.
- Júlia.
- O que eu fiz? - perguntei.
- Até agora nada, me acompanhe que eu vou te levar até a sala de teatro - ela esticou a mão.
Guardei minhas coisas e acompanhei a diretora e é claro que não dei a mão pra ela.
Ela bateu na porta e pediu licença a professora, a sala era bem grande e confortável, mas o problema não era a sala, a professora e nem os alunos, porém a Camila, a diretora conversou com a professora e explicou o porquê que eu iria fazer as aulas.
Fiquei esperando olhando pro nada, até que a professora mandasse eu entrar.
- Então pessoal essa aqui é a Júlia e ela é a nova integrante da oficina de teatro, seja bem vinda Júlia - ela falou.
Sentei bem longe da Camila, ao lado de um garoto da minha sala que me deu um leve sorrido de boas vindas.
- Júlia - falou a professora - você pode vir aqui para demostrar o seu lado atriz.
- Bom na verdade você sabe que eu não estou fazendo essas aulas porque eu quero e eu também não sei nada de teatro - tentei ser educada.
- Mas você não precisa saber atuar é só você cantar uma música, imitar alguém, falar um poema ou apenas ser você mesma.
- Não e por você e nem pelos meus colegas com exceção de uma pessoa né, mas eu não consigo - dei um sorrisinho.
- Todos nós temos um lado ator, porém alguns demostram mais e outros menos, eu sei que você consegue, e se não conseguir, pelo menos tenta - ele insistiu.
- Tá bom, vou falar um poema que eu fiz.
Ele retrucou com um leve sorriso, e o garoto que estava ao meu lado também sorriu confiante pra mim. Mas não dei confiança, e alias, que encrenca que eu arrumei.
Continuei sentada no meu lugar e todos me olhavam, o que piorava, mas como não tinha opção e comecei a recitar o poema com a voz tremula.
Quem sou eu?
ainda não sei responder!
quem é você?
também não sei!
olho para o lado
não sei o que vejo,
olho para o outro,
também não sei
eu mudei?
ou você que mudou?
a única coisa que sei,
é que não sei responder.
Quando terminei todos aparentemente gostaram, até me aplaudiram, com exceção da Camila. Não tive reação, como um poema que eu escrevi por bobeira me deu tanta sorte?
- Meus parabéns Júlia, pra quem não sabia atuar foi ótimo - falou a professora - você pode até participar da nossa peça.
Peça da escola? Como assim? Será que ele falou com a pessoa certa, com certeza ele esqueceu que estou fazendo teatro só pra não ser expulsa, e logo eu, a pessoa que digamos, ODEIA atuar, já dá pra perceber que essa professora quer tentar me conquistar.

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