{Capítulo quatro}

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...festa...

      Passei a noite tentando entender a troca de olhares. Aquele garoto me observava de uma forma diferente, me fazia rir e esquecer de tudo. Em poucos dias ele me fez conhecer um mundo que eu achava não existir.
      – Bom dia Júlia – a Bia interrompeu meu pensamento.
      – Oi – levantei.
      – E seu amigo ontem?
      – O que tem ele?
      – Percebi uma química entre vocês – ela riu.
      – Química é uma matéria – fui irônica.
      – Tudo bem – ela foi em direção e porta – só toma cuidado pra não se machucar.
      Chamei seu nome, fazendo ela parar em frente a porta.
      – Não vou me apaixonar por ninguém – sorri.
      Arrumei algumas coisas e desci para tomar café da manhã. Havia uma mensagem no meu celular de um número desconhecido, mas reconheci pele foto, era o Pedro.

  Pedro: Olá😊
  Júlia: O que foi?
  Pedro: Gostaria de ir a uma festa hoje à noite?🎉
  Júlia: Aquela que o pessoal da sala organizou?
  Pedro: Sim.
  Júlia: Não gosto de festas.
  Pedro: Por favor.😭😭
  Júlia: Sério que você vai me obrigar?😕
  Pedro: Isso é um sim?
  Júlia: Te encontro as oito
  Pedro: Ok 😆
                                                                                  
      – Que sorriso é esse? – a Bia debochou.
      – Nada – gaguejei – é um meme novo.
      – Meme? – ela me encarou.
      – Sim – sorri.
      Passei a tarde toda procurando alguma roupa legal. Fiquei tanto tempo me escondendo que esqueci completamente de mim. Mexi em todas as gavetas e nada, tudo estava velho e desbotado.
      Quando joguei todas as roupas amassadas de volta para o armário, um embrulho havia caído no chão. Eram as roupas que ganhei da minha mãe no natal passado.
      Vesti o short e o body que ganhei, ainda adicionei uma jaqueta jeans
amarrada na cintura e meu Oxford prata(esse eu sabia que era estiloso).
      Estava ansiosa e meu coração batia acelerado. Faltava uns vinte minutos para ele chegar e eu estava andando de um lado para o outro escutando musica.
– Onde você vai assim? – a bia entrou no meu quarto.
      – A uma festa – tirei o fone.
      – Festa? – ela riu – você?
      – Sim priminha – joguei o fone na cama.
      – É seu “amigo” deixou você bem diferente.
      – Como você sabe que eu vou com ele? – perguntei
      Ela me encarou como se fosse falar: “Não preciso nem dizer que é com ele”.
      – Já falou com sua mãe? Ela mudou de assunto.
      – Eu volto cedo – passei o batom
      – Júlia já são oito horas, essa festa vai rolar até a madrugada – ela se preocupou.
      – Beatriz – sorri – você não é minha mãe para me dar ordens.
      – Porém quando ela não está eu passo o papel dela – ela foi rígida.
      – Então você sempre faz o papel dela – peguei a bolsa – ela nunca tá em casa, nem vai perceber quer eu sai – desci as escadas.
      Ela tentou dizer alguma coisa, mas o silencio ensurdecedor tomou conta.
      Queria ser feliz e tentar esquecer tudo por pelo menos uma noite. Não tinha amigos na escolas, minha única amiga era minha prima de vinte anos, meus pais eram separados. Meu pai foi morar com outra mulher e minha “irmãzinha” fora do pais e minha mãe uma médica que mais dava plantões do que ficava em casa.
      Me tranquei no banheiro até o Pedro chegar, a bia bateu na porta algumas vezes mas não respondi. O rímel havia escorrido pelo rosto junto com as lágrimas. Respirei fundo e me acalmei.
      Meu rosto anda estava um pouco inchado e vermelho, subi para o meu quarto retocar a maquiagem e não dirigir nenhuma palavra a bia.  
      Escutei um barulho no portão, era o Pedro. Desci correndo com o coração acelerando e uma imensa vontade de vomitar. Apenas dei tchau para a bia e fui embora.
      Ele me comprimento com um beijo no rosto e um abraço. Andamos alguns minutos em silêncio até que ele resolveu dizer alguma coisa:
      – Você tá bem?
      – Sim – deu um falso sorriso.
      – Você sabe que pode contar comigo né? – ele olhou em meus olhos.
      – Obrigada – segurei as lágrimas.
      – Como é ser um dos caras mais populares da escola? – mudei de assunto.
      – Nem sempre é bom, as vezes as pessoas são falsas e fingem ser meus amigos – ele falou Não prosseguimos o assunto, pois havíamos chegado até a casa, que ficava poucos minutos da minha.
      A música ara até agradável e o som não estava muito alto, nada que incomodasse os vizinhos.
      Nunca fui nessas festas, o ambiente era até agradável. Os pais do Davi era bem “liberais”, essas festas aconteciam duas vezes no ano, rolava bebida e muita “pegação”.
      – Você já me fez uma pergunta, agora é minha vez – o Pedro deu um gole no refrigerante.
      Sentamos próximo a piscina, a mesa era de madeira e no meio tinha um guarda sol verde.
      – Por que você não é mais aquela menina que conheci no primário?
      –Eu me vestia com cores mais alegres e adorava brincar de boneca, porém as pessoas eram amargas e individualistas –minha expressão havia mudado.
      – Se você quiser pode parar de falar – ele me interrompeu.
      –  Tá tudo bem, só é a verdade – prossegui - as vezes eu não sei quem eu sou, mas já que eu era a bobona, decidir ser boba no meu mundo, por isso eu mudei a minha forma de vestir e agir, é como se fosse uma capa, aonde eu era invisível e as pessoas só enxergavam meu lado insensível – meus olhos encheram de água.
      – Você teve muita coragem – ele me observou.  
      – Isso eu não sei, mas foi um turbilhão de fatos – sorri.
      Ficamos quase a noite toda conversando. Fazia tempo que eu não me sentia livre e feliz daquele jeito. O Pedro me contou sobre sua festa de dez anos e como acabou com um bolo no chão e um bêbado cantando axé, já eu falei sobre a gravides precoce da minha mãe e a reação da minha avó. Conversamos também sobre outras coisas, mas esses assuntos foram os mais engraçados.
      – A pista de dança tá animada vamos? – ele riu
      – Obrigada, mas prefiro ganhar celulite com esse refrigerante – apontei para o copo.
     – Não, você vai sim – ele me puxou e me levou até a pista de dança.
      Todos a minha volta estavam dançando e eu ali parada cheia de vergonha.
       Ele começou a se mexer e dançar muito estranho, até engraçado, ele começou a balançar meu braço, continuava desanimada. Aos poucos fui me soltando e quando percebi, já estava dançando olha a onda.
      Fomos embora uma da manhã, já estava tarde e o pai do Pedro me levou até em casa. Ele fez questão de descer e se despedir.
      Hoje foi um dos melhores dias da minha vida, foi tão bom me soltar e poder rir. Por cinco horas esqueci de todos os problemas e fui apenas a Júlia. Ri sozinha em meu quarto, lembrando de todos os momentos com o Pedro. Demorei para dormir, fiquei pensando nele a noite toda e aguardando ansiosamente para o dia seguinte.

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