Eu senti a luz forte entrando pelas frestas das minhas pálpebras e escutei o barulho dos pássaros a minha volta, por um único momento eu achei que estava morta e que quando abrisse os olhos eu daria de cara com um anjo e o paraíso. Mas meus sonhos foram interrompidos pela forte dor nas costas, na cabeça e nos braços. Aquilo definitivamente não era o céu, afinal eu sempre escutava do padre da paróquia local que eu ia todo domingo com a minha mãe dizer que quando éramos pessoas boas iríamos para um lugar sem dor e nem tristeza.
Bom… Eu sempre fui uma pessoa boa, dava duro na escola e queria ser uma policial militar e seguir os passos do meu pai. Queria ajudar as pessoas como a minha mãe ajudava os doentes do hospital.
Lógico que como toda adolescente eu tenho minhas falhas, já beijei meninos, fumei um cigarro junto com Annie já que queria saber o porque dela fumar o tempo todo, já fiquei um tanto bêbada em festas de ano - novo que passei com o pessoal do colégio, já fiz sexo antes do casamento. Mas eu não acho que isso seja tão grave para eu estar no inferno.
Um lugarzinho no purgatório já estava bom para mim.
Com muito custo eu consegui abrir os meus olhos e para minha surpresa eu não estava na minha cama e nem no meu quarto.
Eu estava no telhado da minha casa.
Como diabos eu vim parar no telhado?
Olhei para os meu braço esquerdo e percebi o porque dele estar doendo tanto, nele havia uma queimadura feia, Como se eu tivesse o mergulhado numa bacia de olho quente. Minha cabeça estava tonta e eu não conseguia me lembrar de nada.
Escutei um latido conhecido vindo da árvore a frente da minha casa, com muito custo eu estiquei o pescoço e olhei para a copa da mesma e vi uma criatura preta me encarando.
- Pretinha? - Perguntei e ela deu um latido animado respondendo minha pergunta. - O que você está fazendo aí?
Ela latiu alto olhando para o chão e só assim eu me dei conta de olhar para o quintal abaixo de onde eu estava sentada.
O meu quintal de azulejos brancos agora estava lavado de sangue e corpos, eu me desesperei naquela hora e coloquei a mão na boca. Aquelas coisas estavam queimadas e irreconhecíveis. O cheiro de podridão era intenso.
Mas, não… Não podiam ser zumbis.
Aí meu Deus, isso não pode estar acontecendo.
Alguns flashes vinham em minha mente, e eu lembrava do rosto preocupado do meu pai.
Ah não… Eu não vou conseguir ficar sozinha!
Por um momento eu respirei fundo e olhei para mim mesma. A dor e ardência forte no meu braço esquerdo era explicada por uma queimadura enorme e feia.
Onde foi que eu consegui isso?
Tomei coragem para descer daquele telhado e tentar procurar algum lugar seguro, já que minha casa estava inteiramente quebrada. Encarei Pretinha que abanava o rabo ansiosa.
- Eu vou voltar pra te buscar! - Falei e ela se sentou, como um sinal de estava me entendendo. - Não saia daí!
Abaixei minhas pernas em direção ao quintal abaixo de mim, fazendo com que meus braços e minha clavícula estivessem prensados na viga do telhado. Minhas mãos escorregaram e eu cai de bunda no chão sanguinolento. Meu short de pijama branco ficou manchado.
Entrei dentro da casa um pouco apreensiva e sai ligando todas as luzes que consegui, mas felizmente não tinha nenhum resquício de zumbis lá dentro. Eu peguei minha mochila da escola e tratei de jogar todos os meus materiais no chão.
Abri todos os armários de comida e coloquei os mantimentos dentro da mochila, Fui ao banheiro e peguei os utensílios de higiene pessoal, peguei a caixa de primeiros socorros do trabalho da minha mãe e soquei tudo isso em mais uma mala do meu pai na época do exército. Abri as gavetas e coloquei várias mudas de roupa dentro da mala camuflada e a pendurei em meus ombros.
Tirei os pijamas e o joguei num canto qualquer do meu quarto, coloquei um dos meus shorts pretos e uma regata branca. Calcei meu par de botas estilo coturno e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo bem preso.
Andei até o quarto dos meus pais e abri o cofre digitando a senha, fitei o revólver preto e o peguei em minhas mãos, sentindo seu peso. O coloquei em minha cintura e peguei as cinco balas restantes dentro do cofre e abasteci a mesma.
Olhei em volta da casa e tentei encontrar algo que eu pudesse me defender sem fazer barulhos, avistei um taco de basebol enrolado em arame farpado que comprei na Internet para a minha fantasia de Negan. Bom, agora a fantasia faria sentido.
O segurei em minhas mãos e o posicionei em minhas costas. Peguei o celular e coloquei dentro do sutiã, coloquei o carregador dentro da mochila e fechei a porta, dando uma última olhada pela minha casa.
___________
As ruas estavam irritantemente silenciosas, parecia que a qualquer momento um morto - vivo ia pular em mim e comer meu cérebro. Tinham vários carros e casas abandonadas pela rua e corpos queimados pelo chão! Aquilo foi terrível.
Eu dobrei mais uma esquina segurando o taco com força em minha mão, afinal eu não sabia atirar. Tentei lugar para o celular de Annie várias vezes, mas o sinal parecia estar cortado.
Andei até o portão da sua casa e vi que seu cadeado estava arrombado.
"Merda"
Eu abri o portão, que rangeu um pouco e adentrei sua garagem. Fui em direção ao pequeno um brasileiro escuro e o atravessei. Ali subiu um intenso cheiro de carniça e quando olhei para o chão pude ver o cachorro tão amado de Annie morto com sua barriga aberta, meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar de quando Floquinho pulava em minhas pernas quando eu ia visitar minha melhor amiga.
Eu olhei para a porta e percebi que ela estava aberta. A empurrei sem fazer barulhos e rezando para que Annie não estivesse infectada, eu simplesmente não seria capaz de mata-la.
Eu caminhei calmamente pela sala e vi que tudo parecia em ordem. A televisão estava ligada e o ventilador também, parecia que tudo tinha sido abandonado as pressas. Caminhei até a copa e olhei para a porta do quarto de seus pais, ela estava fechada. Trancada por fora.
Aquela porta nunca ficava fechada, muito menos trancada.
Eu olhei em volta e escutei um choro vindo do quarto de Annie e caminhei até lá, constatando a luz acesa. Empurrei a porta e o choro ficou mais alto.
Ela estava com medo…
Annie odiava escuro e ficar sozinha, era como um trauma de infância.
- Annie! Annie abra a porta! Sou eu! - Falei um tom mais alto e o choro cessou. Eu escutei o rangido da cama e provavelmente ela estava andando até a porta.
Escutei algo pesado sendo arrastado e assim que aquele peso foi tirado a porta abriu bruscamente e minha amiga se jogou em cima de mim.
- Jacky, graças a Deus! - Ela disse sufocando meu pescoço. - O que está acontecendo? Por que diabos todo mundo quer comer cérebros?
- Eu também não sei o que está havendo Annie, eu acordei no telhado da minha casa! - Falei um tanto histérica. Annabeth me encarou mordendo a parte interna da bochecha e saiu correndo para pegar seu maço de cigarros e seu isqueiro. - A quanto tempo você está aqui?
- Eu acho que a um dia… - Ela respondeu tragando o cigarro.
- Onde estão seus pais? - Perguntei e ela pareceu gelar.
- Eu tranquei eles no quarto. - Ela disse apontando para o cômodo com a porta fechada. - Eles começaram a rugir no meio da madrugada e tentaram me atacar, mas eu tranquei a porta por fora.
- Você por um acaso é louca? - Falei segurando a vontade de fazê - la engolir o cigarro em seus dedos. Annie me encarou com uma sobrancelha arqueada, a resposta era óbvia. - Se trancar numa casa com dois zumbis dentro! Sério Annie?
- O que você queria que eu fizesse? - Ela disse jogando a bituca no chão e pisando em cima com raiva. - Saísse correndo no meio da rua e gritando "Socorro, socorro, meus pais viraram figurantes da 'Madrugada dos Mortos Vivos' e agora eu não tenho casa"?
Bufe e encarei a parede.
- Você tem Razão, nós não temos pra onde ir, não temos comida, não temos família… O que vamos fazer agora? - Perguntei passando o dedo pelo cabo do taco de beisebol.
- E se tentarmos procurar alguém? Precisamos procurar os nossos amigos! Eles podem estar vivos! - Annabeth disse com sua íris brilhando de esperança.
- E como vamos fazer isso? Sair andando por aí e correr o risco de morrer? - Perguntei e ela levantou os olhos para pensar um pouco. Ela sorriu e saltou como se tivesse tido uma ótima idéia.
- O carro do seu pai esta funcionando? - Ela perguntou escrevendo eu assenti. - Ótimo, vamos usa - lo.
Eu sorri um pouco e abri meus braços para a minha melhor amiga. Annie Abraçou minha cintura e afundou o rosto no meu pescoço.
- Obrigada por vir até aqui. - A morena sussurrou e eu a abracei mais apertado. - Obrigada por não desistir de mim.
- Eu nunca desistiria de Você Ann, você é minha irmã e eu te amo! - Falei e senti um sorriso em meu pescoço.
- Você é minha única família agora Jacky, temos que cuidar uma da outra - A garota morena disse me soltando e encarando meu rosto com um pouco de lágrimas em seus cílios.
- Você promete que não vai me abandonar? - Perguntei e Annabeth assentiu.
- Eu prometo!
E ambas ficamos abraçadas, procurando conforto e paz em um mundo violento e repleto de caos.________________
Oi menines, eu sou a Pink e essa é uma história muito querida que eu e uma das minhas amigas criamos. Eu espero muito que vocês gostem porque eu realmente gosto de escrever essa história...
Comentem o que quiserem! E obrigada por lerem... ♡
~tia Pink
VOCÊ ESTÁ LENDO
So Heavy Souls
RandomEm um mundo apocalíptico dominado por seres que caminham pela escuridão da madrugada, algumas pessoas se unem e procuram refúgio em sua escola tendo que conviver entre si e lidarem com a falta de regalias que tinham em suas vidas. Amor, Morte, e mui...