CLARKE
A terra sempre foi brilhante e verde, viva, mas nunca deixou de ser perigosa. Agora ela não bastava de uma paleta de cores cinza e empoeirada, sem vida.
O meu humor a acompanhava, entrei em uma rotina indesejável, mas os desejos não existem mais aqui, os sonhos ficaram distantes e minha crença em um deus misericórdioso também.
Eu acordo com o sol, vivo com o vento, corro como a correnteza, choro como a cachoeira e durmo com a lua.
Eu virei a própria terra.
Tudo se perdeu de mim, menos a esperança. Ela se agarrou em mim com necessidade, não como se eu precisasse dela, mas como se ela precisasse de mim.
Sem um hospedeiro os sentimentos não existem, certo?
Foi recíproco, eu me apeguei a ela por ser a única coisa que me resta, e ela se agarrou a mim por ser a única coisa que ela precisa.
Mais um dia começou, hoje algo tocou na minha mente, medo, talvez?
Esse medo foi o pior que eu já senti, tudo que eu passei na terra, mortes, sacrifícios, escolhas, por mais que pareça estranho, nada me fez sentir tanto quanto essa dor que estou sentindo agora.
Medo de esquecer o rosto de quem me ajudou a fazer sacrifícios e escolhas, medo de não lembrar de quem me mantinha de pé e como ele fazia isso, medo de esquecer do calor dos braços que me tinham e tentavam criar um escudo para desviar a dor.
O medo me moveu a vasculhar até encontrar, um caderno e um lápis, era tudo.
O medo segurou minha mão e dançou com o lápis pela superfície branca, traçando linhas irregulares criando cachos, tirando seu rosto da minha mente e transferindo para o papel.
O medo de que um dia minha mente possa me trair e tirar sua lembrança de mim, fez sua imagem perfeita seguida por pensamentos ser colocada no papel. Era tão real quanto eu imaginava.
Na folha atrás, frases que saíram e foram formuladas pelos seus lábios foram escritas.
Dias, horas, minutos, uma rotina.
Sempre que eu me lembrava, corria para o caderno e colocava uma lembrança.
Me senti egoísta por querer só ele, isso me fez ilustrar Abby, Raven, Monty e até Echo.
Eu os ilustrava por não ter outra coisa para me manter ocupada.
Agora Bellamy...eu o desenhava para sentir o que ele me fazia sentir, mesmo que nunca funcionasse, a esperança não me deixou.
Eu o desenhava chorando, com raiva, com saudade e raramente com um pequeno sorriso.
Meus sentimentos moviam o lápis e eu observava e os nutria com memórias.
Quando não foi o bastante, comecei a sonhar com nós, coisas que não aconteceram e nunca aconteceriam, e eu as ilustrava também.
Nas piores horas eu só me agarrava a um travesseiro de um dos sofás do laboratório, apertava e chorava enquanto olhava para os desenhos.
Tudo que eu não pude lamentar quando pisei na terra, eu lamentei. Por todos que morreram, eu chorei. Por tudo que eu perdi, eu gritei.
E por tudo que eu acreditava e amava, eu sonhei.