Na época não pareceu que fosse tão sério. De forma alguma pensei que fosse chegar ao estado em que me encontro hoje. Achei que tudo ia valer a pena um dia. Era o que todos me diziam: "Um dia vai valer a pena", "Um dia você vai perceber que todo esse esforço compensou". Eu até duvidava disso na época, mas que outra escolha eu tinha se não seguir firme e me agarrar a essa única esperança? Era a única forma de crescer na vida e conseguir uma condição financeira razoável e que pudesse me fazer feliz.
Mas, amigo(a), agora, depois de tantos anos, eu te digo que não é verdade. Nada compensa tudo que passei. Não! Nunca valeu à pena. Muito pelo contrário. Os custos foram caros, muito caros e dinheiro nenhum pode cobrir esse déficit. Dinheiro nenhum me trouxe a minha felicidade e a minha saúde de volta.
Calma, calma! Vou te contar a história do início e você vai entender o que estou dizendo. Talvez até me dê razão. Na verdade, eu espero com todas as minhas forças que me dê razão e que repense a sua própria vida. Tenho quase certeza que você faz algo semelhante com o que fiz, e que vai se identificar com o que tratarei aqui.
Vamos lá: minha história não teve um começo certo, mas vou começar por um dos dias em que as coisas desandaram ainda mais. Estava sendo um dia comum: trabalho, trabalho, estudo. Era sempre assim. É sempre assim ainda. Estou certa? Sei que sim. É essa a sua rotina, não é? Bom, mas vamos prosseguir: estava eu no trabalho certa tarde, em um momento de pouco movimento, quando uma das minhas colegas se aproximou:
– Fernanda, você viu a festa que vai ter na Younger esse sábado? Nós podíamos ir, hein? Aquele DJ que você gosta vai tocar.
Já tinha visto o evento em uma rede social e confesso que fiquei tentada a comparecer. Realmente a festa parecia que ia bombar e eu adorava aquele DJ, as baladas em que ele tocava sempre eram as melhores.
– Não posso. Tô cheia de trabalho da faculdade pra fazer.
– Ah! Qual é? Os trabalhos você faz outro dia.
– Não posso – tentei transmitir a seriedade daquela minha resposta a ela. Eu queria muito, mas não podia. Minha faculdade em primeiro lugar. Um dia tudo valeria a pena... E além do mais, nos finais de semana eu chegava tão cansada em casa que meu único desejo era dormir e descansar. Se não tivesse trabalho nenhum, era apenas isso que faria sempre.
– Você nunca pode!
– Desculpe, Thaís. Eu queria ir, mas com o final de semestre se aproximando não tem condições. Tenho que terminar as plantas baixas do meu projeto pra segunda-feira. Vai ter assessoramento, e ainda tenho que estudar pra História.
Eu já disse pra vocês que faço arquitetura? Não? Que erro o meu. Pois é, eu faço a temível faculdade das exatas, humanas e artísticas, aquela que o pessoal acha que é só desenhar casinha e nunca entende que fazemos muito mais que isso. Somos um dos profissionais mais completos que existe.
– Você sempre tem esse seu projeto pra fazer... Acho que a verdade é que não quer sair com nós. A Marina também faz faculdade e nem por isso ela deixa de sair e se divertir. Ela não fica encontrando desculpas.
Ata! A Marina fazia nutrição, né queridinha. Não que eu esteja superestimando esse ou outro curso. Mas nutrição não tem a mesma exigência que arquitetura, convenhamos! Nós temos que criar um projeto do zero, pensar em cada detalhe, tanto funcional quanto estético. Pensar nas estruturas, nas técnicas construtivas, saber representar isso, conhecer as novas tendências, as necessidades do cliente, as condições topográficas e climáticas do terreno entre tantas outras coisas. Fácil e rápido? Acho que não.
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Vai valer a pena?
Short StoryFernanda é uma menina comum, que poderia ser qualquer jovem ou adulto mais velho. Ela estuda, trabalha e não tem tempo nem disposição para nada além disso. Todos os seus esforços estão concentrados no sonho de se formar uma arquiteta. As noites em...