Capitulo 1

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          - Haaa, é tão difícil de fazer!!! Preciso mesmo me expor a isso!? - Exclama a jovem, sentada, olhando desgostosa para a imaculada folha de caderno a sua frente, sob a irritantemente elegante mesa de mármore do consultório enquanto o médico, que começava a perder a paciência, a tentava persuadir:
          - Se pretende melhorar precisa por tudo em palavras, enfrentar elas e se superar... a não ser que queira continuar assim!
          - Ok, ok, me dá a droga dessa caneta! - Responde, superada pela exaustiva persistência.

          Oi...

          - Não é assim. Deixe-me ver...


          Querido diário,

          ... meio tosco iniciar assim né? Mas não sei ao certo por onde começar.

          Bem, meu nome é Lise, Lise Lima (fãns de ação dos anos... 50!? Enfim, povo da antiga vai entender!), tenho 24 anos, talvez seja mais baixa que um hobbit, não me considero nerd, mas também não significa que possa me chamar de normal, então...
Sei desenhar, escrever, amo ler, cantar, toco flauta transversal (ou tocava, pelo menos) e era estudante universitária de artes e japonês.

          É, provavelmente todos devem pensar: "Uau, que vida boa, até entrou pra uma universidade conceituada!", mas quem iria adivinhar que minha ex-faculdade, mas expecificamente meu curso, seria o motivo da minha crise artistica? A qual me motiva a escrever aqui.

          Você deve estar se perguntando:
-Ué, que sentido faz isso? Por que encontrei esse diário!?

          Acredito que nada acontece por obra do acaso... a existencia humana, enquanto permanece nesse campo finito, é como um sopro e que, por mais que em nossas mentes tenhamos acesso ao campo das idéias, nosso ser, enquanto matéria, existe num campo limitado, finito, com somente as possibilidades que existem dentro dessa finitude. Então tudo acontece dentro das combinações possíveis dentro do que chamamos de realidade. Ou seja, tudo pode ser de alguma forma destinado a acontecer e com um motivo para o mesmo.
Aida assim não é motivo pra deixar de valorizar cada detalhe dos acontecimentos e nossas próprias vidas, desde a formação e divisão de nossas células pra sermos o quem somos hoje, um copo de chocolate pela manhã até o milagre de um carro parar antes de te atropelar, mesmo após ter atravessado no sinal verde devido aos pensamentos turvos pelo cansaço da viagem longa e noites mal dormidas ou quando caiu do segundo andar de casa enquanto engatinhava na beira da escada e mesmo ficando entre a vida e a morte sobreviveu sem uma sequela!
Enfim, tudo nessa vida não acontece por acaso e existem coisas que são inevitáveis de se viver, mesmo as ruins.

          No meu caso as ruins começaram bem cedo, desde a 1a vez que pisei meus pés numa escola até os dias de hoje... espera, na verdade foi antes, quando tinha pouco mais que um ano?
          Enfim... pra resumir, passei por bullying desde que comecei a estudar. No começo pegavam mais leve, só sofria da parte de um e outro, conforme fui mudando de colégio (a cada dois anos) foram crescendo as provocações, depois passaram a dar espaço pra agressões físicas e por fim pressões psicólogicas, todo tempo mantendo isso em segredo dos meus pais e familiares; lutando contra a ideia do meu pai me obrigar a seguir carreira militar; tentando me adaptar as mudanças de estilo de vida após a falencia da micro-empresa de meu pai; tendo uma relação de altos e baixos com minhas irmãs; escutando meus tios cochichando sobre o quão "esquisita" eu era, como aparentava ter "problema" (tudo por causa de um acidente que sofri na infância); tentando não deixar os pensamentos suicidas terem muito espaço... e depois, quando finalmente decidi contar o que estava se passando para meus pais, ter que lidar com a falta de preparo deles para lidar com a situação e suas afirmações de que a culpa era minha, que eu tinha dado motivos (piores momentos) pra me perseguirem...

          Também me aconteceram coisas boas! Mas melhores foram quando escrevi meu primeiro texto sincero (inspirada pelo livro Cartas pra Deus, não o que vocês devem estar pensando, mas um brasileiro em que um menino de comunidade carente começa a escrever seus desejos para Deus ao invés de pro papai noel kkkkkk), onde escrevi chorando o meu desejo de simplesmente ser compreendida, respeitada como pessoa e ter amigos. O texto foi elogiado pela diretora (minha professora mostrou pra ela e até meus pais foram chamados pra conversar... acho que foi aí que a ficha caiu para meus pais de que a culpa do que eu passava não era minha) e isso me deixou motivada, continuei escrevendo e desenhando, ganhando reconhecimento nas aulas de arte e literatura... pela 1a vez me senti boa em algo, tinha algo do que me orgulhar, também fazia com que meus colegas de turma mudassem um pouco a postura que tinham ao meu respeito e a forma de me olhar (uns pra melhor e outros pra pior).

          Com o tempo muitos passaram a admitir que eu possivelmente teria um futuro brilhante pela frente... nesse ponto nem consigo decidir quem tinha viajado mais, se era eu ou essas pessoas que não batiam bem da cabeça, mas enfim, a maioria dessas poucas pessoas só queriam o meu bem!
          Participei de concursos de poesia, me arrisquei na dança e atuação (que vergonha!!!😖), até me atrevi a solar em público (não tenho uma voz ruim, alguns acham aveludada, mas não sou profissional e tem quem cante muito melhor) e, MEU DEUS, quase tive um treco em todas essas vezes em que me autodesafiei!!!
          Ainda assim la estava eu, a ex-gotica metaleira que parecia a sombra do colégio, se desafiando a enfrentar o mundo e as pessoas que por tanto tempo a oprimiram, mudando um pouco de personalidade e abrindo-se ao leque das oportunidades que a vida acadêmica parecia lhe proporcionar...

          Mas como nem tudo são flores, ou pior, nunca foram flores!! Lá estava Liza, que sempre teve no desenho seu refúgio da selva, vulgo sociedade, decidindo deixar de lado uma possível carreira de escritora pra fazer nada mais é nada menos que moda... De todas as opções que tinha escolheu justo essa que tanto decepcionava seus professores de artes, literatura e filosofia!!! Kkkkk
Credo, estou me chamando na 3a pessoa!!! 😂😂😂😂😂
         Até aí tudo bem, tinha encontrado o caminho pra descobrir meu espaço no mundo e o que fazer do meu futuro. Estudei feito condenada, não tanto quanto deveria, mas bem além do que estava acostumada, foquei nas disciplinas que era fraca ao ponto de até vacilar nas que era boa... estudava de manhã, fazia a dependência de matemática (depois do 7o ano exatas passou a ser tortura pra mim)

          É, a vida da voltas... e nem sempre pra melhor!

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⏰ Última atualização: Oct 31, 2019 ⏰

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As "pias" de LizaOnde histórias criam vida. Descubra agora