Capítulo 4: Hitler

205 18 4
                                    


- Muito obrigada, - disse de forma flirtante em inglês, pois de alemão não manjava nada, além de que não pôde resistir flirtar com um homezão daquele porte e virilidade, beleza igual ao do tipo merecia ser venerada.

Ele olhou-me com indiferença e respondeu austero, - de nada.

Franzi o nariz não entendendo seu mau humor, - desculpe-me, mas algo de errado?

Não pôde deixar de perguntar, pois curiosidade fazia parte da minha profissão e sinceramente não entendi porque depois de ter-me ajudado, tratou-me tão mal?

Fiquei ainda mais pasma com sua atitude seguinte, em vez de justificar-se, simplesmente olhou-me atravessado, como se eu fosse um impertinente mosquito em seu ouvido e foi-se embora sem mais nem menos, filho da puta!

Quem esse branquela pensava que era, sabia ele com que estava lindando!?

Como um atrevido pertencente a este insignificante vilarejo tratava Eunice Matos desse jeito!?

Quis chamá-lo e fazê-lo saber exactamente com quem estava lindado, mas a voz no meu celular chamando freneticamente o meu nome acordou-me da ira, merda, Ken! Rapidamente voltei o celular no ouvido.

- Ken, desculpe.

- Barbie, o que aconteceu, fiquei preocupado, pensei que os nazistas te pegaram ou algo do género.

Por mais irritada que estivesse, a brincadeira de Ken, fez-me sorrir, - pior, um Hitler passou por mim.

- Aí cruzes, o que aconteceu?

- Depois explico com mais detalhes, tenho que ultimar essa compra infernal e sair mais rápido possível desse lugar antes que seja acusada de homicídio.

- Cruzes, quem foi que provocou-te a esse degrau, mulher?

- Mais tarde Ken.

- Okay, okay, assim que chegares em casa, liga-me.

- Com certeza.

E com isso desliguei a chamada, rapidamente continuei com as minhas compras, irritação sendo alimentada pelo facto de não encontrar os produtos que queria e não conseguir ler a informação do produtos disponíveis, não ter pessoal qualificado e ainda por cima aquele Hitler estar rodando o minúsculo supermercado, esbarando-nos por vezes e em todas ele ignorando-me completamente, deixava-me mais irritada! Pois não era mulher de ser ignorada por nenhum homem viril, comprometido ou não.

Então, das duas umas, ou ele era boiola, coisa que eu duvidava, pois meu faro não falhava, ou o branquela era um racista do caralho. Coisa que se fosse comprovada eu não descansaria enquanto não enfiasse sua bunda branca na cadeia.

Contudo, decidi não perder tempo com frivolidades, o espaço em minha emente era concorrido demais para preocupar-me com essas picuinhas de gentinha minúscula. Estava aqui para fazer um trabalho e meu trabalho faria.

Não pretendia de jeito nenhum ter um romance de viagem ou fazer amigos, além de que estava cheia de ambos, e apostava que Hitler, com aquela frieza toda nunca conseguiria satisfazer uma mulher quente como eu na cama, para isso tinha o Romeo

Portanto, fingi não me importar com sua presença também e depois de ter tudo que precisava, fui a caixa pagar a minha conta e não foi que o desgraçado escolheu exactamente aquele momento também para pagar as suas contas também, puta que pariu, era perseguição o quê!

Por sorte ele estava em outra caixa, pelo menos esse mercadinho tinha duas caixas, assim não teríamos que olhar para as fuças um do outro. Com as compras pagas, tirei o cartão da pousada que estava hospedada e mostrei a vendedora, perguntando se ela poderia me mostrar o caminho de volta num inglês lento, pois vim de carona do amigável e cândido filho da dona da pousada, outro absoluto gato alemão, mas que infelizmente não tinha a mesma energia masculina do Hitler, mas em compensação, edução e gentileza eram a praia dele.

E o melhor de tudo, ficou todo encantando por mim como era de se esperar, outro pobre coitado apaixonado na minha mão, que se não fosse branco, com certeza comeria, mas enfim, não poderia ter-se tudo que queria.

A moça demorou uns segundos prestado atenção no que eu dizia, pelo menos ela claramente queira ajudar-me, já era um ponto, de seguida começou a explicar-me num alemão misturado com inglês, que eu não entedia merda alguma, e isso só piorou minha irritação.

Mas que merda de língua era essa!?

Tentei coordenar a conversa, pra que pudéssemos nos entender, mas nada, zero, nyet! Quando já ia desistir de tanta frustração, foi aí que o infame Hitler decidiu intervir.

- Ela disse para pegares a estrada principal, até encontrares o cartaz que anuncia o desvio de sua chegada, chegarás sã e salva, não é longe, uns 5 km, mas pelo menos não te perderás.

Pela deusa da justiça Atenas, como um homem com um corpo, porte e aquela voz, meu Deus aquela voz... de molhar a calcinha poderia ser tão grosseiro...? O timbre de sua voz grossa e poderosa desfocou-me por um segundo de suas palavras, só mais tarde foi que meu cérebro processou o que ele tinha acabado de dizer.

- O quê! – perguntei perplexa.- Tá de brincadeira comigo, 5 km com esses plásticos? Não há nenhum táxi ou algo do género que possa levar-me?

Um sorriso descrente abraçou seus lábios finos e pálidos rosas e de alguma jeito retorcido sua beleza aumentou, filho da puta! Ficou mais másculo...

- Como podes ver, moça da cidade grande, isso aqui é uma vila simples. O povo daqui está habituada a andar e apreciar a natureza enquanto faz isso, então sugiro que sigas o exemplo. – E o Hitler voltou.

Tava demorando...

- Podes ter certeza que isso nunca passou despercebido por mim. De Nova Iorque, isso não tem nada.

- Ah, a grande maça, tá tudo explicado. – Disse com desdém, como se ser nova iorquina fosse algo nefasto.

- Hei, eu não sei de onde veio está animosidade toda, mas creio que não dei motivos para tal, então se o senhor não quiser ajudar, peço que não atrapalhe!

Ele olhou-me contrariado como se não pudesse acreditar que eu tivesse tido a coragem de responde-lo, e vi nos seus olhos que vinha uma resposta a altura, mas contudo, foi cortado quando a nossa vendedora, que decidiu dizer algo naquela língua chata e uma conversa na língua natal deles começou, deixando-me completamente no escuro, coisa que não me agradou, pois poderiam estar muito bem planeando matar-me e enterrar-me no quintal... eu e as minhas teorias, além de que era rude conversar numa língua que os outros não entediam, contudo a cara de poucos amigos e o tom nada satisfeito de Hitler trouxe um pouco de alegria em mim, pois com certeza, seja lá o que conversavam, não o deixava feliz.

Essa vendedora... Ingrid, li o seu nome no tag da camisa de uniforme do supermercado, estava se tornando umas das minhas pessoas favoritas deste vilarejo.

- Ele... levará. – Disse ela num inglês quebrado e imediatamente olhei a ele em questão confusa.

Todo mal disposto disse, - eu a levarei a pousada.

Milagre! Pela única divindade que eu venerava, a deusa da justiça, para quem não queria nem ver-me pintada de ouro, considera-me levar a pousada deveria ser um enorme sacrifício.

- Dê-me só um momento. – Disse austero, mas eu nem liguei, entre suportar o silêncio gritante por alguns minutos dentro de um carro com Hitler e ter que andar a pé com essa toda trouxa, eu escolhia mil vezes o Hitler.

Aprendi a ser pratica muito cedo e orgulho nessa vida nada valia, por isso nem pensei duas vezes antes de aceitar sua proposta, pois não ser querida não era novidade pra mim, afinal de contas eu era a cachorra dos divórcios, a megera sugadora de todo dinheiro dos pobres e coitados maridos, a que não tinha escrúpulos e moral.

E de verdade eles não estavam errados, não era uma boa pessoa, mas porquê seria, bondade não levava a lugar nenhum, o que ganhava-se boa, mas pobre orgulhosa, a morrer de fome? Nada, então nem estava ligando que ele preferia estar em qualquer lugar do mundo menos ao meu lado.

Apesar de ter ficado chateada de princípio com sua atitude grosseira injustificável, tinha certeza que assim que resolvesse esse caso nunca mais veria esse infeliz, azedo e mal-humorado, todavia, o que mais doía, não era sua grosseria, isso eu suportava, o que doía-me, era sua completa ignorância ao meu charme, nenhum homem rechaçou-me assim, sem um segundo olhar sequer. Será que estava perdendo o toque...?

Segredo: O Marido da Minha ClienteOnde histórias criam vida. Descubra agora