| uma moeda e um sorriso |

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J A Y

O seco som da moeda de Preston que se lançava no ar e pousava na palma de sua mão direita, era o único ruído que ecoava na cela dos dois garotos silenciosos.

Jay estava pronto. Não tinha o que levar além de um casaco e um boné de beisebol, que um dia possuiu o emblema de algum time americano. Trocou-se, e vestiu-se em roupas velhas que ganhou em algum mês que uma igreja doou roupas para o reformatório. Um jeans velho e desbotado, uma camisa com um leve furo do lado direito de suas costelas, o casaco de tecido grosso logo por cima, e um par de tênis de corrida, com um tempo de uso também. Ele estava satisfeito com o reflexo que enxergava no pedaço de espelho que tinha do seu lado da parede.

Respirando fundo, ajeitou o seu cabelo, levando os fios para trás, cobrindo-os em seguida com o seu boné. Ainda de costas, conseguia ouvir os passos firmes pelo corredor, e o ruído causado pelas chaves batendo contra o quadril de um dos guardas. Saber que um deles se aproximava sempre lhe causava uma sensação ruim, mas não desta vez. Virou-se a tempo de encontrar o rosto de Julius, o homem fardado que parecia odiar até mesmo respirar.

Girando os calcanhares, Jay caminha até a sua cama, inclina-se para frente, colocando seu antigo uniforme sob o travesseiro. Passou anos praguejando a sua cor, ainda que azul fosse sua cor predileta, apreciava qualquer outro tom além daquele. Prestes a caminhar até a entrada da cela, um assobio chama sua atenção. Era Preston, ainda recostado contra a parede completamente desenhada e riscada pelas pontas de sua moeda, ou quaisquer outras coisas pontiagudas que conseguia para marcar os números de sua contagem, como um calendário antigo. Havia desenhos também, a maioria deles parecia fazer sentido apenas na mente do rapaz sombrio e silencioso.

Nenhuma palavra foi dita, como tinha feito desde os oitos meses que se tornou novo parceiro de cela de um dos mais antigos a residir o pequeno cubículo. O instinto das aulas de defesa pessoal que Jay fez um dia acionou um alerta para que alcançasse a moeda que voou no ar. Com a mão livre, apanhou-a. Girou-a em seus dedos, e observou que era uma moeda sem valor, antiga, algo que nunca compreendeu o motivo que Preston passava o dia lançando-a para cima e para baixo, tendo sempre o seu cabelo longo cobrindo seu rosto. E ainda que nunca tenha trocado uma palavra com aquele que dormia na cama ao lado da sua, estava dando-lhe um presente de despedida. Ou, talvez, um amuleto para que tenha sorte assim que passar pelos portões.

Com um breve aceno, agradece ao homem que volta a se deitar, virando-se de costas. Julius parecia impaciente do lado de fora, algo típico seu. Ao empurrar a porta da cela destrancada, Jay se coloca para fora. Ele fazia isso, todos os dias, pela manhã, tarde e noite. Mas era diferente, no entanto. Ele não iria cumprir as tarefas diárias sabendo que teria que voltar quando concluísse cada uma delas.

Algo pesava em seu peito. Ele sabia que seu coração batia depressa, estava ansioso, nervoso, prestes a explodir. Seus passos eram ligeiros, tanto quanto os do guarda que estava logo atrás, caminhando em sua postura mais prepotente e intimidadora, olhando para os lados, ouvindo os murmúrios afoitos. Os detentos gritavam, e colocavam seus rostos próximos às grades, e alguns olhavam feio para aquele que tinha a visão coberta pela aba curvada do boné, evitando olhar para os responsáveis pelo inferno em que viveu durante anos.

Julius se posiciona na frente, e gira uma das chaves no cadeado que liberava o acesso até mais alguns corredores. Jay fez uma breve pausa, e deixou que o guarda seguisse na frente. Caminharam por alguns minutos, até que uma grande porta de metal foi empurrada para frente, revelando um lugar que o detento nunca tinha ido, em todo o tempo que passou aprisionado. Olhou ao redor, e ergueu seu queixo ao avistar mais guardas, mais assustadores que o que andava em sua frente. Tinha homens vestidos de terno, tendo os colarinhos de suas camisas impecavelmente brancas contornados por gravatas em nós apertados e perfeitos.

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