A L E S S I A
Pelos corredores sempre silenciosos, apenas o som de risadas preenchiam o ambiente. A cabeleira encaracolada da garota em sua cadeira de rodas poderia despertar ansiedade em qualquer pessoa para tocar os fios armados e tão loiros, mas é o seu sorriso brilhante que cativa aquele que olhar para ela. Girando as rodas e deslizando-as r ente ao piso, ela se apressa em fazer uma curva ao mesmo instante em que mais risos explodem do garoto pequeno que estava agarrado em seu pescoço, mas não tirava sua atenção do caminho apressado que faziam.
— Pare com isso, Alessia! — O homem de cabelo levemente grisalho vocifera, abandonando os papéis no balcão da recepção, virando-se para encontrar a loira que o olha atentamente, mas não perde o sorriso. — Você pode se machucar.
Bufando, ela para em seu lugar e olha para o seu pequeno amigo que, envergonhado e assustado, salta para o chão, puxando para baixo a sua camisa listrada de botões.
— Estou em um hospital, pai. Acho que me machucar seria o menor dos problemas. — Indaga completamente confiante de suas palavras. — Bom dia, Eva.
Com um sorriso genuíno, saúda a mulher vestida de branco que se apressa para apanhar nos braços o seu filho.
— Bom dia, menina. — Faz um rápido carinho no cabelo de Alessia, e distancia-se, olhando de canto para o homem que tinha o cenho franzido. — Sinto muito por isso, Alex. Não sabia que minha irmã já tinha o deixado aqui, eu... Isso não vai se repetir.
Seu rosto ganha um tom vivo e intenso de vermelho. Do outro lado, um pouco mais para baixo, a garota radiante, sorria esperançosa, revezando entre olhar para a mulher envergonhada e para o homem que também parecia desconfortável.
— Não se desculpe, Eva. — Mudando o peso de uma perna para a outra, arrisca-se em alterar o seu olhar imponente para um mais suave, a fim de tirar o peso que havia os envolvido. — Alessia é que gosta de me dar mais alguns fios brancos.
A risada fraca e sonora que escapa dos lábios da médica que acariciava as costas do filho mostra que seu dever havia sido feito. Embora o olhar curioso da adolescente deixava-os completamente fora dos eixos. A cabeça loira fervilhava com várias ideias e suposições, e poderia soltar cada uma delas, a qualquer momento, mas sabia que isso iria assustar o inferno para fora das duas pessoas mais evasivas que conhecia.
Eva não era a sua médica, realmente. Mas devido a suas visitas contínuas ao hospital, acabou se tornando uma grande amiga e ouvinte desde o acidente. E em um desses encontros, conheceu Zachary, um garoto tão pequeno e magro que, assim como Alessia, precisava estar sempre sendo vistoriado por equipes profissionais para mantê-lo estável. E, de alguma maneira, aconteceu que a bela mulher despertou algo no coração do homem sério e racional que era como uma sombra atrás de sua filha. Qualquer um que olhasse para os dois, desviando os olhares quando pegos em flagrante, arrepiando quando os corpos roçavam um no outro, e todas as vezes que um deu suporte e estabilidade para que continuassem firmes em suas lutas diárias, teriam absoluta certeza de que existia um sentimento que ia muito além de amizade e consolo profissional. Isso animava a loira de forma surpreendente, pois ela queria que seu pai fosse feliz, e jurou a si mesma mover seus finos e inquietos dedos para ajudá-los.
— Eu preciso ir. — Eva balbucia ao ouvir o seu nome ser chamado nos alto falantes espalhados pelos corredores. — Desculpe, novamente. E tenham um bom dia... Alex. Alessia.
Olhando para os dois rostos, a morena se distancia, caminhando depressa, ainda agarrada a sua criança que se despede de sua companheira com um aceno amigável. Alexia, que nunca havia deixado de sorrir, leva suas mãos até o alto de sua cabeça e aperta o seu laço azul, endireitando-o bem no topo, e desliza os dedos por seus cachos que emolduravam o seu rosto empalidecido por natureza, mas com traços extremamente semelhantes aos da mulher que não teve a sorte de ver a filha crescer e se tornar sua fiel cópia. De seu pai possuía apenas os olhos que alguns podiam jurar serem azuis, outros afirmavam serem verdes, e até mesmo amendoados. Não dava para saber, pois a cada emoção sentida, as íris alternavam em variados tons. Todos eles, encantadores.
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Volabunt
RomanceVoar. Todos, algum dia, já sonharam em voar como pássaros no céu. Alessia Rolf, desde menina, procurava maneiras de pegar um bom voo, para levá-la para longe quando tudo ficasse difícil. E entre tantas coisas que pudesse fazê-la se imaginar flutuand...