XI - MUDANÇA DE PLANOS

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— Nunca desista.

A sereia disse com uma voz doce e sussurrante, e aquelas foram as únicas palavras que falou em seu ouvido enquanto o tomava em seus braços calorosos.

Lú nunca pensou que a encontraria novamente. Samy. Uma ninfa de presença angelical. Era como estar no céu embaixo d'água! Aquela era a sensação do místico que ele sempre procurou em Lauren.

Lú teve a impressão de estar sendo puxado. Arregalou os seus olhos e abraçou firme o corpo da sereia. Ele não queria ir embora, queria ficar ali com ela para sempre.

— É hora de ir, meu pequeno. Volte para a sua vida...

A voz sussurrante da sereia ecoou em sua mente como telepatia. Ele a sentiu beijar sua bochecha ao mesmo tempo em que seu corpo se desmanchava em bolhas e se misturava com a água. Então Lú foi puxado para a superfície

— Você mergulha muito mal — Karlo falou zombeteiro e rindo cinicamente. — Conseguiu me enganar direitinho. Você sabe nadar e muito bem.

O garoto não conseguia entender. Naquele momento, ele se viu perto de Karlo na parte funda do lago e nadando! Mas ele não sabia nadar antes. E outra coisa estranha era que ele tinha ficado submerso por vários minutos, mas ele se lembrava perfeitamente bem que afundou como uma pedra até ser abraçado pela sereia ninfa.

— O que há com você? — Karlo perguntou ao notar a face pensativa do garoto.

— É que... eu fiquei embaixo d'água por muito tempo e...

— Muito tempo? Nem chegou a ficar dez segundos, sequer afundou seu corpo completamente. Por isso eu disse que mergulha tão mal.

Lú não sabia o que tinha acontecido. Será que tudo aquilo, mais uma vez, foi obra da sua mente? O garoto suspirou. Já estava ficando exausto de tantos eventos misteriosos, e tudo isso após o desastre em sua ilha.

Ele não percebia o quanto Karlo o olhava, era como se estudasse a sua alma. O garoto estava quieto, parecendo assustado, e isso incomodava aquele homem.

— Se continuar com essa cara de vítima não vai conseguir chegar aos doze anos.

Ao ouvir isso, Lú prestou mais atenção nele.

— Escute bem, garoto. Precisa ser mais confiante. Esse olhar de criancinha perdida que você tem passa uma imagem de fraqueza às pessoas, ou melhor, ao inimigo. Você seria uma presa fácil.

— Mas... eu tenho medo de verdade e eu não sei lutar.

— Se não sabe, aprenda! Venha comigo.

Karlo nadou até a margem e Lú o acompanhou. Saíram da água e vestiram as suas roupas. O garoto abandonou de vez as suas roupas velhas e rasgadas, vestiu uma calça marrom bem folgada nas pernas e uma camisa estilo túnica cigana de cor branca. Ainda não tinha sapatos, mas aquilo já era o suficiente para ele.

Os dois se sentaram em uma das rochas à beira no rio e começaram a comer os pães que trouxeram em uma cesta de cipó.

— Sabe, garoto — disse Karlo, após engolir um pedaço de pão — eu quero que fique com a gente.

Lú olhou para ele, admirado, enquanto mastigava.

— Não te conheço bem para manter algum afeto, e não é por pena. — O olhar do homem estava distante, para além das árvores. — Acho que você não tem conhecimento do que está acontecendo, então vou lhe contar. O maldito rei de Erágolis está conquistando terras sem nem se importar com seus moradores. Como aconteceu com o seu povo. — Ele fitou o garoto. — Aquelas ilhas agora pertencem a ele. E está acontecendo o mesmo com outras terras e, diferente do fim trágico dos homens azuis, muitas pessoas, as mais pobres e de vilas mais remotas, estão sendo escravizadas para a construção de um muro. Mas não um simples muro. Um muro gigante que cercará todo o território que ele domina. Eles estão quase em guerra com o reino de Tandária por essas malditas terras. Agora estão precisando de soldados e de escravos. E ontem você pôde constatar que ele levaria todo mundo.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora