XXVII - RUÍNAS

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Gabbe afivelava a sua bota de couro de cano alto. Ela pôs-se de pé, ajeitando a bainha em sua cintura. O peitoral da sua armadura de aço era extenso, de modo que cobria todo o abdômen. Usava um par de ombreiras presa ao peitoral, e por baixo daquela ferragem, ela vestia uma camiseta branca de mangas justas até os pulsos e sua velha calça larga, usando um par de tassets para proteger cada coxa. No cinto, estava presa a bainha com a sua nova espada, e nas mãos, luvas compridas de couro que cobria as mangas de sua camiseta até os cotovelos. Carregava o seu elmo por baixo de um braço, um tanto preocupada com aquela pouca proteção — já que Luária não forneceu equipamento necessário para os rebeldes.

O rabo de cavalo de Gabbe, com suas longas madeixas louras se agitavam ao vento, enquanto a sua franja caía levemente sobre os olhos verdes. Ela fitava a movimentação no cais de madeira construído na praia não muito longe da vila de Luária. Homens fortes transportavam caixas de tábuas para o convés daquele navio velho. A garota se perguntava se aquele monte de madeira coberto de musgo conseguiria navegar até alto-mar.

A maré até parecia calma, depois de uma noite chuvosa se imaginaria muito vento. O cais de madeira não era muito extenso, apenas continha uma embarcação. A trilha seguia em frente até o encontro do navio, que, por sinal, não era nada exorbitante. Era o caminho dado para a guerra que se aproximava. Por incrível que pudesse parecer, alguns aliados de acampamentos próximos já estavam por ali, vestidos com suas armaduras e armados da melhor maneira possível.

Jober parou ao lado dela, de braços cruzados, embaixo da sombra de uma árvore sem muitas folhas. Ele trajava a sua armadura, que era bem básica, contendo peitoral, ombreiras e diferente de Gabbe, ele usava caneleiras de aço afiveladas com tiras de couro em suas botas. Ele penteava o cabelo com os dedos, jogando-os para trás, enquanto o sol matinal encobria as cicatrizes de seu rosto.

— Gostou da espada? — ele perguntou à loura, observando a espada embainhada que ela levava na cintura.

Gabbe matinha o olhar distante, no navio movimentado.

— Não é grande coisa — ela respondeu com indiferença. — É apenas uma espada.

— Austin escolheu a melhor espada em seu arsenal. Devia ser mais grata pelo presente. — Jober riu baixinho enquanto analisava as unhas dos dedos das mãos.

— Foi muita gentileza dele. — Gabbe lançou um olhar mortal para o amigo e disse, enraivecida. — Eu só aceitei porque realmente estava precisando! Não dá para ir a uma guerra de mãos vazias.

— Calma, amiga! Eu só acho que ele gosta de você. — Jober sorriu, sarcástico.

— Ele não gostava de mim quando eu era criança, por que iria gostar agora? — Gabbe revirou os olhos.

Jober olhou a amiga da cabeça aos pés, analisando cada detalhe da sua armadura justa, principalmente no peitoral.

— Você cresceu agora, meu bem!

Gabbe bufou frustrada, tentando fingir que não havia escutado aquilo. Logo a sua atenção se voltou ao homem de cabelo prateado que conversava com Austin não muito longe dali.

— Pode esquecer! — Jober exclamou ao notar aquilo. Gabbe olhou para ele, estreitando os olhos. — Por que está me olhando assim? — ele indagou perante aquele olhar nervoso. — São apenas fatos, minha querida. Só aceite!

— Eu não vou desistir dele! — Gabbe o encarou com nervosismo.

— Deveria! — ele retrucou. — Karlo nunca vai trocar Isis por você, meu bem.

— Dormirmos juntos! — ela sussurrou entredentes.

— Não faz diferença. Ele ama Isis e você sabe muito bem disso.

Legend - O Feiticeiro Azul ( Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora