Jullius ficou meia hora na porta, ouvindo a tia da namorada, brigando, reclamando, da sua irresponsabilidade.
— Tome cuidado, seu Jullius! Ela não é minha filha mas ainda assim sou parente dela e não é por que tu tá numa festa que tu vai deixar ela só, se fizer isso outra vez pode esquecer que ela existe!
— Eu estava ajudando um amigo meu que tava passando muito mal na festa e...
— Não quero papo de sem vergonha! Já te falei. Outra das suas e nunca mais vai ver a Ana. Se gosta dela vai fazer o que é melhor...
— Tia! A senhora não ouviu ele... Ele tava fazendo a boa ação de ajudar o amigo e a senhora fica assim, falando que ele é um sem vergonha! — defende Analisa.
— Minha menina não caia nessa não! Gente sem vergonhas conheço de longe. E tu, Jullius, entre mas pense bem, se não quizer ter problema é só não caçar! Mais uma das suas e ela te troca pelo moço que a trouxe, agora pouco.
Jullius olha para Analisa sem pestanejar e entra na casa, indo direto para seu quarto.
— Tia... O quê a senhora fez?!
— Minha menina. Nunca namoraria esse menino, ele já fez tantas coisas que tu não sabe.
— Hã?
— Vamos dormir que já tá tarde.
— Não tia. O que Jullius fez?
— Faz muito tempo...
— Fala tia, por favor.
— Uma vez eu vi ele beijando outra mernina, mas faz tempo e nem deu tempo de'u te falar por quê tu já tinha ido.
— É mentira Ana! — diz Jullius, de volta, na sala. — Era uma prima.
— Ah seu safado! Me diz uma coisa. Toda prima sua, tu beija na boca? Eu não tô doida, não, meus olhos não dizem engano. Ou agora vai me dizer que era teu irmão gêmeo e não tu?
— Jullius... É verdade? Tu fizeste isso mesmo? — os olhos de Analisa começaram a transbordar de lágrimas.
— A-ana... Eu, eu...
— Tu não presta menino. — disse Antônia, com um semblante nada amigável.
Analisa corre e se tranca no quarto.
>>><<<
No dia seguinte, somente Analisa e Jullius, presentes na humilde morada, pois a tia saiu para lavar roupa no rio.
Jullius bate na porta do quarto de Analisa.
— Ana? — bate mais algumas vezes — Aninha?
— O que tu quer?
— Deixa eu entrar e bora conversar.
— Me deixa.
— Por favor, Aninha.
— Não me chame de Aninha.
— Oxe. Tu sempre gostou de ser chamada as...
— Para. Eu vou abrir. Só um minuto.
As olheiras em evidência no rosto jovial da namorada, confirmavam a noite em claro que passou.
— Eu posso entrar?
— Vamos conversar lá na cozinha.
Ao estarem no cômodo mais simples da moradia, Jullius começa a falar.
— Ana, me entenda, a sua tia não gosta de mim. Ela vive apontando e caçando falhas em mim!
— Mas ela tá é certa. Ela fica responsável por me abrir os olhos! Já que tu aproveita pra endiabrar a boboca aqui!
— Tu não vê? Ela não quer que tu namore e aí fica inventando coisas.
— Ela sempre me deixou livre pra namorar... Sua desculpa não tem nenhum dos fundamento.
— Aninha, ela tipo deixa não deixando!
— Para de palhaçada.
— Tá, me perdoa por te deixar sozinha na festa.
— Só vou quando tu me amostrar o tal amigo que tava passando mal ontem.
— Se quizer amanhã mermo te mostro ele.
— Quero ver ele hoje mesmo.
— Quê? Por quê?
— Por quê pergunto eu, qual é dessa cara de espanto?
— Não é que... Ele tá mal, nem sei se vai querer receber visitas.
— Não me importa. Quero ver ele e ponto.
— Tá, tá, Ana... Faço tudo por ti. Pra tu ver que'u te gosto tanto.
— Agora vai no rio e trás esses baldes todos cheios d'água.
— Mas são muitos...
— Então melhor tu voltar pra cidade e me esquecer. Meu homem tem que ser trabalhador.
— Oh, Ana...
— Tu decide. Não te prendo, então não me faça perder a cabeça e nem o precioso dos meus tempo.
— Eu não desisto da minha querida!
— Bora ver. Ande logo com a água. Tem que ser pro almoço e merenda não pras jantas. Ligero.
"Agora lascou tudo. Aquela mocreia réa da Antônia, tinha que ser bruxa e me encher de problemas! Bom, pelo menos a noite de onte foi boa... Fico mal pela Ana, não queria ter feito aquilo. Acontece. Só que vou ficar com a Aninha, pois Ametista me enrolou, pelo menos eu tô de boa, pra ter Aninha de volta é só arranjar um cara, pra fingir ser meu amigo, e lhe pagar pra mentir."
Jullius assim planejava continuar com Analisa, pois ainda queria ter ela "por inteiros". E depois, deixaria a vida lhe levar, seja para outros braços, seja para um futuro quase utópico de marido fiel da sua atual namorada.
Mas Jullius também se recordou de um fato. Precisava saber quem havia acompanhado Analisa na noite passada. Ficou sem chão ao ouvir "mais uma das suas e ela te troca pelo moço que a trouxe, agora pouco."
Assim que Jullius chegou no rio para encher os baldes, ele viu um rapaz, aparentando ter a mesma idade, lavando as mãos.
— Ei cara, ei. Vem cá.
— Bom dia para você também.
— Ah, bom dia, preciso de um favor seu. Pode ser?
— Diga.
— Cara... Eu tou precisando dum amigo, pra apresentar pra minha namorada e eu disse pra ela que ele tá doente e tal, mas eu menti e queria saber se tu pode me ajudar.
— É só falar a verdade.
— Não quero conselho, quero que tu finja ser o tal cara...
— Ah. Entendi.
— Me ajuda aí. Depois te pago.
— Bem, eu...
— Por favor cara. Vou perder ela se não fizer isso,
gosto dela por demais. Eu prometi pra mim mesmo que conto a verdade, depois de tudo se ajeitar.— Tá, eu te ajudo. Me explica direito o que devo fazer.
>>><<<
— Tu não sabe o que é ligeiro, né? — fala, rispidamente, Analisa arrumando a casa.
— Desculpa, meu bem.
— Chega de pedir desculpas. Tem que pensar antes de agir, pois tudo não se conserta com um simples pedido de desculpas.
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Feno de Amor
RomanceAnalisa decide passar as férias no campo com Jullius, seu namorado, longe de "pessoinhas fofoqueiras" como fala a adolecente de 15 anos. Jullius, um garoto de 16 anos, quer algo a mais do que Analisa permite até o momento. Estão crentes que o campo...