Jullius terminou o banho no rio e já estava saindo quando ouviu uma voz humana vindo de uma margem do rio escondida pela folhagem farta e verde.
— Não faça isso não!
"Eu vou é lá ver o que é, parece que está com dificuldades e pela voz só pode ser mulher." Pensa Jullius ao avançar nas espécies de plantas da margem do rio calmo aos primeiros raios de luz do Sol.
Ao chegar na margem que estava oculta, viu uma moça tomando banho e ficou escondido espiando ela.
— Não tenha medo. Saia daí e venha tomar banho comigo...
Ele, que até então estava maravilhado com tamanha beldade, deu um pequeno salto para trás ao saber que ela já tinha percebido a sua presença.
— Não se acanhe, se aproxime, eu quero te conhecer melhor.
Ele se aproximou com passos curtos, temendo algo.
— Deixe aquela tonta da Analisa... — falou a moça, com malícia na voz e se preparando para vestir uma saia e blusa mui simples, vestes rudimentares.
— Cuidado com o que fala! E da onde conhece Analisa e eu?!
— Te vi por aí... Vem viver comigo, nas matas, sem problemas, sem empecilhos. Tenho certeza que vai gostar.
— Você... É doida. E eu seria mais doido se te desse ouvidos!
Jullius começou a sair da margem do rio para ir para casa, quando ouviu da bela moça:
— Eu tenho uma proposta — ela mostrou um pequeno baú aberto cheio de prata, pedras preciosas, pepitas e moedas de ouro — lhe dou uma semana para terminar com ela e ser meu.
— Como tu se chama?
— Ametista. Aceita ou não?
— Ah... Eu... Preciso pensar.
— Que pense bem... Tenho beleza e inúmeras riquezas, se aceitar... Não irá se arrepender.
— Aonde posso te encontrar?
— Neste rio, nestas horas, ou nos festejos que virão neste mês. O meu irmão é o que mais dá festas na região. Como pode ver, sou moça rica e bonita... Não acha?
— Ah... Preciso ir.
— Não se esquece... — Ametista ergue o baú, ainda aberto, para o alto e um raio forte da luz do Sol, ilumina mais o dourado do ouro.
Jullius olha ela mais uma vez e, finalmente, decide partir.
Enquanto ele não chegava, Analisa sentou em uma cadeira da varanda à espera dele, ainda em jejum.
— Mas mernina, tu ainda tá aí?
— Tô esperando ele, tia.
— Mas tu tem anemia, não pode ficar tanto tempo sem comer.
— Mas ele...
— É um irresponsável! — interrompe a tia — Te deixar esperando! Vem comer, vem! Que é melhor.
— Ali ele, ali, ó!
— Demorou, tava tão sujo assim mernino? — tia Antônia se retira balançando a cabeça, em ato de desaprovação.
— Quê tua tia tem?
— Deixa ela, tá tão cheiroso! Vamos merendar.
>>><<<
— Lindo, demorou por quê?
— Vi uma cobra... Uma cobrona, jiboia passando e aí tive que me esconder pra ela não me pegar ou você queria que eu fosse comida de cobra?
— MEU DEUS VOCÊ QUASE MORREU! TIA! OOOH TIAAAAA!
— Aninha que doideira, para! Para!
— Que é isso aqui, heim gente? — chega a tia correndo, limpando as mãos no pano de prato.
— O JULINHO QUASE MORRE! TEMOS QUE CHAMAR HOMENS PARA MATAR A COBRA DO RIO!
— Não tem cobra não minha menina, se tivesse, tava todo mundo perdendo criação, perdendo pato, galinha... — fala a tia olhando de soslaio para o Jullius. — Tu viu a cobra mermos, menino?
— Acham que tou mentindo? Quer saber... Se não acreditam, depois não digam nada, quando virem a cobra... Vou armar minha rede e dormir um pouco, depois ajudo vocês no que precisa. — Diz Jullius ao ir para o quarto.
— Tia se ele disse que tem... É verdade! Pra quê mentiria?
— Sei não minha menina, sei não.
>>><<<
— Esse seu futuro marido é muito preguiçoso, minina. — diz a tia varrendo a cozinha.
— Ele deve tá cansado. Já ele vai tá com toda energia e vai nos ajudar como falou. Até vou ver se ele tá acordado.
Analisa vai ao quarto, em que seu namorado está, e o encontra observando o horizonte, se balançando na rede.
— Descansou? —indaga Analisa da porta.
— Bastante. Chega mais, até parece que tem é medo de mim. Aproveita que tá aí e fecha a porta... Não quero atiçar a minha alergia...
— Claro. — Ela faz exatamente que o namorado lhe pediu. — Então... Vim ver se já pode nos ajudar a carregar água. É só enquanto o poço não é consertado.
— Daqui a pouco eu vou. — diz Jullius, olhando para a paisagem que a janela aberta do quarto lhe permitia.
No quarto, há vários objetos simples, possui também, uma cama de casal aparentemente nova ao lado da rede armada nos ganchos dispostos nas paredes.
— Tá. Então... Fiquei pensando e... Aqui tem muitos festejos, sabe? Nessa época do ano. Então eu pensei... — Analisa começa a falar.
— É claro que vamos. Foi um dos motivos de'u tá aqui. Né?
— Ah... Claro! Que bom saber! Eu estou muito ansiosa pra esse final de semana de agora! — Ela se senta na cama.
— É bom... Pode caprichar no vestido. Te quero tão bonita, como agora. — Ele se senta na rede, contemplando o corpo da namorada, que vive usando vestidos de estampa de flores das mais variadas tonalidades.
Analisa fica visivelmente vermelha.
— Bem... É por isso que'u te chamo de lindo! Tu é meu lindo!
— Ah obrigado, mas tu és mais Aninha. Ei Ana, vê se tua tia tá em casa.
Analisa procura pela tia na casa inteira, mas ela devia ter saído para buscar mais água.
— Ela não tá. Mas pra quê quer saber?
Jullius se levanta da rede e fecha a janela e volta para onde estava.
— Aninha... Queria saber se tu... Se já tá pronta.
— E-esse assunto outra vez?
— Não gosta de falar disto?
— E-e... Já falei, nós já falamos sobre isso. Agora não eu acho que...
— Tu mesma disse que não esperaria casamento.
— É mas... Não é só porque eu falei isto que vai ser de qualquer jeito.
— Tu não me ama?
Um silencio preenche o pequeno e simples, ambiente.
— É claro que'u te amo, meu lindo. Não é à toa que tamo juntos há tempos. — fala ela séria e, ao mesmo tempo, com uma doçura na voz.
— Então pra quê o medo? Se entrega pra mim e eu te farei muito feliz.
Jullius se aproxima de Analisa, devagar e a deita na cama. Depois, se deita ao lado dela e a beija nos lábios e em seguida, na face e pescoço.
— Jullius...
— Deixa eu te amar, minha princesa.
— Eu... Não... Não posso, não tô pronta.
Analisa sai rapidamente do quarto e vai para fora de casa, enquanto Jullius permanece no quarto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Feno de Amor
RomansaAnalisa decide passar as férias no campo com Jullius, seu namorado, longe de "pessoinhas fofoqueiras" como fala a adolecente de 15 anos. Jullius, um garoto de 16 anos, quer algo a mais do que Analisa permite até o momento. Estão crentes que o campo...