Bonnie foi quem percebeu o silêncio repentino do Original. Eles estavam em uma mesa externa da hamburgueria, conversando sobre Klaus. Genna também estava com eles, finalmente ciente de tudo o que ocorria com os sobrinhos. Jeremy estava ao lado da namorada e percebeu como ela passou a observar o vampiro.
-Bo?-Chamou baixinho, atraindo a atenção de sua morena.-Qual o problema?
Bonnie deu um sorriso tranquilo ao garoto, que a abraçou mais efetivamente pelos ombros, ato que foi observado pelo Original de forma discreta, sem escapar dos olhos da bruxa.
-Elijah.-Genna chamou depois de um tempo, também percebendo a introspecção cada vez maior do outro.-Algo o incomoda profundamente, o que é? Está nos observando, e já não fala nada.
-Nada, senhorita.-Respondeu o vampiro, desviando o olhar para um parquinho, onde algumas crianças se divertiam.-Alguns pensamentos recorrentes. Mas nada relevantes para esta conversa.
Um ronco de motor muito característico soou, e fez Damon se animar na cadeira.
-O motor desse carro é reformado! Não é possível que tenha um som tão limpo quanto do original saído da fábrica.
-Ou talvez o dono do carro tenha tirado-o zero e seja muito cuidadoso.
Elijah ofereceu a opção, vendo como aquele Impala dobrava a esquina com tranquilidade. O carro parou ao lado deles, de vidro baixo. O homem ruivo de óculos escuros lhe deu um sorriso calmo, típico dele.
-Bom dia, moço. Por um acaso viu um marido fugitivo por aqui? Eu perdi o meu há alguns quarteirões.
A língua francesa soou como uma carícia na voz enrouquecida do ruivo. Elijah virou sua cadeira, ficando mais perto do carro, e do dono dele.
-Talvez eu esteja disposto a negociar uma informação tão valiosa. Que tal se você e seu lindo acompanhante se juntassem a nós no almoço?
A porta traseira do Impala foi aberta. Não demorou para um garotinho de uns cinco aninhos correr até o Original, se jogando em seus braços. O ruivo estacionou melhor o carro, ali mesmo, e também saiu do veículo, se sentando ao lado de Elijah. Bonnie deu um grito animado, antes de abraçar o ruivo com carinho.
-Padrinho! Eu estava com tanta saudade...
-Fico feliz em ver o quanto você cresceu, Bonnie.-O ruivo retribuiu o abraço, antes da afiliada voltar para seu lugar.-Filho?-Ele acarinhou as costas do garotinho, que ainda estava agarrado ao pescoço de Elijah.-O que quer comer? O papai pode escolher?
O pequeno apenas confirmou com a cabeça, sem se desacomodar. Os olhos do Original perseguiram o ruivo até o balcão, onde foi cantado por duas das garçonetes e pelo barman. Conseguiu pedir e voltou para perto de si, sorrindo, constrangido. O garotinho finalmente desgrudou do vampiro, mudando para o colo do ruivo, que o beijou na testa carinhosamente.
-Papai, to com fome...
-Sei disso, meu anjo.-O ruivo despenteou os cachinhos castanho-dourados do filho, ganhando um bico.-Que bico lindo, é pra eu morder?
O pequeno arregalou os olhos e pulou para o colo do vampiro, que sorria para os dois. Os outros ocupantes da mesa ainda estavam atônitos, mas logo voltaram a conversar sobre Klaus. Não demorou para que os pedidos chegassem, e eles continuassem entretidos na conversa, mesmo enquanto os humanos comiam. Elijah e o ruivo estavam travando uma batalha de olhares, desde que a imensa caneca de café do ruivo chegara, e ele não parecia pretender comer nada. Apenas mordiscou algumas coisas no prato do garotinho, que insistia que o pai comesse com ele pois estava muito gostoso.
-Seu irmão está nos observando há algum tempo.-A voz rouca saiu baixa e casual, para que o outro Original não suspeitasse do que falavam.-Está tentando entender o motivo de estarmos sentados lado a lado, e de Miguel estar tão confortável no seu colo.
-Pensei que ele soubesse...
-Tudo o que ele lembra é como seus pais me caçavam incessantemente. Mesmo que ele odeie seu pai, sabe que se ele estava atrás de mim era pra proteger os irmãos. Inclusive você.
-Baltazar... Você não é, nem nunca foi, um assassi...
-Elijah, por favor.-A conversa dos dois fluía em um romeno quase tão antigo quanto eles.-Não na frente do Miguel. Aliás, nós dois precisamos dormir, não é, querido?-O pequeno já ressonava tranquilo no colo do vampiro.-Merlin, como ele pode ser tão parecido com você?
O ruivo assistiu o vampiro segurar o riso, mantendo sua postura aristocrática. Os dois se despediram e adentraram o veiculo, se ajeitando enquanto as janelas eram abertas.
-Padrinho.-Bonnie chamou a atenção do ruivo.-Vocês tem um lugar seguro para ficar?
-É verdade! Poderiam ficar na mansão Salvatore com a gente.
Completou Elena. Os dois se olharam por um instante, antes do ruivo sorrir de canto.
-Alguém precisa de carona?
♡♡♡♡♡♡♡
A mansão Salvatore tinha um ar de mausoléu. Elijah se incomodou com isso pela primeira vez. A criança que dormia em seus braços tinha uma sensibilidade aguçada, e logo iria se perturbar com o ambiente.
O deitou na cama, ouvindo o outro homem cantar uma reza antiga baixinho, enquanto acendia sete velas de maçã, canela e anturio. O ar pareceu pesar menos em torno da criança, que foi acomodada pelo vampiro da melhor forma possível, antes que terminasse de se acomodar sozinho, sorrindo em meio ao sono.
-Ele sente quando está longe.-O ruivo falou baixinho, enquanto se liberava de seu sobretudo, permanecendo com a semi-automática presa no quadril.-Sabe que um dia vai ter de parar com isso, Eli...
-Eles são minha famí...-Elijah parou de falar ao ouvir o suspiro sentido do outro, que já estava apenas com a calça, terminando de desamarrar os coturnos.-Baltazar...
-Sendo sincero... Eu não quero te ouvir, Elijah. Estou cansado. Escuto esse discurso há mais de um milênio. E estou cansado da sua cabeça dura.
Descalço mesmo, o ruivo se re tirou do aposento. Elijah suspirou, voltando o olhar o garotinho, que se movia na cama. Logo Se tornou alvo dos olhos dele, tão azuis quanto as orbes do homem que estava magoado.
-Papa está doente... Ele não quer contar...
O vampiro levantou de sua cadeira, se deitando na cama, ao lado do pequeno, que se aconchegou em seu peitoral.
-E como sabe que o papai está doente?
-A moça me disse...-Bocejou, muito interessado em se acomodar e voltar a dormir.-A moça má que coloca a mão dentro do peito do papai... E faz aquela coisa azul sair da boca dele quando usa magia.-O outro estava atônito.-Ela disse que vai mata-lo. Mas ela é boba. O papai não vai morrer. Ele é quem mata coisas más que fazem mal aos outros.
Elijah ficou em silêncio, absorvendo o que o garotinho havia dito. Ficou perdido em divagações, até o outro homem voltar, se deitando do lado oposto da cama. Haviam olheiras profundas em seu rosto, ele havia alterado a aparência com o feitiço outra vez. E isso irritava e entristecia o vampiro em medidas idênticas.
-Boa noite, príncipe.-Murmurou, depois de beijar a cabeça do garotinho, que sequer se moveu.-Boa noite, Elijah.
O ruivo fechou os olhos, mas não relaxou. Era difícil Baltazar ter uma noite tranquila que fosse. Principalmente depois que Miguel nasceu. Elijah foi rápido e silencioso ao se levantar, cobrir a ambos, livrando-se da calça de sarja do ruivo no processo, e deitar-se novamente, com o pequeno acomodado em seu peito. Se inclinou, depositando um beijo suave nos lábios cheios do outro.
-Você e Miguel também são minha família. Amo você, Baltazar... E admiro cada sacrifício que fez para me fazer feliz. Especialmente ao por sua vida em risco para dar Miguel a mim. Mas pare com essa estupidez. Ou nosso filho terá de enfrentar seu enterro muito antes do que é necessário.-Um suspiro pesado deixou os lábios do vampiro, que se deitou completamente na cama.-Boa noite, amor.
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Além Da Lenda
FanfictionElijah Mikaelson não é um homem de muitas palavras ou expressões. É um homem de atos, e algumas pessoas acham complicado você amar alguém assim. Mas eu não. Prefiro vê-lo sair do conforto de sua poltrona favorita, apenas para beijar meu rosto, depoi...