Por que Eu?

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Elijah achava um saco ser o mais velho. Ou ter de agir como se fosse. Por isso fugiu de seus pais e de sua vila naquela tarde. Era inverno, e ele não deveria ter feito isso. Mas sua cabeça estava enlouquecendo. Ele só queria um tempo para ser ele mesmo. Longe do olhar de asco da mãe e da reprovação do pai. Claro, ele queria se afastar da cobrança sem sentido de seus irmãos. O rapaz estava em crise. E ninguém parecia compreender o turbilhão de sentimentos que haviam dentro dele. 

—Está frio para estar tão longe de casa, não acha? 

O homem a sua frente não devia ser muito mais velho que ele. Era ruivo, os cabelos bem avermelhados e longos, os olhos extremamente azuis, havia uma marca negra em seu pescoço, que Elijah não conseguia ver o que era.  

—Quem é você? Nunca o vi, e isso é irônico para uma vila tão pequena. 

Disfarçadamente, ficou com sua adaga em mãos, pronto para atacar o estranho. 

—Eu não sou da região.-Respondeu algo que era óbvio, e o rapaz teve de conter a vontade de revirar os olhos.- Na verdade, fiquei sabendo que os lobisomens tem feito muito barulho por aqui. E minha mãe não fica feliz quando os seres sobrenaturais fazem barulho. Me pediu para vir observar. 

—Você não respondeu minha pergunta. 

A postura do outro era tão relaxada, que quase atraia Elijah a largar sua adaga. Essa linha de pensamento o fez agarra-la com ainda mais vigor. 

—Prata não vai me matar, querido. São os lobisomens quem tem problemas com ela. 

—Por que você não me responde? 

O ruivo fixou os olhos azuis em seu rosto, antes de dar um sorriso desajeitado. 

—Me desculpe. Que maus modos. Eu me chamo Baltazar. É um prazer conhecer um jovem tão formidável e maduro. Sua vez. 

—Elijah...-Murmurou, tentando evitar corar com o que o outro dissera.-Você falou dos lobisomens. É um caçador?  

—E você é filho de bruxa. Vejo a magia rodear você. 

—Como pode ver magia? 

Os olhos azuis faiscaram, e o outro ficou em pé, estendendo-lhe a mão. Ele usava sete anéis. Elijah o olhou, antes de encarar a mão estendida. Por fim, decidiu pega-la. Ele não tinha nada a perder. Não queria mais se conter. 

—Se treinar seus olhos... Vai poder ver também.  

Elijah seguiu o estranho pelas entranhas da floresta. Chegaram a uma campina que ele nunca havia visto, onde a terma soltava valores com cheiros florais e as frutas pareciam maduras, mesmo em pleno inverno. O homem soltou sua mão, murmurou algo que lhe pareceu grego e colheu uma goiaba. Logo ele se sentou no tronco caído, convidando-o a fazer o mesmo. 

—Por que tem frutas aqui? Estamos no meio do inverno. 

Questionou, aceitando a meia goiaba que o homem lhe estendeu, estava extremamente doce. Elijah decidiu que comeria devagar, apreciando aquele sabor. 

—Existem vários lugares como esse. É só saber procurar, e pedir permissão delas para poder se alimentar. Fadas são simpáticas, dificilmente negam algo se for educado. 

—Fadas? Tem fadas aqui? 

—Não. Esse ninho é de ninfas. Elas não vão aparecer pra você, infelizmente. Não são tão receptivas. Se quiserem seduzi-lo há a possibilidade de vê-las.  

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