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São seis da noite de uma sexta feira cansativa, de uma semana cansativa e Julia me liga pedindo companhia pra night. Eu não consigo acreditar. Como ela ainda pode ter coragem de querer sair de novo depois da última vez. Júlia é a amiga mais louca que alguém pode ter. Típica patricinha. Seu pai faz tudo o que ela quer e ela, apesar de adulta, continua agindo como uma menina mimada. Se não fôssemos amigas há anos, eu juro que já teria me afastado, mas somos quase como irmãs. E eu a amo, obviamente. Talvez uns drinks e boas risadas (certo que vão rolar) façam meu cansaço sumir um pouco, mas essa noite não vai passar das onze. Júlia concordou com isso, então vamos.

Eu chego no bar que marcamos e encontro Julia com seu microvestido preto, saltos altos prata e o cabelo escovado. Alguém está aguardando algo mais dessa noite. Devia ter me arrumado mais. Vou em sua direção tentando me erguer nessa calça jeans surrada e nesse salto que mais parece um assassino em série tentando cortar meus dedos. 

- Julia, alguém está levando a night a sério hoje. - digo tentando disfarçar minha vergonha por estar totalmente desarrumada.

- Nada, gata. Só quis me arrumar um pouco mais. Você sabe! Se sentir bonita, deseja... Essas coisas! - eu só consigo pensar que devia estar dormindo em casa, enquanto ela balança seus cabelos para um lado, para o outro... Será que...?

- Julia, você está bêbada? Já?! 

- Manu! Você precisa relaxar!!! Nossa! Que saco! Não posso beber, ficar animada... Quem é você?! Santa inquisição?!

Nossa! Eu não tinha notado como estou sendo chata hoje. Toda hora reclamo, reclamo... Peço então uma tequila pra acalmar o ânimo e começar a me animar também. Talvez precise me divertir mais e me preocupar menos com os problemas da empresa. 

- Manu, já viu os caras que estão aqui hoje? Um deles é Paul Callavignere. Sabe né?! Aquele gato rico que aparece nas revistas sempre acompanhado de modelos. Ele estava no bar e eu o ouvi falar com o amigo, que ele está solteiro. Parece que a última namorada traiu ele enquanto estava viajando. Louco né?!

- Eu juro que não sei quem é essa pessoa! Não sei como você conhece tanta gente!! Tem ido a festas sem mim?! 

Claro que ela tem ido. Eu tenho sido uma péssima amiga nesses últimos meses. Saímos de vez em quando e Julia parece ter conhecido muitas pessoas nessas últimas saídas sozinha. Eu costumava ser baladeira também. As festinhas começavam na quinta e terminavam domingo à noite e eu sempre acordava bem na segunda. Sempre foi incrível! Mas agora estou sempre cansada, sem paciência. Talvez eu precise ser mais simpática com minha própria amiga. 

- Não o conheço, mas se quiser apresentar... Tô dentro! - Eu não quero ser apresentada à ninguém, mas por ela vou aceitar.

- Manu, você é hilária mesmo. Quero te apresentar a ele, mas não para ser cupido de vocês. Quero ele pra mim! - Julia começa a rir alto. Tão alto que vários olhares pairam sobre nós.

- Julia, sua louca! Dá pra rir mais baixo?

É sério. Qual o problema dela hoje? Está difícil me manter paciente com ela agindo como criança. Agora estou decidida. Essa noite acaba às onze. No máximo! 

- Julia? É você? 

Quem é esse homem?! Alto, sexy, cabelos penteados para trás com perfeição, voz levemente rouca... E o que são esses bíceps nessa camisa social?! 

- Paul, seu cínico. Como não veio falar comigo antes?! 

É claro. É o Paul Callavi... Não me recordo! Aliás, nesse momento acho que nem meu nome eu sei mais. Era Manuela D'ama...? Não me lembro. Droga!

- Não tinha te visto por aqui. É claro que depois daquela última balada não poderia te esquecer. Aliás, nenhum dos meus amigos te esqueceu. Você é uma garota memorável. Sabe se divertir! 

Eu sabia que Julia tinha saído sem mim. Sabia!

- Claro que sei me divertir, seu bobo. E seus amigos são "o máximo"! Minhas amigas também adoraram! 

Minhas amigas? Que amigas?! Sempre fomos eu e Julia contra o mundo! Que merda de amiguinhas são essas agora. Que raiva! Sempre achei que... 

- E você? Quem é? Nos conhecemos?

Ele vira seus belos olhos castanhos para mim e por um instante eu penso que está tentando me seduzir com essa voz rouca, macia. 

- Não nos conhecemos. Não sou do tipo baladeira como vocês. - digo tentando parecer divertida, mas pela cara de todos (e quando digo todos, digo Julia e Paul) percebo que talvez tenha parecido que me sinto superior. Posso correr daqui agora?!

- Calma, calma, senhorita. Não há nenhum problema em ser baladeiro, mas essa é a última coisa que sou. Por incrível que pareça, estou aqui a trabalho. 

Posso correr agora ou ainda preciso passar mais vergonha? E como assim à trabalho?!

- É, Manu. - diz Julia com olhar irritado. - Paul é o dono dessa boate. 

- Me desculpe. Paul, não é?! - tento parecer que ele não mexeu comigo em nada. Mas mexeu e muito - Eu não quis ser ofensiva. Foi um dia cansativo em minha empresa e por isso estou um pouco estressada. - Toma essa, gato. Sou independente, trabalhei o dia todo... Você não é o único "trabalhador" por aqui.

- Te entendo, Manu. Às vezes, depois de um dia cansativo, tudo o que precisamos é de uma boa bebida, um bom sofá e... Netflix? - diz ele com o sorriso mais doce que já vi.

- Sim. Claro! Netflix e um sofá aconchegante. 

Percebo que nossos olhares se encontram e eu posso sentir que ele está interessado em mim tanto quanto eu estou nele. Ele é forte, cheiroso. Sua voz é tão gostosa de ouvir. Másculo... E essa barba por fazer dá um toque especial à esse rosto lindo. 

- Então, Manu, são onze horas. Não está na hora do meu bebê dormir?! - Julia está com um olhar de reprovação sobre mim tão forte que... São lasers saindo do seu olho? RS 

- Sim. É verdade. Preciso descansar. Talvez finalmente ir para minha casa assistir Netflix. - digo isso um pouco cabisbaixa, pois queria continuar a conversa com esse cara gostoso, mas o bom de ser fiel apenas à mim mesma é poder passar por cima disso e conseguir dizer adeus em situações como essa.

- Ótimo! Bom descanso, amiga. Te amo muito! Beijinhos.

Júlia estava tão animada para se despedir de mim. O seu abraço foi me guiando em direção à porta e eu só pude basicamente acenar para o Paul, que nos acompanhava com aquele olhar sedutor e questionador. 

Fora da boate eu conseguia ouvir melhor. Eu sempre fui à lugares como esse, mas nunca fez muito sentido para mim. Nunca consigo conversar com ninguém. Os caras que conheço nesses lugares sempre servem para apenas uma noite. Boa dia seguinte sempre são algum tipo de modelo ou filhinho de papai que não tem o que discutir. É frustrante. Porém eu não ligo muito. A minha lista sempre me faz lembrar que eu não sou esse tipo de garota que se compromete, corre atrás, liga, pergunta... Chora. Isso não faz parte de mim. Eu não sou esse tipo de garota. Eu não sou " aquela garota", a garota que eu e Julia sempre zoamos. Aquelas que sofrem, choram, namoram, casam... Ah! Que horror. Século XXI!! 

- Manu, você esqueceu sua bolsa!

Eu sinto um toque em minhas costas e em seguida ele me vira. Como pode ser tão lindo?!

- Muito obrigada, Paul. - digo toda sem graça.

- De nada. - ele passa a mão em seus cabelos - Sabe o que você disse sobre sofás e Netflix? Bom, eu achei bem interessante. Tem uma série nova que eu tenho assistido, mas com uma companhia é bem melhor. Se você quiser ir lá em casa um dia ou eu vou na sua... Seria bem legal.

Esse homem quer sair comigo. Eu juro que quero sair com ele. Mas onde Julia fica nisso tudo? Ele ficou nitidamente inclinada com nossa conversa e praticamente me botou pra fora de campo. 

O que faço?

Como não ser aquela garotaOnde histórias criam vida. Descubra agora