Capítulo 2 - Pra Ser

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"Eu só quero que você entenda, mesmo se não for pra ser, será."

Dentro do carro, voltando de Araguari, onde fui fazer minha tão sonhada matrícula pro curso de medicina, não conseguia entender o misto de sentimentos que estavam se aflorando em mim. Depois de saber o resultado, não quis mandar mensagem pra Vitória. Não queria ficar mal por ter passado no vestibular e já que não podia controlar meus pensamentos, decidi focar em controlar minhas atitudes e mantê-la distante.

Quando chegamos em casa eu estava exausta. Só queria dormir e foi exatamente o que fiz. Acordei algumas horas mais tarde com uma notificação no celular. Era ela.

Vitória F. : Oi Ana Clara, aqui é a Vitoria.

Nao entendia se aquilo tava acontecendo mesmo ou eu estava dormindo ainda. Exitei por uns instantes. Será que eu deveria responder? Se ela me mandou aquela mensagem era porque quer falar comigo, se quer falar comigo é porque gostou do nosso beijo, se gostou do nosso beijo, talvez queira de novo... Mas por que ela demoraria tantos dias pra me mandar mensagem? Ja faz uma semana desde que ficamos. Por que ela não me chamou antes? Isso não está certo. Eu sei que não deveria mandar mensagem... Mas mandei. Respondi a mensagem dela.

Ana: Oi Vitória.

Vitória F.: Desculpa não ter te mandado mensagem antes. Queria te ver pra gente conversar.

Ana: Olha, não sei se é uma boa ideia.

Vitória F.: Vamo tomar um cafezin. Num lugar bem movimentado. Prometo não te agarrar contra sua vontade, haha, só acho que a gente precisa conversar.

"Vamo tomar um cafezin" conseguia imaginar a voz manhosa dela dizendo isso e ri sozinha.

Ana: Ta bem. Me espera no Evoé. Daqui meia hora eu chego.


Deixei o celular e fui me arrumar. A única coisa que pensava era em como aquela decisão poderia ser errada. Em como eu não poderia me aproximar da Vitória naquele momento. Eu tinha passado pra turma do segundo semestre, então dali 4 meses eu iria embora de Araguaína, não deveria arrumar mais uma sarna pra me coçar!

Fui pensando nessas coisas até chegar na cafeteria onde ela ja estava me esperando. Me aproximei dela e ela levantou pra me abraçar. Eu nem conseguia pensar quando senti uma das mãos dela na minha cintura, o cheirinho do cabelo dela... Mas nos afastamos e me sentei. Pedi um capuccino e ela um chá gelado. "Oposto? rs" pensei. Não quis falar nada que demonstrasse tudo que eu estava pensando.

- Ana... - disse Vitória, depois que a garçonete foi embora - eu queria te pedir desculpa.

- Desculpas pelo que? - o clima estava meio tenso, mas o jeito que Vitória estava, brincando com o porta guardanapos, tentando não me olhar nos olhos me fazia quase rir, mas quando ela levantou seu olhar e ele se encontrou com o meu eu não consegui rir. Não consegui pensar. Não consegui nem respirar.

- Eu queria ter falado contigo naquele dia que a gente se beijou, mas no dia seguinte fui ver o resultado e tinha visto que você passou... Eu não quis falar com você porque tinha certeza de que seria uma péssima ideia me aproximar de você logo agora que você ta quase indo embora mas eu...

- Você não conseguiu. - interrompi.

- Eu não consegui. - nesse momento ela abriu um sorriso torto que me desmontou por inteira. Esqueci todas as minhas duvidas e barreiras. Estendi minhas mãos e toquei as dela.

- Eu tava sentindo esse monte de coisas e acho que se você não tivesse me chamado, eu não teria. Você me encantou, Vitória, mas eu vou embora. Daqui 4 meses eu me mudo pra Minas e não quero te machucar... Nem me machucar. - meus olhos ja estavam marejados e eu nao conseguia entender por que eu queria chorar por uma pessoa que eu havia conversado por umas poucas horas e beijado uma unica vez.

- Ninha... - ela disse, com sua voz rouca, apertando minhas mãos. - você não faz ideia do quanto eu lutei contra isso squi dentro. Tentei, tentei mas não conseguia parar de pensar em você. Até tinha salvo seu whatsapp mas não te chamei. Tava com medo de sentir muita dor depois que você fosse pra Minas... Mas... - ela exitou, respirou fundo com os olhos fechados, abrindo-os em seguida pra me olhar. - mas eu prefiro muito mais chorar pela sua partida do que nunca viver o que eu acho que a gente tem pra viver.

Nesse momento eu nao aguentei. Comecei a chorar e ela, imediatamente se sentou ao meu lado e me abraçou. - Eu nao entendo... - eu disse, em meio a soluços - por que eu fui te conhecer logo agora? Por que não te conheci antes?

Nesse momento ela me soltou, secou meu rosto e falou, com os olhos nos meus: Porque a gente se encontrou no momento da vida que a gente tinha que se encontrar pra viver o que ta reservado pra nós. Nem cedo, nem tarde, na hora certa. - ao terminar de falar, ela acariciou minha bochecha e eu inclinei o rosto pro lado em que sua mão estava, como se pedisse mais carinho. Nesse momento, não precisávamos falar nada. A unica coisa que importava era que Vitória estava ali, pertinho de mim. Ela correspondia aos meus... Sentimentos?

Enquanto eu pensava tudo isso, Vitória aproximou um pouquinho mais o rosto do meu e nossos lábios se tocaram. Dessa vez seu beijo foi exatamente como imaginei no início: doce, cheio de ternura mas com a peculiar vontade e desejo que havia em nosso beijo. Sentir o toque de sua língua na minha me faria perder completamente o juízo ali mesmo, na cafeteria se ela não tivesse parado. - eu quero ficar com você pelo tempo que pudermos. Deixa que depois a Ana e a Vitoria do futuro resolvem. - e riu. Ri com ela e nos abraçamos. Aquele momento foi um dos momentos mais valiodos em toda minha história com Vitória. Foi o momento em que descobrimos sentir o mesmo uma pela outra e, como eu disse, aquilo importava muito.

Mas infelizmente não era só isso que importava.

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