UM NOVO COMEÇO

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Meus amorxs, acho que vocês estavam aguardando essa estória há um bom tempo.Cumprindo minha palavra, começarei a postar os capítulos do spin off de nosso querido Dr. Peter Hass. Me comprometo com uma publicação por semana, contudo sempre que eu tiver um tempinho livre posso publicar capítulos bônus. Essa estória escrevi para todas as minhas amigas-leitoras que, sem esforço algum, se apaixonaram pela integridade, senso de justiça e abnegação do Peter, mas também é um presente de aniversário.

Hoje é o seu dia, NiveaOliveira1. 🎂❤🎀🎁 Parabéns, querida! Pensou que eu tinha esquecido, né?

Capítulo revisado

AISHA

O barulho dos gritos, tapas e pontapés ecoa nos meus ouvidos. Não me atingem. O alvo era outra pessoa. Outra criança. Eu vejo o seu corpo tombar no chão. Os olhos grandes da minha irmã Kênia não tem mais brilho e o sorriso com que me acordava toda manhã eu nunca mais veria.

Desperto assustada. Quase consigo ouvirmeu coração descompassado. Olho ao redor, mas não reconheço onde estou. Reprimo qualquer reação de pânico. Isso é algo em que sou boa. Aprendi, da pior forma possível, a silenciar meu medo. A guerra civil em meu país me ensinou essa lição. Alguém que cresceu em tempos de guerra, vê o que de pior o ser humano é capaz de fazer com seu semelhante.

Assim, não ser notada foi minha estratégia pra sobreviver. O medo fez questão de me apresentar à covardia. Todas as pessoas valentes que conheci morreram jovens. A maioria dos heróis que admiro também. Minha irmã Kênia morreu antes de completar catorze anos.

_Fique quietinha, Aisha. Não importa o que aconteça. Não faça barulho. Aqui eles não vão te encontrar. Só saia quando estiver escuro. Procure a Núbia. Vai fazer isso? Promete pra mim.

_ Cabe nós duas aqui... Por favor, não me deixa sozinha. Entra, Kênia. _ segurei sua mão e ela fez que não.

Beijou o topo da minha cabeça e colocou a tampa do latão vazio de óleo onde me escondeu dos soldados, mas se preocupando em deixar apenas encostado para que eu pudesse entreabri quando não suportasse mais respirar aquele cheiro forte. Havia furos naquele tonel de metal. Foi assim que eu vi quando eles chegaram. Vi o que fizeram com ela.

Minha covardia salvou minha vida. Mas, a que custo? Nos tornamos cúmplices. Ela cresceu junto comigo. Nos escondemos do frio juntas. Ela até me ajudava a encontrar um local seguro para dormir durante à noite. Passamos fome juntas. Um covarde nunca rouba comida por mais que meu estômago pedisse por alimento depois de um dia inteiro me alimentando de sobras. Um dia de fome pode ser superado. Às vezes, até dois. Era só não pensar muito na dor do estômago. Minha covardia me lembrava o que acontecia com quem era pego roubando. Também me fazia acordar antes do sol nascer para que eu me embrenhasse pelas trilhas na mata para evitar as estradas onde os soldados passavam em seus caminhões.

À ela devo a minha vida, mas também entrava na conta da minha falta de coragem o segredo mais torpe da minha existência que me revisita em meus sonhos pra me lembrar que tipo de pessoa eu sou. Como uma ferida que nunca cicatriza e que nunca deixa de doer.

Alguns dias, doía menos e em outros a dor era quase insuportável. Em dias assim, só conseguia ser superada pelo peso saudade que sempre me acompanha. Era assim há doze anos e eu sabia que sempre seria assim. O pesadelo que me assombra é na verdade, uma lembrança. Aquelas imagens nunca se perdiam na minha memória mesmo já tendo se passado tantos anos. Essa foi a lição que a guerra me ensinou: a covardia é quase uma condição para se continuar vivo. Minha covardia se tornou meu maior predicado.

PETER ENCONTRA O AMOR [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora