ᴄʜᴀᴘᴛᴇʀ ɪɪɪ

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O sol desaparecia cada vez mais diante das águas do mar, o céu alaranjando escurecia indo para um tom azul escuro aos poucos.

Jimin caminhava em círculos pela areia esbranquiçada, cerrava os olhos castanhos levando uma das mãos até os olhos cobrindo a luz que atrapalhava sua visão. Tentava achar em meio da imensidão do mar algum navio, caravela ou qualquer sinal de vida.

-Você não vai achar nada. - Dizia Serena, enquanto penteava os longos cabelos com uma espinha de peixe, o meio sorriso da sereia deixava evidente a certeza que tinha sobre o fracasso do jovem. -Raramente alguém passa por aqui, pelo menos por perto da ilha. - Jimin solta um suspiro pesado, sentando ao lado de Serena, numa rocha próxima à praia, anunciando por meio de sua expressão preocupada a derrota.

-Estou faminto. - Falava o jovem em quanto ouvia os roncos vindo em sua barriga, não havia nada na ilha que poderia se alimentar, apenas plantas e mais plantas. E ele não queria comer nada venenoso.

-Eu tenho uma ideia! - Diz a sereia abrindo um largo sorriso, Jimin permanece em silêncio, curioso, às vezes tinha um pouco de receio da sereia, mas se divertia com suas ideias e perguntas.

-Me espere aqui, eu não demoro! - Serena em um impulso se joga no mar, Jimin acompanhava com os olhos a silhueta da sereia em quanto mergulhava mas em certo ponto a perdeu de visão.

-Tomara que ela não traga nada vivo... - Murmurava com um sorriso fraco. Jimin havia achado um graveto pontiagudo por perto, desenhava na areia molhada a rota que havia percorrido até o Caribe, estala a língua balançado a cabeça de um lado para o outro, ainda não acreditava no que estava acontecendo, ele tinha uns rápidos feixes de memória do navio se afundando, de seu pai caindo, o garoto fecha os olhos tentando evitar que mais lágrimas caíssem, tinha que ser forte.

-Que cara é essa? - Fala Serena sorridente, Jimin solta um grito e recua para trás, fazendo a sereia soltar risadas altas.

-Serena, você tem que parar de assustar os outros! - Exclama o garoto, mesmo com a reclamação a sereia não parava de rir, até que então revela o peixe em suas mãos, o balança de um lado para o outro. Jimin fez uma careta, contorcendo a boca em desgosto.

-Não seja mal agradecido, eu trouxe sua comida!

-É um peixe enorme! Nunca havia visto... - Fala o garoto se reaproximando com um perfeito "o" formado em seus lábios, "Finalmente comida!", pensava. Não era um banquete como ele degustava nos palácios e festas em Lisboa, porém, era o melhor para se comer no momento.

-Precisamos de uma fogueira. - Fala Jimin olhando em volta, a procura de gravetos, troncos e pedras.

-Fogueira? O que é? - Questiona Serena.

-Nunca viu? É quando se faz fogo em meio de toras de madeira... - Tentava explicar o garoto em quanto pegava algumas pequenas pedras no chão com um sorriso meio formado nos lábios, era impressionante, aquela sereia mal conhecia o mundo. A menina deslumbrava-se a cada palavra proferida por ele sobre o mundo à fora, era como as crianças que amontoam-se ao redor de um velho pirata em quanto o mesmo conta suas histórias. Completamente fascinadas.

-Fogo? O que é isso?

-Você verá, não consigo explicar muito bem. - Conclui o garoto pondo fim na conversa, sem paciência para explicações.

Após uma rápida procura por gravetos, pedras e toras de madeira, Jimin e Serena se reúnem à beira do mar, o garoto concentradíssimo em conseguir criar o início da chama, e a sereia focada no que o garoto fazia, era impressionante.

-Consegui! - Anuncia Jimin vendo a chama se criar sobre a madeira reunida no chão, os olhos de Serena se ofuscavam com a chama, fitava aquele elemento natural impressionada, era como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez.

-Tão lindo. - Dizia em meio de um sorriso largo. Jimin solta risadas fracas em quanto espetava o peixe no graveto. Aproximou a mão, pensando qual seria a textura do fogo. Até que teve o pulso segurado por Jimin.

-Não toque nisso. Vai doer se o fizer. - Pronunciou-se o rapaz, num tom de voz calmo, falava devagar, como quem diz "Não pode" para uma criança de cinco anos.

A sereia emburrou a cara, fazendo um bico com os lábios.

Serena realmente agia como se fosse uma criança de cinco anos.

Um silêncio confortável prevaleceu. Quebrado pelo garoto após breves momentos.

-Eu ainda estou pasmo, sério que nunca viu o fogo?

-Sim, aqui não tem muitas coisas, apenas o mar, a ilha e alguns pescadores e navegantes. - Jimin calou-se por alguns minutos, tentava imaginar como seria se fosse como ela, não ser aceito, ser uma criatura desconhecida. Torrava o peixe no fogo, o girando de um lado para o outro, até que pronuncia uma palavra com seus lábios secos.

-Obrigado.

-O que disse? - Provoca Serena, havia ouvido da primeira vez, mas queria ouvir novamente, se sentia satisfeita por ter ajudado o humano.

-Obrigado, obrigado por ter me salvo, por estar me ajudando, por ter trago o peixe. - Falava deixando a timidez e o medo de lado, já havia concluído que a sereia não era perigosa, estava gostando de sua companhia, era bom não estar completamente sozinho.

-Não precisa agradecer, eu gostei de ter te ajudado, você até que é legal. - Concluiu a sereia balançando sua calda de um lado para o outro.

Aquela noite terminou com Serena retornando ao mar, e Jimin cochilando ao lado do calor do fogo.

Ele tinha medo das muitas coisas que poderiam acontecer. Medo do que viria pela frente. Receio de não saber se sairia vivo daquela ilha. Porém, em meio à todos os contratempos, todas as coisas ruins, havia uma única boa. Havia ganhado uma nova amiga, a mais inesperada delas: uma sereia.

É destino... Parece que você não foi tão mau assim.

​  MERMAID + ᴘᴊᴍOnde histórias criam vida. Descubra agora