A cortina da sala do Sr. Willians não parava de balançar... O vento estava forte. Não sei se realmente está frio ou se minhas mãos e pés estão frios desse jeito por causa da tensão. Esse lugar faz um barulho estranho que soa um pouco assustador.
- Bom dia, Abel – falou estendendo sua mão.
- Bom dia – cumprimentei.
Na sala havia eu, o Sr. Willians e o delegado, que nesse momento estava me observando. A porta estava fechada, mas pelo pequeno vidro, dava para perceber a grande movimentação dos policiais no corredor. Não sei o que está acontecendo, mas estou odiando essa sensação.
- Eu menti na sala de aula, Abel – admitiu Sr. Willians enquanto limpava a pequena gota de suor que caia sobre sua testa – eu não tenho que falar com todos os alunos. Eu tenho que falar só com você.
Minhas pernas amoleceram. Estou tentando pensar positivo: "Ele quer apenas uma ajuda para descobrir o paradeiro da Karen, não deve ser nada de mais" ou "Isso é uma pegadinha, eles estão brincando comigo".
- Hoje de manhã – começou a dizer Sr. Willians – quando entrei na minha sala, encontrei esse caderno. Você o conhece?
Tenho duas alternativas. Dizer sim ou não. Se eu disse SIM, obviamente ele vai querer saber se eu conheço essas seis pessoas que Karen cita no caderno, fato que eu não sei. Também vou ter que contar sobre a festa do Patrick que ocorreu ontem, e sendo assim, vão querer conversar com meus pais. Agora se eu disser NÃO, o máximo que pode acontecer é ele dizer: "Esse caderno é um pedido de ajuda da Karen e diz que só você pode ajudar...". O que não me torna um suspeito, mas sim, uma vítima também.
- Não conheço – respondi tremulo.
O Sr. Willians encarou o delegado, que se aproximou.
- Abel – disse colocando suas mãos em meus ombros – eu já tive sua idade. E sei o que deve estar passando na sua cabeça.
Essas palavras, de certa forma, me tranquilizaram. Continuou a falar:
- Mas tem horas, como essa, que não adianta mentir.
Escondi minhas mãos entre as pernas, pois o tremor era grande. O que ele está falando? A troca de olhares entre o Sr. Willians e o delegado, faz parecer que eu sou o culpado de tudo que está acontecendo.
- Abel, eu conheço seus pais – comentou Sr. Willians – com certeza, tudo que está escrito nesse caderno é um mal entendido.
Sr. Willians abriu o caderno e começou a ler em voz alta.
- "Um dia eu ainda vou te matar, Karen"; "Vadias como vocês não duram até os 20 anos"; "Eu te odeio, Karen. É hoje que vai acontecer". Tem mais coisas escritas aqui, são muito pesadas, prefiro não ler.
- Eu juro que não escrevi isso – falei sem entender o que estava acontecendo – eu não tenho nada a ver com essa situação.
- A caligrafia da pessoa que escreveu isso é exatamente igual a sua, Abel – falou o delegado – Esse caderno, foi encapado igual o da Karen, mas quando você tira todos os adesivos e essa espécie de plástico rosa, o caderno se transforma no... Seu caderno. Sabemos disso, através das câmeras de segurança do corredor do colégio. Esse caderno é seu! – enquanto o delegado falava, o Sr. Willians folheava o caderno – além dele, encontramos algumas fotos.
O que está acontecendo? Que fotos são essas?
Colocou sobre a mesa uma foto da Karen e eu conversando. Nesse dia, Karen estava com uma blusa amarela e uma calça jeans. A qualidade da foto era impecável. Lembro-me dessa conversa, foi na semana passada, na Rua Augusta (uma rua antes da minha casa), tinha saído da casa de Mônica, era em torno de 21h. Talvez um dia antes de ela desaparecer, não me lembro.
- Sabe qual foi a ultima roupa que Karen usou? Uma blusa amarela e uma calça jeans. Essa foto foi tirada no dia 24/04, o dia que ela desapareceu. Você foi o ultimo a vê-la, Abel – falou me encarando – chame seus pais, porque isso te torna um dos maiores sus...
- Meu Deus – disse Sr. Willians ofegante – aqui tem um endereço.
Não consigo mais distinguir o que sinto. Uma mistura de medo, insegurança. Eu fui o ultimo a vê-la? Será que Karen pediu algum tipo de socorro, em códigos, e não consegui desvendar?08 dias antes
- Adorei o jantar – agradeci a Sra. Paiva – esse macarrão está divino!
- Fico feliz por ter gostado – sorriu – como foi o trabalho de vocês? – perguntou encarando Mônica.
- Deu tudo certo – respondeu Mônica animada – parecia ser difícil, mas com nossos cérebros em ação – me encarou sorrindo – foi fácil resolver os exercícios.
- Fico feliz por vocês. Abel, querido, você quer uma carona para casa? – perguntou Sra. Paiva.
- Muito obrigado, mas ainda está cedo – agradeci olhando para o relógio que marcava 8h50 – minha casa fica perto daqui.
Ajudei Mônica a tirar a mesa do jantar e fui embora. Fazia tempo que não andava pelas ruas da minha cidade. Quando eu era criança, sempre andava de bicicleta com meus pais. Tenho um pouco de saudade disso, de ser criança novamente.
Entrei na Rua Augusta, a rua de trás da minha residência, fiz um caminho longo para poder aproveitar o ar puro. Por um segundo pensei em voltar e ir direto para minha casa, pois um carro estava parado no meio da rua e percebi que havia alguém dentro dele, não só uma pessoa, mas sim, duas. Sim, sou meio fixado em carros. Vi um filme de terror, quando criança, que contava a história de um vilão que "morava" dentro de um carro (alias, parece muito com esse) e matava crianças e jovens que passavam por ele.
Segui em frente e andei em passos longos. Caso houvesse alguma movimentação diferente, correria. Estava há poucos metros de distancia ao seu encontro, até que suas lanternas ligaram. Ao contrário do que eu imaginava, fiquei parado observando a porta do passageiro abrir. Uma menina saiu, era a Karen. Ela fechou a porta e o carro partiu rapidamente. Nunca vi esse modelo de carro circulando pela cidade... Como a rua era um pouco escura e estava sem meus óculos, não sabia identificar se o carro era vermelho ou preto. Só conseguia identificar sua placa, que começava com EDJ e terminava com 0.
- Abel? – perguntou Karen assustada, como se não quisesse ter me visto – você por aqui?
- Eu moro na rua de trás – respondi sem jeito – não sabia que você morava nesse bairro. Quem estava no carro?

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O Sumiço de Karen
Mystery / ThrillerKaren, a mais popular do colégio, some e deixa apenas uma pista: um caderno. Dentre todos os amigos que possui, ela deixa o caderno com o Abel. Eles não são amigos e Karen, na primeira página do caderno, diz que alguém está prestes a matá-la. Abel...