Irmão

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Estava fora de casa, pouco a frente à porta, com o garoto e o quase homem do grupo de mais cedo. Já havia anoitecido, o céu brilhava. Meu pai tinha ido para a  cama assim que sai, minha mãe provavelmente estava escondida para ouvir a conversa. O quase homem, jovem, adolescente, ainda não sabia definir, abriu a boca, não muito, acho que iria falar algo, mas virou o rosto e ficou em silêncio. O garotinho abraçou minhas pernas e o quase homem estendeu sua mão, então... Eu deveria estar longe dele, não é? Mas mesmo assim, apertei sua mão.

- Namjoon. - Ele se apresentou, sorrindo, com as bochechas vermelhas e suas covinhas a mostra.

A cena em si era fofa, o que me deixou constrangido e sem reação, até escutar a risada da minha mãe. Sabia que ela estava espiando, podia ser mais discreta.

- Sou Jungkook. - Me apresentei.

O garotinho puxou minha camiseta e me encarou, com os olhos brilhando.

- Eu me chamo Jongin, obrigado por nos ajudar. - Ele era encantador.

- A alguns meses eu vi Jongin fugindo de dois caras, naquele tempo eles corriam atrás só pra enganar o chefe. Eles trabalhavam num restaurante e eram encarregados de jogar as sobras fora. O chefe começou a se irritar com dois funcionários dando comida, que deveria ir para o lixo, para um garoto morador de rua. Então, o chefe os mandou correr atrás do garoto caso ele pegasse a comida, concordei em participar da mentira... Por um tempo eles conseguiram manter a desculpa "O garoto fugiu com ajuda daquele cara."... Até que o chefe lhes deu demissão e contratou dois universitários, eles não tem mais que dezoito anos. Continuei ajudando Jongin, nem sempre dou sorte em fugir. Pedi a meus pais que o adotassem, mas meu pai se nega até hoje... Obrigado, Jungkook. - Não soube o que lhe dizer, mas estava admirado.

Namjoon sorriu, minha mãe começou a rir novamente. Ficamos todos em silêncio por dois ou três minutos, até que  minha mãe finalmente apareceu e se aproximou do garotinho.

- Eu tenho uma proposta. Jongin pode viver, escondido, conosco enquanto damos início a um processo de adoção e você, Namjoon, pode vir sempre que quiser para visita-lo. - O jovem das covinhas foi tomado por um sorriso de orelha a orelha. - Mas precisamos saber onde os pais dele estão, eles deverão concordar com essa adoção.

O sorriso enorme de Namjoon se desfez rapidamente e Jongin abaixou a cabeça.

- Eles morreram... - Engoli em seco após ouvir essas palavras saírem da boca de uma criança.

Minha mãe o pegou no colo, com um sorriso estimulante que só ela é capaz de demonstrar e acariciou sua nuca.

- Sem problema, nós ainda podemos te adotar, o que vocês acham?

Os dois assentiram com a cabeça enquanto meu celular notificou uma mensagem, eu sabia quem era, mas não ia deixar um stalker estragar o clima. Ganhei um irmão e provavelmente, um amigo e agora eu podia riscar da lista: "Sete stalkers" e o número 1, que representava Namjoon na lista.

- Então, eu já vou indo... Posso vir quando quiser mesmo?

Namjoon saiu alegre ao receber um sim como resposta.

- Agora, quanto a você moçinha... - Não pude terminar.

- Quanto a você, Jungkook, você vai pegar seu irmão e irá tomar banho com ele. - Nem tentei discutir, ela usou uma de suas expressões mais ameaçadoras. - Sempre soube que guardar algumas de suas roupas de criança seria uma boa ideia.

Peguei nossas roupas e toalhas e o levei para o banheiro.

- Aposto que hoje vai durar vinte minutos, e você? - Minha mãe perguntou.

- Mais de uma hora. - Respondi enquanto ria do olhar confuso de Jongin. - Mamãe vai discutir com o papai sobre a adoção, não se preocupe.

Costumava apostar com minha mãe, o tempo das discussões. Ainda bem que essa casa tem uma banheira para o banho. Apesar da porta estar trancada, estarmos só eu e ele numa banheira cheia de água e espuma e, minha mãe possivelmente matando meu pai por não concordar com adoção, Jongin estava mudo, era compreensível, eu também estava com vergonha.
O silêncio perdurou até eu puxa-lo e dar um cascudo.

- Você deveria estar se limpando. - Disse enquanto ele tentava se livrar.

O banho virou uma grande bagunça.

- Você vai dormir comigo hoje. - Avisei, enquanto me secava.

Jongin assentiu com a cabeça. Após me vestir o chamei.

- Vou secar seu cabelo, vem cá.

O cabelo dele era castanho claro, grande o bastante para cobrir sua testa, seus olhos eram castanhos escuros e pele branca levemente bronzeada, apesar de toda a situação, Jongin tinha bochechas grandes. Esperei ele se vestir e o levei para a cozinha.

- Espera aqui, vou pôr as roupas no cesto. - Pedi.

Voltando da lavanderia, encontrei minha mãe.

- Demoraram, pedi pizza, a de vocês está no forno. Seu pai quer apanhar mais um pouco antes de dormir, pegue um dos travesseiros e cobertores que você não usa, acho que vocês conseguem dormir numa cama de casal. - Ela se despediu e voltou para o quarto.

Na cozinha, deixei Jongin a vontade com a pizza e li as mensagens, Tee também havia mandado, provavelmente é culpa do stalker, li primeiro a dele.
"Você ignorou o aviso."

Esse stalker estava começando a ficar chato.

"Jungkook, você troca de cidade e arruma confusão? O que você fez?"
É, parece que fazendo uma boa ação acabei comprando guerra, o melhor a se fazer naquele momento era comer com Jongin.
Após arrumar a cama e me ajeitar com o novo irmão mais novo, minha mãe entrou, beijou a testa dele e saiu. Ele dormiu deitado em meu peito, o travesseiro foi inútil.
De manhã, depois de terminar o café, minha mãe nos levou para o centro da cidade, fomos comprar roupas e uma cama para o quarto do futuro membro da família. Ainda espero que ela me ensine a técnica de dinheiro infinito. Entramos numa loja de variedades, gigante, bem famosa na cidade. Coloquei Jongin sentado nos meus ombros e, pela primeira vez, eu senti que tinha um irmão. Antes de acharmos a seção "Dormitório", Jisoo apareceu, pelo jeito, era lá que ela trabalhava.

- Te achei de novo. - Ela sorriu mostrando a língua.

E Pela Primeira VezOnde histórias criam vida. Descubra agora