Os olhos não abriam, a cabeça doía e o corpo também. Difícil estava descobrir onde não doía. A sensação era uma mistura com espancamento com uma overdose de drogas, pois a dor era física e mental, sentia cada célula do corpo, de uma maneira nem um pouco agradável. Ainda de olhos fechados, tentava se lembrar de onde estava. Tentava puxar mentalmente a sua última lembrança, mas estava difícil. Tentou mexer os braços, mas percebeu que estava amarrado.
Algumas imagens começaram a pipocar em sua mente. Ele chegando ao aeroporto de uma cidade desconhecida, com outra língua. Cartazes e placas desencontradas, em palavras incompreensíveis.
Recomeçou a ter domínio dos movimentos, e estava sim amarrado, os dois braços para cima, meio em forma de X, sendo que eles praticamente sustentavam seu corpo. Abriu os olhos com dificuldade, mas não serviu para muita coisa, pois estava escuro, mal podendo diferenciar vultos.
O lugar tinha um leve aroma de ferrugem com mofo, e não havia vento algum, nem barulho, o que o levava a crer que estava em algum local fechado e distante de qualquer local movimentado. E conforme a visão ia se adequando à escuridão, pôde perceber a sua frente um contorno que parecia uma porta, mas nenhuma janela. As paredes pareciam sujas, de um local sem limpeza e antigo. Abaixou um pouco os olhos e pôde ver melhor como estava.
Com os braços estendidos para cima, a única coisa que o mantinha ereto era uma corda amarrada em seu peito a uma estrutura de madeira ou algo assim. Seus pés estavam suspendidos, também amarrados, sem poderem tocar o chão. E estava nu.
O que era aquilo, e como ele foi se meter em uma loucura como aquela? As memórias começaram a se compor, e lembrou que estava em férias, e resolveu visitar uma conhecida em um país distante. Conhecida era modo de dizer, se conheceram na internet, e logo a conversa descambou para putaria. Tiveram conversas eróticas por alguns meses, e quando surgiu uma oportunidade de viajar, resolveu fazer um pequeno desvio e conhece-la.
Pelo que ele tinha visto nas fotos e nos vídeos, ela era bonita e gostosa, então viu nisto uma grande oportunidade de conhecer um país fora dos roteiros turísticos e ainda fazer sexo com uma estrangeira.
Daí em diante, na memória mais recente, as imagens ficavam mais confusas. Lembrava do aeroporto, de pegar um ônibus ou trem, algo assim, de encontrar uma mulher que aparentemente seria esta conhecida, de chegarem em algum lugar. Mas estava cada vez mais difícil juntar as peças do quebra cabeças.
Levantou a cabeça um pouco mais rapidamente e sentiu como se fosse uma pontada. E um gosto amargo na boca. Com certeza tinha sido drogado, e por algo muito forte, pois a ressaca esta fortíssima.
Enquanto sentia isso, ouviu um barulho vindo a porta, do trinco. Ela se abriu lentamente, mas não sem ranger, e por ela entrou uma mulher vestida apenas com um avental branco, ou uma cor clara, pelo que conseguia ver. Era a mulher que ele encontrara antes e com quem conversara pela internet.
- Olá, como está? – disse em um inglês fortemente carregado de um sotaque que não conseguia distinguir.
Como não respondeu nada, mais por falta de condições de dizer algo do que de outra coisa, ela se aproximou. Colocou os dedos em seu queijo e levantou sua cabeça, olhando para seus olhos quase fechados e dizendo: - Está se sentindo bem?
Com a proximidade, pode ver que seus olhos eram claros, assim como a sua pele, contrastando com os cabelos escuros, que estavam presos em um rabo de cavalo. Tinha um aroma suave, que se misturava com o cheiro da sala e, que em qualquer outra situação, seria agradável. Porém, neste momento, a única coisa que ele tinha vontade era de vomitar. E de sair dali, onde quer que ele estivesse.