Eu não acredito em coincidências.
Tudo que tenho e fiz hoje foram consequências do meu esforço e vontade que resultaram no meu eu atual.
Por exemplo: o boneco que eu queria aos 5 anos de idade- resultado de semanas exemplificando para meus pais o porquê de eu necessitar do brinquedo.
Minhas notas no colegial: resultados de um aluno aplicado e que se importava em estudar.
Minha entrada na melhor faculdade do país: resultado dos esforços no colegial e no esforço para me inscrever e passar nas melhores faculdades, me dando possibilidade de escolha.
Minha mulher Beatrice: resultado de meses seguindo-a, seguido de uma tese muito convincente sobre o porquê que deveríamos ficar juntos.
Funcionou, atualmente sou muito bem casado com a mulher mais bonita da redação do jornal que trabalho. O que nos leva à outro exemplo: meu cargo como redator chefe no principal jornal da cidade.
Resultado de sangue, suor e lágrimas para provar que eu sempre fui e sempre serei o melhor.
O melhor, o vencedor.
É isso o que sou. Um vencedor na vida. Nada por coincidências, apenas por trabalhar no meu caminho para o topo.
Hoje é um dia especial. Beatrice e eu completamos 10 anos e 4 meses de casamento e eu pretendo levá-la à um restaurante caro para provar mais um mês meu amor remanescente por ela.
A mais linda e desejada. Minha, meu prêmio.
Decido surpreendê-la com flores e bombons, é isso o que carrego na mão num momento. Todos na redação me observam, homens revirando os olhos por eu ser um vencedor apaixonado e mulheres suspirando e me desejando.
Caminho em direção à sua sala que está com as cortinas fechadas assim como a porta e entro sem bater, não preciso de autorização.
Paro e sorrio ao vê-la olhando para o teto sentada em sua mesa de costas para mim, respirando pesado. Ela deve estar ansiosa com o nosso encontro.
"Surpresa!" Digo em exclamação e ela se vira com terror nos olhos logo descendo da mesa.
"Ronald, eu posso explicar!" Ela diz apressadamente e eu a olho em confusão.
"O que.." começo até um homem se levantar de baixo da mesa onde Beatrice encontrava-se sentada limpando o canto de sua boca sem expressão.
Eu conheço ele.
Robert Hauser.
O detetive mais perdedor de todos os tempos.
Perdedor.
Meu olhar intercala entre Beatrice e Hauser, choque evidente em minhas feições.
"Ele, Beatrice? Justo ele?" Digo contido. Não quero que todos na redação saibam que Beatrice tenta me tornar um perdedor.
"Ronald, eu juro que não é o que parece, ele veio aqui passar informações sobre um caso que vai ser notícia. Eu... eu deixei os papéis caírem e Robert foi cavalheiro de pegar no chão para mim." Ela diz gaguejando.
"E então o gozo dela caiu na minha boca por acaso." Diz Hauser em um tom sarcástico, sem esboçar nenhuma emoção.
Beatrice olha para ele com horror e começa a gritar. "EU NÃO-"
"Por favor Beatrice, sem escândalos." Digo com a voz baixa, evitando que a situação se torne pública. Ela rapidamente se cala.
Sinto lágrimas acumularem no canto dos meus olhos mas seguro o choro. Eu sou um vencedor.
Olho para minhas mãos com o buquê e os chocolates e rio de minha situação.
"Dez anos e quatro meses," mais uma risada nasalada "poderia ter me poupado de tanta perda de tempo."
Digo e a observo decepcionado, seus olhos também se enchem de lágrimas e ela entra em desespero, mas antes que ela possa falar mais alguma baboseira jogo o buquê junto com os chocolates no chão.
Dou uma última olhada para os dois, Beatrice em prantos enquanto ele permanece sério olhando para mim.
Viro as costas e saio de sua sala. As pessoas me olham em confusão quando não saio com ela, mas apenas sorrio e aceno como se nada tivesse acontecido.
Eu sou um vencedor.
Dez anos e quatro meses.
Eu sou um vencedor.
Traído esse tempo todo por um perdedor mulherengo qualquer.
Eu sou um vencedor.
Ele trabalha na polícia.
Eu sou um vencedor.
Ele combate criminosos e é alto e musculoso. Eu escrevo fofoca sou baixinho e magricela.
Eu não sou um vencedor.
Ele tem qualquer mulher que quiser à qualquer momento, eu falhei com a única que conquistei.
Eu sou um perdedor.
Eu fui derrotado.
Ao chegar nessa conclusão começo a chorar ali, no meio da rua para quem quiser ver. Caminhando até meu carro e dirigindo até a cidade vizinha.
Continuo dirigindo até o carro dar leves solavancos e parar de vez, apitando pela falta de gasolina. Beatrice vadia, nunca deveria ter emprestado meu carro.
Desço do carro e as lágrimas continuam a escorrer em meu rosto, não encontro nada, apenas becos escuros com péssima iluminação.
É caminhando que avisto em um beco escuro por conta de um poste queimado e as árvores cobrindo os que funcionam a minha solução.
Um bar.
As lágrimas já se dissiparam quando adentro o local, o cheiro de mofo não me incomoda, assim como a aparência sôfrega do lugar.
Estou me sentando em uma cadeira de madeira apodrecida quando avisto um homem de aparência cadavérica saindo dos fundos com um sorriso que me da calafrios.
"Aceita nossa especialidade? É por conta da casa."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Psicopatas Excêntricos
Mystery / Thriller"Onde não há imaginação não há horror."- Arthur Conan Doyle.