Trigésima segunda regra: Para tudo tem sua primeira vez

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Sexta-feira

Luke chegou na escola com o mesmo humor suicida dos últimos dias. Ele não se sentia bem com absolutamente nada. Se ele pudesse ficaria na cama até o fim da década.

Um tanto exagerado, mas era uma vontade.

Abriu o armário pretendendo pegar seu material, mas acabou encontrando uma carta.

"Michael" — Pensou.

A abriu com pressa, encontrando uma partitura. Escrita a mão, com anotações que tirariam quaisquer dúvida. Piano. Era uma partitura de piano.

"Sala de música, às duas horas"

Seu coração bateu acelerado. Ele veria Michael em algumas horas.

Mais uma vez, os sintomas de uma semana atrás voltaram com todas as forças.

A ansiedade iria consumi-lo, não tinha dúvidas.

.oOo.

Eram duas em ponto, e Luke encontrava-se entrando na sala de música. Desta vez foi na hora marcada, não iria chegar mais uma vez adiantando, como na semana anterior.

Vai que ele encontra um ex-namorado-maníaco-e-psicótico de novo.

As luzes estavam apagadas, apenas uma em cima do piano permanecia-se acesa.

Michael passou por lá.

Andou em direção ao instrumento, posicionou a partitura e procurou pelo banco do piano.

Ele teria que tocar em pé pelo visto.

Suspirou, pôs os dedos sobre algumas teclas e percebeu que estes tremiam. Michael logo chegaria, e isso estava o deixando maluco.

Procurou acalmar-se, e quando sentiu que estava bem, praticou algumas notas. Não sabia se estava no tempo certo, mas torcia que para sim.

Percebeu estar tocando mais lento que o necessário, talvez fosse o nervosismo.

Tocava continuamente, procurando acertar o máximo possível, num determinado momento tinha até se desligado do mundo exterior.

Mas sua atenção voltou ao sentir um corpo junto ao seu, braços rodeando seu tronco com firmeza e uma respiração relaxada em sua nuca e orelha.

Seu corpo travou, consequentemente parando de tocar.

— Toque. — Falou firme, baixo. Luke não era o único nervoso naquela sala. — Continue tocando. — Desta vez pediu um pouco mais gentil, mantendo o volume num quase sussurro.

Agora não só as mãos de Luke tremiam, como seu corpo por inteiro. Michael podia sentir, mas achou melhor não comentar, talvez pioraria.

Hemmings recomeçou a melodia, devagar para não errar.

— Suba uma oitava. — Pediu atenciosamente. Recebeu alguns suspiros descompassados como resposta, ele nem ao menos conseguia falar.

Luke recomeçou a música pela segunda vez, desta vez no tom certo. Um pouco mais lento que o planejado, mas Michael não se importou.

— People say we shouldn't be together
Too young to know about forever
But I say, they don't know what they talk talk talking about.

Michael cantava quase que sussurrando no ouvido de Luke. Sua voz não estava solta e firme como em fireproof, estava mais para quando ele cantou Little Things.

A voz baixa, rouca e arrastada.

— 'Cause this love is only getting stronger So I don't wanna wait, any longer I just wanna tell the world that you're mine

Claro que Luke estava chorando, era inevitável. Ele sentia que Michael se segurava para não o acompanhar e desafinar.

— They don't know about the things we do They don't know about the "I love you" But I bet you if they only knew They will just be jealous of us

Michael o apertou com força, e isso o confortou ainda mais.

— They don't know about the up all nights They don't know I've waited all my life Just to fall in love it feels this right Baby, they don't know about, they don't know about us

Nenhum dos dois aguentava mais. O de olhos azuis parou de tocar virando-se sem desmanchar o abraço. Agarrou o tronco de Michael com força e chorou, permitindo que ele também chorasse.

Luke nunca havia entendido como as pessoas podiam perder noção do tempo ao abraçar as pessoas que amam, até aquele momento. Ele não sabia se estavam abraçados e chorando por segundos, por minutos, ou se haviam se passado horas.

O abraço não poderia ser quebrado, Hemmings nunca havia se sentido tão livre mesmo estando preso, tão seguro mesmo tendo todas as inseguranças. Era como se os braços de Michael tivessem sido feitos para o abraçar.

Luke já havia feito todas as posições do Kama Sutra, mas nunca se encaixou tão bem como havia feito no abraço de Michael.

Clifford foi o primeiro a se mexer, ficando com o rosto frente a frente com o do menor. Levou as mãos ao rosto deste e limpou com o polegar as lágrimas. O outro imitou seu ato, mas não foi muito eficaz, visto que a mão de Michael era muito maior.

Eles não falaram.

Não se mexeram.

Apenas se olhavam.

Olho no olho.

Verde no azul.

Luke umedeceu os lábios, puxando a atenção de Michael para eles. Passaram a encarar os lábios, vendo cada mísero movimento que estes faziam.

O mais velho subiu o olhar, buscando as íris de Michael. E como se sentisse isso, o outro imitou seu ato.

E foi como se a ficha tivesse finalmente caído.

Os olhos azuis encheram-se água novamente.

— Eu te amo. — Sussurrou. — Eu te amo, Michael.

— Eu também te amo.

Pela primeira vez, Luke sentiu os sintomas que todos adoram descrever.

Pela primeira vez sentiu as famosas borboletas no estômago.

Pela primeira vez teve a taquicardia repentina.

Pela primeira vez teve sensação de leveza.

Pela primeira vez ele beijou Michael.



até amanhã  (hoje no caso) rs

No rulesOnde histórias criam vida. Descubra agora