Capítulo 2

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Annielise estava sentada em sua cadeira de sempre, com uma postura meio torta, batendo na mesa com uma caneta e encarando a tela do computador que não continha nada além de um plano de fundo padrão. Estava entediada, mas não se incomodava com isso.

- Boa tarde. - Alguém disse a despertando de ser torpor.

Annie: Boa tarde ... - ela esperou que o homem em sua frente dissesse algo mas este continuou calado. - Deseja algo?

- Tenho hora marcada com seu o Sr. Monteiro. - o homem esclareceu, gentil. - Philip Hall.

- Ah, claro. Me desculpe. - sorriu, tentando esconder o constrangimento. Estava tão distraída que se esquecera de ao menos checar se havia algo para aquele horário - mas geralmente não tinha nada em nenhum horário. Só por cordialidade, ligou para o seu chefe que estava na sala ao lado de sua mesa, o avisando de seu compromisso. - Pode entrar, ele irá recebe-lo.

- Obrigada. - Sorriu sem dentes e entrou pela porta.

Há algum tempo Annielise passou do tipo de pessoa que pensava muito, para o tipo que não pensava quase nada, sobre nada. Mas hoje, especialmente, estava pensativa sobre muitas coisas e se pegou pensando no rapaz que há poucos segundos estava em sua frente.

Pensou em seus olhos pretos, como uma noite escura e totalmente sem estrelas. Pensou em seu terno, que, por seus conhecimentos sobre, era bem caro. Pensou no quão simpático era. Pensou na elegância que exalava até ao andar. Pensou até no cheiro agradável que o perfume do rapaz deixava no ar. Também se permitiu pensar em suas feições, em sua aparência. O homem era bonito, não podia negar.

De tanto pensar, chegou na questão: algum dia sentiria algo novamente? Claro que Annielise sentia. Amava sua família, amava o sol e estas coisas. Mas e o resto? Seria capaz de gostar ou sentir atração por outro homem de novo?

Para ela, agora, eram perguntas tão sem resposta quanto "Como surgiu o universo?". Também tinham a complexidade e luta dentro dela, como com a ciência e religião sobre o assunto.

➿➿

Uma hora depois Philip saiu, deixando o rastro de seu cheiro pelo lugar. Annielise nem deu bola e também não se culpou - como fazia todas as vezes em situações parecidas - por deixar que o perfume impregnasse suas narinas e seu pensamento.

Olhou a hora e pegou no telefone do trabalho, discando um número. Não costumava usá-lo para assuntos pessoais - ok que ultimamente ela não cuidava muito de "assuntos pessoais" -, mas decidiu que hoje iria.

- Alô? - a pessoa do outro lado atendeu nada formal, pelo visto sabia de quem se tratava.

- Oi, Eliese. - Annielise disse, sem graça. A ligação mal havia começado e ela já se arrependia um pouco.

- Aconteceu algo? - a irmã questionou após um momento de silêncio.

- Não é só que ... já se passaram vintes dias e você não ligou, eu só pensei que talvez tivesse acontecido -naquele momento concluiu que estava sendo meio boba, mas continuou ali com o telefone no ouvido na esperança de que Eliese não concluísse o mesmo do outro lado. - Algo, também.

- Eu não liguei antes porquê estou cheia de coisas hoje mas ...

- Estou te atrapalhando? Ah, eu, desculpe, eu só... eu vou desligar. Faça suas coisas, ligo outro dia, outra hora. - Annielise disse, já totalmente arrependida. Claro que a irmã estava ocupada, tem um trabalho de verdade.

- Você e sua mania de me interromper. - Eliese suspirou do outro lado da linha. - Mas principalmente - continuou seu pensamento anterior - porque pensei que não quisesse falar comigo depois que eu ... - se calou, parecendo buscar pela coisa certa a dizer - que eu me exaltei aquele dia.

- Bem, eu não queria. Mas você disse uma verdade, o que eu posso fazer? Não vou me privar de conversar com minha irmã mais velha.

- Claro que não, até porque eu sei que você não aguentaria muito sem mim. - brincou, fazendo Annielise rir e deixando toda a tensão de lado.

A ligação se estendeu por um bom tempo. As duas falavam de coisas totalmente aleatórias, tiravam sarro uma das outra e faziam brincadeiras bobas, como toda boa dupla de irmãs. Mas algo interrompeu, era uma voz ao fundo da ligação.

- Annie, eu preciso ir, é realmente importante. Vai ficar bem? - sua voz passava culpa a quem ouvisse, realmente queria ficar o resto do dia com a irmã ao telefone. Então Annielise entendeu, a vida precisava seguir após alguns minutos parada.

- Claro. Vai lá e... até mais. - ela riu, só por rir, só porque sentia vontade e desligou.

E Eliese sorriu genuinamente do outro lado, o "até mais" era uma promessa, uma promessa de que as duas voltariam a se falar, era mais do que ela havia conseguido em anos e não havia melhor sensação.

Aquele dia passou especialmente rápido e quando Annielise se deu por conta já era hora de ir para casa. Ela apenas se levantou e foi, como todos os dias.

➿➿

Essa não é umas história de amor normalOnde histórias criam vida. Descubra agora