Annie: Eu sou tão feliz por ter você. —sorri, deixando a mão cuidadosamente no joelho do homem ao seu lado e apertando levemente, enquanto o observava dirigir.
- E eu mais ainda por ter você. — ela se estica e dá um beijo em seu pescoço. — Me desculpe por não ter percebido que te amava antes.
Annie: E isso é realmente relevante agora? — ela diz depositando as mãos na barriga e sem deixar de encará-lo. A cumplicidade naquele olhar já dizia muito por si só, então nada precisou ser dito depois.
Ele voltou os olhos para a estrada e ela pôde ver o momento exato em que uma lágrima escorreu de seus olhos e caiu junto com seu sorriso. Ela sorriu também, sentindo os olhos marejarem e agradecendo a Deus por tudo estar bem agora.
Annielise acorda assustada, suando frio e com lágrimas descendo dos olhos. A conclusão era óbvia: mais um de seus pesadelos que perturbava de maneira inexplicável seu psicológico que nunca foi muito bom.
Ela direcionou seu olhar para o relógio no criado mudo ao lado da cama. 4:56 da manhã. Nem sempre que o despertador toca quer dizer que ela acorda com ele, às vezes só está esperando algo forçar que ela se levante e siga.
Geralmente Annielise convivia bem com a dor, enquanto estava no trabalho — mesmo sempre entediada — e enquanto estava dormindo. Mas, momentos como esse, onde ela acordava de madrugada arfando a falta de dele... doía demais. Eram como cortes com faca até os ossos. Então, só deixava que as lágrimas descessem, lavando um pouco da dor que a corroía até a alma.
Não é como se adiantasse, mesmo porque a dor era permanente, não importa em que momento, sempre estava ali. Porém, Annie gostava de acreditar que a cada dia doía um pouco menos; aquelas mentiras que contamos a nós mesmos para que possamos, nem que por um segundo, acreditar.
Depois de muito tempo olhando para o teto pela primeira vez em muito tempo desejou que algo realmente acontecesse de bom para ela, que algo mudasse. E então o despertador tocou e tudo virou realidade novamente. Claro que tudo seria igualmente normal hoje.
Com tudo pronto Annielise se olhou no espelho. Só tinha 25 anos, mas suas olheiras, seus cabelos ressecados e mal cuidados, sua pele, sua magreza, suas unhas... tudo indicava muito mais que isso. Até seus olhos e cabelos que eram seus motivos de maior orgulho estavam mortos, sem brilho. Não continha mais nenhum tipo de expressão, estava sempre com o sorriso para baixo. Nada estava bem, sempre soube que havia se descuidado por um tempo, mas agora, se olhado assim atenta a todos os detalhes, percebeu que seu corpo gritava por atenção. Atenção esta que a mesma havia negligenciado por muito tempo.
•••••••
Eram nove da manhã quando Philipe chegou, era a terceira vez naquela semana. Era estranho, o senhor Monteiro nunca recebia visitas repetidas, muito menos tão bem vestidas e formais. Mas Annielise deixou esse pensamento de lado e focou em continuar fazendo algumas planilhas que o chefe havia pedido, o que quer que fosse, não era da sua conta.
- Sai comigo. — Disse simples, se sentando na cadeira à frente da mesa de Annelise.
A mesma, que estava concentrada no computador, levou um susto. Porém, logo se recuperou o encarando.
- O que? — Franziu o cenho, pensando ter ouvido algo errado.
- Sai comigo. Um jantar. Almoço. Ou até um lanche se quiser. — Deu de ombros confiante.
- Não. - Negou, simples, e voltou para o que estava fazendo.
- Tudo bem. - Se levantou e saiu tão de repente quando chegara.
Annielise se recostou em sua cadeira e se deixou relaxar. Ela o viu três vezes na vida e as únicas falas que haviam trocado eram "pode entrar", "obrigado", e coisas do tipo, e mesmo assim ele a convidou pra sair, inacreditável!
"Ele me convidou pra sair", pensou, dando um sorriso meio torto. Era estranho ver alguém se interessando por ela quando nem a própria se interessava. Mas era só isso. Sabia que era parte de seu ego falando.
Mais tarde naquela dia seu chefe a chamou em sua sala, seu tom era de preocupação e talvez até um pouco de tristeza. Não deu tempo de Annelise soltar o ar que segurava quando ele começou com um pesar na voz:
- Você está demitida. - Ele disse, simplesmente.
- O que? Por que? - Annie piscou, franzindo a testa e se perguntando se realmente ouvira direito.
- Eu preciso, querida.- E ele foi terno, paciente, parecia até triste. - Eu vendi a empresa. Esse era o trabalho da minha vida e agora não o tenho mais. Eu sei que a gente mal se mantinha de pé, mas tudo estava no prazer de fazer, entende? E agora não tenho... nada.
E Annielise entendia. Como entendia. Mais que ninguém ela sabia a dor daquele homem em perder sua empresa, em ter que seguir em frente de outro jeito, mesmo tendo planejado sua vida baseada naquilo que amava. Então ela se sentou na frente dele sem ter realmente algo a dizer.
- Eu... sinto muito, sr. Monteiro. - Disse, por fim, soltando o ar que estava preso desde que entrara ali.
- Foi o melhor a se fazer. E obrigada por esses anos que se dedicou a mim, eu sei que você merece muito mais que isso e é muito mais inteligente que eu, só nunca entendi como veio para aqui.
- Eu também perdi tudo um dia. Foi o senhor que me deu alguma perspectiva para acordar, eu que agradeço. - Disse, sorrindo de canto.
A conversa não se estendeu. Naquele dia Annielise apenas saiu dali, não carregava nada, mas seus pés pesavam uma tonelada. Ela tinha estabelecido uma rotina, uma rotina na qual não tinha tempo suficiente para ficar sozinha com seus próprios pensamentos e agora tinha perdido isso também. Quantas coisas precisaria perder até tudo ficar bem?
Caminhou a esmo pelas ruas e todos aqueles prédios pareciam querer engoli-lá, era estranho como volta e meia esses sentimentos ruins voltavam a se estabelecer. Mesmo assim parou em um supermercado. Pegou a primeira comida congelada que viu, pagou com os poucos dólares que lhe restavam e se direcionou para seu apartamento novamente, de forma automática.
Naquela noite ela comeria e adormeceria pensando que teria que acordar no dia seguinte e lidar consigo mesma por muito tempo.
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Essa não é umas história de amor normal
RomanceQuantas coisas precisaria perder para tudo ficar bem?