Capítulo 4 - Naufrágio

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Nenhum sobrevivente? – perguntou Marko, amarrando o barco no atracadouro.

Teodor o fitou com desconfiança. Marko devolveu o olhar.

– Enviei meus melhores homens para checar. Tudo o que encontraram foram corpos e caixas à deriva.

Os primeiros raios de sol irrompiam no céu, mas toda a aldeia já estava de pé para avistar de perto o que restara do navio que naufragara na noite anterior. Com a neblina, tornava-se cada vez mais difícil enxergar os destroços que surgiam no litoral.

– A pesca será interrompida pelo resto do dia, talvez até mesmo amanhã. Toda essa confusão afugentou os peixes da costa.

– No que podemos ser úteis, Teodor? – perguntou Filip, torcendo as roupas encharcadas.

– Fazendo qualquer outra coisa. Meus homens cuidam do resto – respondeu, sem desviar o olhar do mar.

Marko insistiu.

– Como não podemos pescar, queremos ajudar a carregar as caixas com os outros.

– Já disse que não. Deixem-nos.

Marko pensou em retrucar, mas Filip o puxou pelo braço.

Afastaram-se da costa e passaram por entre o grupo de homens que trabalhava no resgate da carga do navio. Alguns dos outros pescadores que avistara no dia anterior atracavam na costa, seus barcos abarrotados com pedaços do navio e caixotes quebrados. Poucos eram os itens que se mantiveram intactos – caixas repletas de raízes e legumes, barris de cerveja e ferramentas diversas.

Encontraram Orson mais além da costa, coordenando a operação.

– Vejam só todas essas provisões – disse-lhes, apontando para uma pilha de batatas, repolhos e feijões. – A maioria das coisas se perdeu no mar ou chegou arruinada, mas o que salvamos pode nos alimentar por algumas quinzenas. Tivemos muita sorte.

– Depende do seu ponto de vista. Os marinheiros não tiveram sorte alguma – completou Marko.

Orson abaixou a cabeça, encabulado. Marko aproveitou o momento para tirar da consciência um peso que lhe assolava desde o dia anterior.

– Gostaria de lhe perguntar algo. – Marko fez sinal para que o rapaz e Filip se aproximassem.

Orson concordou com a cabeça.

– Ontem à noite, eu me perdi durante o temporal. Quando percebi onde estava... – e apontou para o templo no topo da encosta.

Filip olhou-o com surpresa, mas se manteve quieto.

– Onde quer chegar? – perguntou Orson, olhando por cima dos ombros de Marko, à procura de algum intruso.

– Lá dentro eu encontrei alguém... Uma senhora esquisita.

Orson empalideceu, como se pudesse desmaiar a qualquer momento.

– Ah... sim, claro – disse, pausadamente. – Acho que se refere a...

– Vamos, rapazes, não temos o dia todo. – Teodor surgiu atrás de Orson. – Por que parou de trabalhar, meu caro?

Orson se sobressaltou.

– Te-Teodor, só tava papeando – desconversou, tremendo de susto. – Eu expliquei para eles como somos sortudos em arranjar todos esses suprimentos.

– Pois podem mudar de assunto. Entregaremos ao Dom tudo o que recuperarmos – respondeu Teodor, como se aquilo fosse óbvio. – Ele decidirá o destino da carga.

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